Lisboa, 19 de maio de 2024
E chegou o dia em que se deu pala falta de… professores.
A opinião pública criticava o ministério. O ministro reunia com especialistas, para resolver a grave situação. O Conselho Nacional de Educação promoveu um seminário “Faltam professores! E agora?” Pedi que me enviassem as atas do seminário. Vos direi o que elas continham. Por agora, apenas algumas considerações à margem do debate.
No tempo em que as preocupações se voltavam para a caça aos professores. deparei com uma situação bem peculiar, detectei realidades, que escapavam ao controlo do ministério. Em alguns municípios sobravam professores. Até encontrei um município em que a ratio aluno-professor era de dois ou três para cada professor. Isso mesmo! Em 2042, é difícil acreditar que houvesse dois ou três alunos para cada professor. E se dizia haver falta de professores…
Nesse, como em outros municípios m vias de desertificação, não tardaria que os dadores de aula consumassem o máximo absurdo do instrucionismo e viessem a dar aula para as paredes. A insólita situação me levou a recordar um tempo em que abundavam “professores de horário zero”. Sabeis o que isso é? Nem eu.
Na outra margem do oceano, o problema se colocava de outro modo e até havia quem apontasse soluções:
“Rotina em muitas escolas, o absenteísmo afeta o projeto pedagógico. Saiba como minimizar o problema.
Correndo até a sala do diretor, a coordenadora pedagógica traz a má notícia. Mais uma vez, sem avisar, dois professores faltaram. Mais de 60 alunos estão largados nas salas de aula. O problema, que deveria ser uma exceção, faz parte da rotina das escolas brasileiras e é um dos desafios que o gestor tem de enfrentar para evitar atrasos na aprendizagem. Mas como impedir que o absenteísmo comprometa o projeto pedagógico e atrapalhe os alunos?
A resposta está em dois pontos cruciais para uma boa administração escolar: no planejamento e em uma eficiente gestão de pessoas – que inclui muita conversa com os faltosos para reduzir as ausências (veja no quadro abaixo sete dicas práticas para conduzir a conversa com os docentes que mais faltam)”.
Poupar-vos-ei à leitura do “quadro”, por ser o seu conteúdo um verdadeiro ataque à inteligência. A “falta de professores” era uma falsa questão. Mas, os habituais comentadores assim se pronunciavam:
“Interessa encontrar soluções que permitam reverter a situação criada, considerando que ainda há professores que não obtêm colocação, que a atratividade da profissão é baixa e que o número dos que vão concluir os mestrados que conferem habilitação para a docência poderá não ser suficiente para suprir as necessidades”.
A todo vapor, se deveria produzir docentes instrucionistas. Não passava pela cabecinha dos burocratas que houvesse outros modos de agir. O ministério tinha um problema para resolver. De certo modo, havia razões para preocupação, mas essa já vinha de longe. Efetivamente, escasseavam professores e sobravam os dadores de aula.
A profissão de professor continuaria, ainda por alguns anos, solitária e negativamente competitiva. Até à década de trinta, ainda se manteve o regime hierárquico, o regime de castas caraterístico da funcionarização dos docentes. Os professores estavam “escalonados”, recompensados pelo Estado em função do tempo em que lhe fossem leais servidores.
Entre a uniformidade imposta pelo ministério e a mesmice consentida pelas escolas, se eternizavam práticas divisionistas. Não seria um escândalo que um professor auferisse o dobro do vencimento de outro, que prestava, exatamente, o mesmo serviço?
Por: José Pacheco
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