Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLX)

Novas Rotas, 9 de junho de 2043

Que gente maravilhosa aquela das Novas Rotas! Que extraordinários educadores. Ao cabo de muitos anos de resiliência e sofrimento, a minha amiga Conceição já poderia “ausentar-se” do projeto sem dele se desligar, porque a proposta de contrato de autonomia já esboçava futuras novas construções sociais. E eu também ficava tranquilo, cônscio do potencial inovador do projeto e do comprometimento de pais e professores. Prometi voltar.

Pretendo, em breve, contar-vos estórias de projetos, que marcaram ma época. Esta cartinha, vos deixo uma “introdução” à estória do projeto Novas Rotas. Para que saibais, era (e ainda é) uma escola pública, integrante da EBI Capelas, da Ilha de São Miguel, que acreditava e praticava aprendizagem em comunidade. 

O projeto assentava nos pressupostos teóricos da educação holística, na Lei de Bases do Sistema Educativo e do Currículo Regional dos Açores, e teve por inspiração o projeto da Ponte e o do Projeto Âncora.

Em 2012, a Conceição levara colegas educadores à Ponte. Para o efeito, professores, alunos, assistentes operacionais e encarregadas da educação promoveram uma angariação de fundos. Organizaram jantares, lanchinhos, rifas, mercadinhos, feiras de usados, arrematações, lavagem de carros, venda de produtos hortícolas…

Regressados aos Açores, deram início ao projeto “Sementes para o Sucesso”, que visava introduzir alterações ao nível da gestão pedagógica, de espaços de aprendizagem, na avaliação e nas metodologias.  

Os pais dos alunos tinham assinado um “compromisso de adesão ao projeto”. Mas, apesar de ter sido sancionado cientificamente por especialistas da área das Ciências da Educação, o projeto não foi aprovado pelo Conselho Pedagógico da EBI, não chegando a ser implementado. O diretor Mariano ainda não havia chagado…

Em 2015, fui fazer uma “palestra” m Ponta Delgada. Debateram-se desafios da Escola desse tempo e se mostrou manifesta a necessidade de alterar o modelo de escola concebida no século XIX. Nesse encontro, a Conceição lançou o repto de os presentes se juntarem, para tentarem implementar um projeto da natureza de “Sementes para o Sucesso” em outra unidade orgânica. Professores e pais se reuniram para tomar decisões, com vista à criação de uma escola alternativa à tradicional. O número de adesões foi aumentando e o projeto Novas Rotas começou a tomar forma

Na Páscoa de 2016, viajei para as Capelas, para uma ação de formação organizada e financiada pelos professores do projeto. Regressado ao Brasil, a autoformação cooperada foi complementada pela formação presencial facultada pelo núcleo regional do MEM. 

Apesar de contingências desfavoráveis, os pioneiros do Novas Rotas continuaram unidos, motivados e disponíveis para abrir novos caminhos. Uma Petição Pública recolheu mais de mil assinaturas e deu entrada na Assembleia Legislativa, em 2017. A publicação de artigos na imprensa local, a divulgação do projeto na televisão, audiências com órgãos de Governo, a apresentação do projeto em encontros, culminou com a sua apresentação e a sua aprovação pelo Conselho pedagógico da EBI de Capelas.

Estávamos já em 2018. Em agosto, assisti à azáfama de pais e professores, adaptando e construindo espaços, criando condições de implementação do projeto na Quinta do Norte. Voltei em 2023, para acompanhar o relançamento do projeto e a sua expansão dentro e fora dos Açores.. Passados vinte anos, eis-me, de novo, saboreando uns copitos de vinho do Pico, celebrando três décadas de Novas Rotas, na companhia da boa gente das Capelas.

 

Por: José Pacheco

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