Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCCXXXI)

Pinhel, 27 de março de 2042

Foi preciso chegar a septuagenário para se reacender a chama de alguma “fé pedagógica”. No março de há vinte anos, a pasta da Educação foi entregue a um João, elevado a ministro de um governo de maioria absoluta. 

Vai para uns trinta anos, o amigo Nóvoa afirmava que pela via de reformas reformadas, tudo continuaria igual. E que o bem da humanidade ia muito para além dos interesses e benefícios pessoais. Que nada poderia ser pensado apenas à luz do tempo imediato, mas colocado à vista de um futuro, que não dispensava os educadores das responsabilidades no presente.

E Morin assim resumia a situação: 

“A sociedade produz a escola, que produz a sociedade. Desde logo, como reformar a escola, se não se reforma a sociedade? Mas, como reformar a sociedade se não se reforma a escola?” 

Em pleno contexto da quarta revolução industrial, as medidas de política educacional continuavam a reproduzir um modelo de ensinagem caraterístico da primeira. O dito “sistema” continuava à deriva, deixando para os vindouros um rastro de reformas fósseis. O novo ministro, beneficiando do fato de exercer o seu mandato num governo de maioria absoluta, iria permitir que se adiasse a mudança necessária e urgente?

Reagi a uma publicação que o amigo António deixou no Facebook:

“Se o João ousar fazer o que é preciso que se faça, irá encontrar muitos obstáculos num monstro burocrático que dá pelo nome de “Ministério da Educação”. Precisará de ajuda”.

Ao que o meu amigo respondeu:

“Amigo Zé, há muita gente que pode e está disponível para o ajudar. Acreditemos, tenhamos paciência e confiança na sua capacidade de ação. Eu acredito que o João é capaz disso, com a inteligencia e a sensibilidade que o caracterizam”.

E a Manuela, a minha inspiração do Movimento da Escola Moderna, acrescentava:

José Pacheco estou de total acordo. o monstro burocrático é enorme e o que o JC vai encontrar pela frente não lhe vai dar uma vioda fácil, mas ainda bem que foi o escolhido”.

E o António completou a troca de mensagens:

“Estimados Zé e Manuela, desmantelar o “monstro burocrático” é algo que faz parte das reformas de fundo, que o nosso ministro da educação tem pela frente. O António Costa referia, em 2021, na apresentação do Plano de Recuperação e Resiliência: 

“O Estado, para ser forte, tem de ser ágil e leve. (…) O Estado tem de libertar-se da burocracia”. 

Para tal, entendo que, como não me canso de referir e está escrito: “todas as estruturas do ministério da educação (administração central, regional e local) devem ser sujeitas a uma auditoria de sistema, desburocratizando, refocalizando funções e melhorando os quadros de pessoal (renovação, rejuvenescimento e incidência do trabalho na sua missão).” 

Como tal, espero que a maioria absoluta que o PS obteve não signifique mais “jobs for the boys” (tomada da administração pela estrutura partidária), nem a manutenção “ad-eternum” de pessoas nos cargos de ocupam (8 anos para mim é o limite das chamadas comissões de serviço). 

Conclusão: este é um dos muitos desafios de João Costa tem pela frente. A expectativa em torno da sua ação é grande, de facto. Por isso, a sua responsabilidade é ainda maior. Mas, acredito que ele e a sua equipa (também renovada, espero) conseguirão ter sucesso”.

Pouco antes da nomeação do João, o António publicara um livro com o título “RECRIAR A ESCOLA PÚBLICA, REFUNDAR O SISTEMA EDUCATIVO”. Seria uma obra premonitória? Seria mais um livro para agonizar no arquivo dos sem serventia? O que fosse, quando fosse, é que seria o que fosse, pelo que completei a troca epistolar com um conselho: “Oremos”.

 

Por: José Pacheco

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