Foros de Vale Figueira, 26 de junho de 2043
Neste mesmo dia, mas de há vinte anos, uma jornalista portuguesa publicou um artigo com o título: “Exames nacionais: vamos tirar a pressão”.
“Joana está a estudar para os exames nacionais do secundário. Está confiante, na última prova teve 20 valores (numa escala de 0 a 20). Ao seu lado, o telemóvel toca, é uma notificação: os rankings!
“Em que lugar ficou a minha escola?”
Procura a sua escola que, habitualmente fica em boa posição. Confirma-o com um sorriso, mas este desaparece quando encontra a nota de MACS.
“Como é que é possível?”
De semblante carregado e lápis na mão, Joana começa a comparar a sua nota interna, aquela com que vai a exame, olha para a média da disciplina a nível nacional e a média da cadeira na sua escola (mais baixa que a nacional).
“Isto não bate certo… Se calhar a minha nota interna não corresponde ao que eu sei, se calhar acho que estou bem preparada para o exame, mas não estou… Se calhar sei menos, comparativamente à média nacional… Como é que a média da escola foi tão baixa?”
Joana não aguenta e liga à mãe, quase em pânico…”
Voltarei ao artigo da Bárbara Wong (a jornalista). Mas, por agora, me quedarei pelo comentário a um vídeo que, também nesse dia – não seria poer acaso que haveria acasos… – e que, de algum modo esclarece a situação de “pânico” que se vivia em vésperas de exame de acesso à universidade.
Na outra margem do Atlântico, o Vítor, eminente professor universitário foi convidado para uma audiência na câmara dos deputados e começou por dizer:
“No Brasil, está se fazendo aquilo que se deve fazer em educação. Estamos a formar pessoas para passar de ano, para ter um diploma. Que passem no SAEB, essa coisa horrenda, ou num ENEM, que não mede absolutamente nada.
Temos milhões de pessoas que sabem ler e escrever e que não leem nem escrevem. A pesquisa diz-nos que temos 65% de analfabetos funcionais. São analfabetos com diploma”.
O Vítor citava uma obra chamada de “VIDA E MORTE DO GRANDE SISTEMA ESCOLAR AMERICANO”, de que espero poder falar-vos amanhã, e concluía:
“A nossa escola está atrasada, pelo menos, cem anos. As ciências da educação não estão aplicadas na educação”.
Pois não. E o obsceno silêncio dos cientistas da educação perante a triste situação me fazia sentir vergonha
Para quem não saiba, o ENEM era a prova de acesso do “ensino inferior” ao “ensino superior”. O insigne professor e hábil pesquisador autor dessas frases denunciava a farsa dos exames e referia-se á importação de um modelo educacional oriundo do Estados Unidos.
No Brasil, o novo governo optara pela “sobralização” do ministério da educação, modismo norte-americano, exemplo típico de neocolonização que, ao longo de um mandato, apenas contribuiu para a mercantilização da escola pública.
Em Portugal, usava-se o provérbio “da Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos”. Se, no Brasil, nem “bons ventos”, nem algo inovador chegava dos anglo-saxônicos, certo é que, também em Portugal, não se estava “fazendo aquilo que se deveria fazer em educação”.
A Lei de Bases não era cumprida. Os projetos educativos das escolas e os projetos de intervenção dos candidatos a diretores não eram cumpridos.
Decretos como o 55/2018 tinham sido “neutralizados” por uma regulamentação de cariz técnico-instrumental e burocrático. Parecia que a única lei cumprida no reino da educação era… a “lei da gravidade”.
No encontro do Freixo do Meio, realizado a 29 de junho de 2023, os iniciadores de uma nova construção social de aprendizagem e de educação anunciavam o cumprimento da lei, fundamentado numa ciência prudente.
Por: José Pacheco
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