Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXIV)

Inoã, 14 de março de 2043

O amigo Valdo retornava da “V Conferência de Alternativas para uma Nova Educação” encantado e esperançoso com tudo o que viu e viveu. E se perguntava: 

“Como é que, num país com tantas experiências altamente exitosas de *Educação Democrática e Humanizadora*, a educação formal implementada nas escolas, instituições, em todos os níveis, continua a ser robotizante e castradora? 

E, pior! Tentam mantê-la com diversionismos, manipulações e sistemas que chamam de “inovadores”, tais como: militarização, atrativos eletrônicos, ‘pedagogias ativas’ (neologismo usado para tudo o que se vende) e outras bobagens.

Não importa! O mais importante é que, apesar de tudo, os movimentos sociais e populares continuam a avançar e a construir e constituir uma outra Educação.”

Quem, como eu, tinha amigos como o Valdo poderia manter-se esperançoso. Um pouco por todo o país (e em Portugal), a vitalidade de projetos de mudança se afirmava. Só faltava… mudar.

Não se creia que somente o Valdo se mostrava otimista. Outros educadores amigos, outras amigas se manifestavam, juntando ao otimismo um condimento da esperança – o senso crítico. Como a Ilana se pronunciava no contraponto de uma das minhas cartinhas:

“Se fosse somente isso, simples assim, tarefa estaria cumprida por aqui. Criando filho, livros escritos e lidos por outrem, milhares de árvores plantadas, regadas, cuidadas. Mas a vida nos tem pedido mais. 

Fizemos tanta bagunça, que é preciso ir muito além. Educar para que todes – crianças, jovens, adultos, idosos – plantem árvores. Não uma, mas muitas! Para que não as derrubem; para que escrevam livros, sim, mas que façam mais do que falem, que ajam mais do que teorizem, que se posicionem e colaborem com as mudanças necessárias, com seus talentos individuais; que tenham ciência e consciência de que suas ações afetam feito flecha as próximas crianças, os filhos dos filhos que o mundo traz à luz. 

Ah! Feliz do tempo em que bastaria, para a realização pessoal, essa tríplice lista de afazeres, como se não houvesse amanhã. Ou será que sempre foi como agora é, mas o senso de urgência era menor e todo mundo jogava a responsabilidade para as próximas gerações?”

A Jane se juntava ao coro de comentários:

“Para o rompimento deste círculo vicioso, é preciso colocar em discussão e em possíveis práticas, o que já foi acumulado. Daí, infelizmente, penso que só indo para o institucional, oficial mesmo, como o MEC, secretarias de educação, universidades.

A oficialização é importante para dar um caráter real para a proposta. Não me sinto atraída a investir minha energia, por exemplo, em discussões que vêem esta escola organizada em comunidades de aprendizagem como algo alternativo, que funcionará paralelamente ao sistema, com recursos próprios, angariados com uma trabalheira insana e que muitas vezes não garante segurança à continuidade dos projetos. Ou a discussão e a prática das comunidades de aprendizagem fazem parte de um projeto de país ou… Ou é só sonho E sonho como disse o sábio Lennon, acabou, pelo menos os muito românticos.”

Pois é, cara Jane!… O amigo André arriscou ser secretário de educação, sonhou concretizar um projeto de município e de país, e perguntava:

“O que aconteceria, se alguém tivesse a coragem necessária para propor uma doce revolução? Estamos devendo a nossa a todas as crianças brasileiras”.

O André anunciou reformas e acabou demitido do cargo que ocupava.

O amigo Tião assim comentou a desdita do André:

“As revoluções não são anunciadas, mas feitas, caro André! Precisamos fazê-la e não anunciá-la!”

 

Por: José Pacheco

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