Rio do Ouro, 2 de agosto de 2043
Entre agosto e setembro de vinte e três, muitas mensagens, manifestações de cansaço chegaram à minha caixa do correio. Não as guardei no baú das velharias, mas num velho computador. Dele extraio estes apelos.
“Meu nome é Liria. Sou de Teresópolis e trabalho num espaço criativo. Me sinto só, buscando parcerias. Criar um grupo de conversas e convidar pessoas seria um bom caminho?”
“Sou a Mariana. Faço minha pesquisa de doutorado na Escola Municipal Polo de Educação Integrada, o POEINT, que o senhor conhece e ajudou a construir com as bases pedagógicas alicerçadas na Escola da Ponte.
Trabalho em outras duas escolas públicas, há 15 anos, estou sozinha, buscando novos caminhos. Confesso que estou um pouco cansada, pois, o Sistema insiste num modelo falido há anos.
Preciso de ajuda para realizar uma transformação de fato. Ou sou eu que preciso sair do sistema, para que eu possa sobreviver? Não sei se foi bem uma pergunta, mas talvez um grito de socorro.”
Fui a Portugal, correspondendo a convites de amigos. Encontrei uma sociedade exausta de reformismos. Deparei com vidas plastificadas e apressadas, com escolas possuídas por uma angústia pandémica. Reencontrei professores doentes da mesma solidão de antanho.
“Na escola pública em Portugal não há comunidade, não há autonomia e não há relação. Quando aparece alguém a fazer diferente, é “chacinado”.
“Infelizmente, há poucos professores felizes. Como fazer crianças felizes?”
A norte, revisitei uma Ponte sobre águas turbulentas e agarrei a “segunda oportunidade” da Daniela. No Minho, ajudei dedicadas mães exigindo para os seus filhos uma escola do século XXI.
Onde suspeitava encontrar só desalento, uma nova geração de educadores despontava, uma utopia se concretizava, uma nova educação surgia. O afã de diretores de agrupamento e de professores marcava um auspicioso recomeço. Não resisti a tão tentador convite. Reuni energias dispersas. E num derradeiro fôlego, me deixei atrair por novos e retomados projetos.
Voltando ao Brasil, nos encontros de Instagram, em catadupa, surgiam perguntas de sempre.
“Somos um espaço pedagógico e recreativo que atua, também, com Acompanhamento Escolar (Reforço). Entendo que tanto o termo quanto o sentido de “Reforço” é inapropriado (para não dizer outra palavra). O fato é que noto que a comunidade tem muito essa necessidade de que alguém ajude os filhos com as inúmeras ‘tarefas de casa’ passadas pela escola.
Como atender esse anseio das famílias em ajudar nas tarefas de casa, estudo para prova, trabalhos escolares e, ao mesmo tempo, trabalhar novas construções de aprendizagem com as crianças e adolescentes?”
“Faço serviço voluntário, há muitos anos. Realizo trabalho junto a pessoas em situação de rua e em comunidades terapêuticas para recuperação da dependência química. Fala-se muito em insegurança alimentar, mas como não tê-la presente em lares onde muitas vezes está presente o abuso de drogas e por consequência a violência?
Como fazer a ” Educação” chegar nestes locais?”
A resposta sempre foi uma só: pela Educação. Não aquela que, com aspas, era praticada na Família, na Sociedade e na Escola, mas uma nova Educação para um novo tempo, uma nova construção social de Educação.
Ao longo de meio século, tinham sido muitos os ciclos de euforia a que se sucederam ciclos de frustração. Por isso, recomendava a pais conscientes dos seus direitos que fossem à escola mais próxima e procurassem professores que ainda não tivessem morrido. – Muitos resistentes ainda havia! – E que lhes estendessem uma mão amiga.
Por: José Pacheco
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