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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CMXXXV)

Azoia de Cima, 15 de julho de 2042

Estava a chegar ao fim o longo périplo português de 2022. Passara por dezenas de lugares onde uma nova educação surgia. Dava por bem empregado o tempo gasto em viagens e reuniões, pois nessas andanças, a Vida me deu a conhecer extraordinários seres humanos. Entre eles, uma Ana, tão generosa como outras mães, que conheci, mas um pouco mais…

Com a minha amiga Mariana, eu combinara realizar um daqueles encontros virtuais dos idos de vinte, de que talvez vos recordeis e que nos levavam, de vez em quando, a dizer “Caiu!”? Pois foi num desses encontros que tive ensejo de encontrar essa Ana, que se ocupava em estudar a consciência em harmonia. Com ela, desfrutei da possibilidade de descobrir mais uma das minhas ignorâncias e de aprender.

A Sofrologia era uma ciência criada por um neuropsiquiatra colombiano de nome Alfonso Caycedo, que “conseguiu que as pessoas pudessem passar de uma consciência patológica para uma consciência sofrónica”, na qual pudessem viver o fenómeno extraordinário que elas são (“um tesouro único”) e maravilharem-se com isso. Caycedo definia um sofrólogo como um “pedagogo da existência”.

Nas palavras da Ana:

“Com a prática (e porque na sofrologia o corpo passa pela vivência) muda-se a forma como se vê a vida, os outros e, naturalmente, a forma como cada um se vê a si mesmo. No fundo, a sofrologia permite que cada um possa desvelar a sua consciência, conhecer-se melhor, gerir stress, fazer escolhas alinhadas com a sua natureza.

As atitudes, as escolhas, a relação com o mundo transforma-se honrando os valores profundos da existência. A sofrologia tem um método que leva ao saber ser. Isso leva tempo, prática, repetição, é certo. Mas, quando conquistado é duradouro, eficaz e muito consistente. Em Portugal, já existem alguns professores sofrólogos (poucos, mas bons) e algumas crianças a praticar sofrologia caycediana. 

Acredito que se a sofrologia fizesse parte da vida dos professores, eles seriam pessoas mais equilibradas, mais realizadas, e a escola outro lugar para as crianças, porque as escolas são as pessoas.

Sou uma mãe que teve sempre interesse nestes temas talvez por ter tido a sorte de ter uma avó e um pai professores. Ontem levei comigo o meu pai e hoje levo-o novamente e acrescento o marido e a filha de 8 anos (aquela que pensa tirar um ano sabático entre o 4º ano e o 5º ano).

Ontem quando o ouvi naquela pequena simulação, quando nos mostrou como passar do ser para o fazer, não pude deixar de pensar que no meu trabalho ensino como passar do fazer para o ser… Que coisa tão curiosa esta complementaridade!

Grata por dispensar o seu tempo a ler estas palavras. Desculpe se me alarguei, mas faço-o por ser uma apaixonada por aquilo que faço e porque vejo, todos os dias, adultos a relembrarem-se quem são, com os olhos brilhantes de entusiasmo, vivos.

Um grande abraço de gratidão por tudo o que tem feito pela humanidade.”

Queridos netos, pensei retirar da transcrição do email da Ana, a última frase. Decidi que ficasse, só para avaliardes a dimensão da humildade da Ana. Por mais que o vosso avô fizesse, ou tivesse feito, ficaria muito aquém daquilo que a Ana e outras extraordinárias mães fizeram pelos seus filhos.  

Quarenta e seis anos após um primeiro impulso inovador, brotavam novos focos de transformação. A Ana viria a abrir novas portas de sabedoria e a facilitar o surgimento de novas práticas educacionais.  

No mês seguinte, atravessei o mar, ao encontro das Anas brasileiras. Com a certeza de que, quando voltasse, encontraria um país melhorado pela generosidade das Anas portuguesas.

 

Por: José Pacheco

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