Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXLI)

Nascentes de Luz, 21 de maio de 2043

Não será, certamente, leviano que eu afirme, à Monsieur de La Palisse, que educador é aquele que educa. É aquele (ou aquela) que exerce uma práxis coerente e, enquanto fundamenta a prática com o quanto baste de teoria, contribui para a melhoria da educação. 

Nos idos de vinte, muitos desses educadores havia. Não colhiam o devido reconhecimento pelo conhecimento que produziam, pois esse conhecimento não era “publicado” nem “divulgado” nos meios acadêmicos. Os seus projetos soçobravam por carecerem de sustentabilidade financeira. Ou sobreviviam à míngua de restos de financiamento e do que sobra de opulentos gastos com congressos e quejandos. 

Teoricistas recebiam os louros devidos ao afã dos chamados “práticos”. Pilhavam esses projetos e deles se apropriavam, para os vender em ações de formação, ou os verter em teoricistas teses. O farisaísmo campeava no reino da educação e abútricas empresas lucravam com a situação.

Em seminários e reuniões afins, plateias compostas por professores aclamavam falastrões que lhes ensinavam como deveriam agir em sala de aula. Porém, se esses falastrões fossem colocados em sala de aula, não saberiam realizar aquilo que diziam que os professores deveriam fazer.

Nesse tempo, as práticas efetivas eram contraditórias com o teor dos projetos político-pedagógicos. A ensinagem não contemplava a aprendizagem da vida. Retirava as crianças do mundo, da realidade, confinando-as em prédios com salas de aula fechadas, por vezes rodeadas de grades. 

A escola ensimesmada, que ainda tínhamos era uma forma “modernizada” de socialização do saber, era monológica, monocultural, sem incorporação de diálogo com os saberes circulantes. Mesmo essa escola poderia constituir-se em locus de criação de comunidades, se a identidade difusa que as caracterizava, desse lugar a interações com significado e viesse a contribuir para um desenvolvimento humano sustentável. 

Buber dizia existir uma constante renovação entre o real e a representação do real, que fazia com que o elo fundante de uma comunidade estivesse para além do campo dos dogmas e das regras. Buber falava-nos de uma lei intrínseca da vida, de um processo criativo, em permanente fase instituinte, que respeitava as tensões entre subjetividades. Talvez, então, pudéssemos concluir que a escola com projeto (e que cumprisse o seu projeto…) pudesse ser espaço e tempo de construção de comunidades. 

Um projeto humano sempre foi um ato coletivo e em permanente fase instituinte. A escola poderia ser um lugar, entre outros, de emergência de comunidades de aprendizagem, agindo como um dos nodos de uma rede social física e virtual, possibilitando a partilha de conhecimento real ou virtual, redesenhando mapas e trajetos da aprendizagem. Escolas são pessoas. E aquilo que faz das pessoas comunidades são os valores, as necessidades, os sonhos e até mesmo os problemas que elas partilham.

A transformação ou a reconfiguração das práticas, pressupunha a substituição do frontal passivo, centrado no professor, por um relacional ativo centrado na rede. Nesse frontal ativo sem centro (ou com o centro numa relação de vínculo) se desenvolvia um currículo subjetivo harmonizado com um currículo de comunidade. 

O currículo era uma construção social. Através da participação na construção do currículo, a pessoa exercitava a vida em sociedade. E, se a sociedade decidisse fechar escolas?

Para evitar que escolas com poucos alunos fossem extintas, extinguindo aldeias, criamos círculos de aprendizagem.

Deles vos falarei. 

 

Por: José Pacheco

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