Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CMXXVIII)

Leiria, 7 de julho de 2042

Neste dia de há vinte anos, deixava Leiria, a caminho de terras nortenhas. Privava-me do extremoso saber cuidar da Professora Luzia e da companhia da minha amiga Andreia. Levava na bagagem uma boa surpresa, a de ter encontrado mais uma diretora de agrupamento de escolas, que desempenhava o seu cargo com dignidade. Ainda guardo uma mensagem que dela recebi, há uns vinte anos:

“Quero apenas dizer-lhe que estou muito grata pelo facto de o ter conhecido, pessoalmente, ontem, numa das minhas escolas. Tenho a esperança de podermos caminhar, juntos, na construção de uma escola mais humana e humanizada que se (pre)ocupa, efetivamente, com as pessoas (…) “Designer educacional, Aprendiz de utopias”. Como estas palavras fazem sentido para mim, que tive a oportunidade de aprender com as ciências da educação, aquando do mestrado e doutoramento que fiz na nossa universidade”.

Isso mesmo! Tal como eu, a Adélia era cientista da educação e se respeitava como tal. Nessa qualidade, agia em conformidade com aquilo que aprendera na Faculdade de Ciências da Educação. 

Quem nos dera que, nesse tempo, houvesse mais cientistas da educação como ela! Eram raros. A maior parte dos licenciados, mestres e doutores dessa área renunciavam a sê-lo, ajustavam-se ao “sistema”, pactuavam com inúteis inciativas de política educacional. 

E lá fui eu, em mais uma etapa de um longo périplo pelo mundo das escolas. A caminho de Gaia, refletia sobre a importância, ou a desimportância dos cientistas da educação. A Escola da Modernidade havia contribuído para a degradação moral, intelectual e socioambiental. E Gaia reagia….

Na mitologia grega, Gaia é o nome da deusa da Terra, companheira de Urano e mãe dos Titãs, a personificação do planeta Terra, que é representada como uma mulher gigantesca e poderosa. Em homenagem à deusa grega, a Teoria de Gaia (também conhecida como “Hipótese de Gaia”) descreve a Terra como um organismo vivo com capacidade para manter e alterar suas condições ambientais. 

Apesar dos desastres ambientais, a biosfera e os componentes físicos da Terra ainda permaneciam integrados, formando um complexo sistema, no qual as reações do planeta às ações humanas não eram mais do que respostas autorreguladoras desse imenso organismo vivo. 

Nesse conturbado tempo, sozinha, talvez Gaia não conseguisse resolver a delicada situação. Talvez tivesse que contar com uma ajudinha de humanos envolvidos na produção conjunta de conhecimento, vizinho a vizinho, numa fraternidade aprendente… em comunidade.

O Mestre Agostinho o tinha intuído. Se lhe afigurava como incontornável, mais do que apontar caminhos de redenção de um modelo educacional concebido aquando da revolução industrial, empreender o caminhar. Enquanto permaneceu em terras do sul, criticou as nefastas influências europeias e americanas, num Brasil que tardaria em afirmar o seu próprio universo cultural, muito por culpa dos seus eruditos intelectuais que iam importando modelos do estrangeiro, tanto na política como na academia. 

Questionou ideias de falso progresso, o triunfo de uma ciência pouco humanista. As escolas – dizia Agostinho – estavam completamente erradas, senão quanto ao presente, pelo menos no que haveria de ser feito pelo futuro. Eram escolas de ensinar, escolas de repetir, quando deveriam ser escolas de criar. 

Precisávamos de gerar conhecimento que gerasse vida. Que os sábios descessem aos infernos das escolas e que os professores, que nelas habitavam e sofriam, fossem ajudados a despertar de um longo sono em berço esplêndido.

 

Por: José Pacheco

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