Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLVIII)

Papucaia, 26 de fevereiro de 2043

A nova coordenadora chegou e logo perguntou:

“Onde é a sala do oitavo?”

Foi-lhe explicado que, ali, não havia “sala do oitavo”, pela simples razão de que não havia sala de aula, nem “oitavo ano. “Por que deveria haver “oitavo ano?”

“Mas eu não sei trabalhar assim.”

“Então, terá de aprender.”

Nos círculos de aprendizagem, todo mundo aprendia. 

No diálogo com a Edna, a Márcia e o Gilberto, teve início novo ciclo de aprendizagem. As nossas crianças foram matriculadas na escola mais próxima da residência, como mandava a Lei. E os professores dessa escola mostravam-se sensíveis a um diálogo construtor.

No fevereiro de vinte e três, havia mais de uma dezena de “turmas-piloto”. Círculos de vizinhança e de proximidade despontavam e a inovação acontecia. Apenas faltava publicar a normativa de criação de uma escola pública com a designação de “comunidade de aprendizagem”.

A criação desse tipo de escola já não era “novidade”. Meia dúzia de anos antes, a equipe de projeto do CEF 04, realizava reuniões com famílias da comunidade do Paranoá. E assim nos dirigíamos ao amigo Júlio, Secretário de Educação do Distrito Federal: 

“Conforme acordado em reunião realizada no dia 24 de outubro de 2016, encaminhamos o projeto para constituição da Comunidade de Aprendizagem do Paranoá (C.A.P).” 

Pouco tempo depois, a C.A.P. era criada. Um centro de eventos abandonado foi a sua primeira “ágora”. 

O secretário de educação seguinte (o Rafael), fez publicar uma portaria, instituindo o “Grupo de Trabalho para a proposição de Diretrizes de Política Pública para a implantação e implementação de Comunidades de Aprendizagem na Rede Pública de Ensino do Distrito Federal”.

E eu para aqui a contar-vos estórias, tentando redimir-me de não vos ter contado outras estórias, no tempo em que fostes crianças… É para relembrar momentos, que poderiam proporcionar novo rumo à triste educação que, nesse tempo, se fazia. Para vos dizer que, na Brasília desse tempo, havia gente moral e eticamente corrupta, que conseguiu suster um movimento regenerador, que só voltou a tomar forma em 2023.

Os burocratas eram matreiros, mas as experiências malsucedidas ensinaram-nos a “jogar ao gato e ao rato” com corruptos. A formação experiencial adquirida foi suficiente para que não voltássemos a “errar nos cálculos”.

Os círculos de aprendizagem não tinham nome de educadores falecidos, nem de personagens da história. Muito menos de políticos e coronéis! Assumiam o nome dos lugares onde as ágoras nasciam. Assim, surgiram os círculos da Lagoa das Amendoeiras, o da Orla do Marine, do Bosque de Itapeba… do Paranoá.

Conscientes da necessidade da assunção de autonomia e por ser necessário operar mudanças no campo da legislação, entregámos aos órgãos de administração contratos e termos de autonomia. E, em cada círculo, foram criados núcleos documentas, acervos constituídos por vídeos, livros, revistas de divulgação de práticas educacionais potencialmente inovadoras. Gestamos projetos de desenvolvimento humano, na consideração do educador como sujeito de transformação em equipe, envolvido num projeto de comunidade, na partilha da responsabilidade, privilegiando a participação de todos no ato de aprender. 

No nosso núcleo documental, lemos estórias de projetos destruídos. Estudando-os, estudamo-nos, para escaparmos à sina das perdas e danos. Sempre acompanhados pela inesgotável fonte de inspiração do Mestre Pedro e seus conselhos: 

“Os dados assustam, porque são terríveis. Mais terrível ainda é persistir nesta rota.”. 

 

Por: José Pacheco

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