Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXX)

Herdade do Freixo do Meio, 19 de junho de 2043

Prestes a deixar a Europa dita “comunitária”, precisava saber a quem deixar a incumbência de criar verdadeiras comunidades. Entre abril e junho, tinha visitado mais de vinte “agrupamentos de escolas”, havia reunido com mais de mil educadores, pernoitado em mais de quarenta lugares, o corpo se queixava das muitas viagens… e o meu amigo Alfredo me acolheu na “Casa da Professora” do Freixo do Meio.

Depois do forte abraço do amigo Alfredo e da visita ao Bifanas, recebi a visita de famílias ávidas de notícias e desejosas de ação. Quis saber que comunidades pretendiam criar e porquê, partindo do convite ao encontro recebido de um “triplo C” de respeito: as mães Cristina, Caetana e Cristina. 

Quando pensava poder descansar de mais de dois meses de intensos afazeres, o entusiasmo daquelas mães me deu novo ânimo. Em três intensos dias, ajudei a preparar um encontro, que viria a realizar-se no 29 de junho (no fundo do baú das velharias, encontrei o cartaz que junto a esta cartinha).   

Eis como se apresentava o “convite”:

“Esta pequena experiência pretende ser um espaço de partilha entre famílias, tutores e comunidade em geral, para vivenciar a “gestação” de uma ou várias comunidades de aprendizagem. 

Procuraremos o nosso próprio modelo (cada um de nós), aquele que se adapta ao grupo que representamos. Uma comunidade de aprendizagem é como um ser vivo em constante evolução. Contamos com a sua presença e, mais do que tudo, pretendemos criar laços e potenciar compromissos entre todos. 

Modelos que envolvem afetos são desafiadores e implicam contacto humano próximo e sincero, garante de continuidade. Teremos três dias para semear esses vínculos. 

Com famílias que estejam interessadas em fazer parte de uma comunidade de aprendizagem, professores motivados para fazer diferente, membros da comunidade com intenções de partilha de saberes, com mentes inquietas, que buscam respostas e formas de fazer diferentes, para alcançar resultados diferentes. 

O convite continha um endereço (perfeitaconsciencia@gmail.com) e estabelecia o valor de participação: Gratuito. 

Acrescentava uma lista de “Materiais a levar: 

Computador e/ou tablet, folhas brancas, lápis e/ou marcadores, jogos de tabuleiro, livros infantis, mantas para sentar no chão, cola de papel, fita-cola, cartolina de cor, chapéu, garrafa de água. 

Pode haver alterações com base no desenvolvimento da atividade, nada do que aqui se propõe é definitivo, serve apenas de orientação.

As crianças estarão com os tutores e os adultos reunir-se-ão com os moderadores que os acompanham. Algumas destas horas serão passadas em interação entre os grupos pois aí reside uma das riquezas de uma comunidade de aprendizagem. A estrutura de horário apenas define os momentos de início e fim, bem como das refeições, que serão sempre conjuntas.”

Amorosidade, disponibilidade, coragem, espírito comunitário, autenticidade, gestão da imprevisibilidade, criatividade: sociocracia plena. Como diria o Manel, “Calma! Não é o fim do mundo, é apenas o princípio.”

O encontro do Freixo do Meio era o princípio do fim da robotização do ato de aprender. A ensinagem recuava. Educadores conscientes e professores éticos tomavam nas suas mãos o futuro das gerações futuras, num movimento irreversível.  

O italiano Galileu afirmara: “E pur si muove”. E o Leonard canadiano já dissera haver “a crack in everything”, that’s how the light gets in.”

E dito no português que no Alentejo se falava, tirando o i do lete e juntando-o ao cafei: “Anda lá, que n’a morres de coice de boi.”

 

Por: José Pacheco

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