Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLVII)

São Paulo, 14 de setembro de 2043

Propor um glossário é, também, tarefa de não dar novos nomes a velhas práticas. Quando, em 2040, vos enviei cartinhas sementeiras de novas palavras, dei-lhes visibilidade pública, para encurtar o fosso entre saberes e fazeres. Aquelas que, na vossa infância, vos enviei foram as mais sensíveis, mais difíceis de compor, porque escrever para crianças não é tarefa fácil.

Nos idos de vinte, convidei alguns amigos, que açoitavam os ancestrais hábitos de uma escola obsoleta, para participar num projeto de criação de redes de comunidades de aprendizagem, um dos modos de humanizar a educação. Para essa nova construção social de aprendizagem seria necessário inventar uma nova nomenclatura. Por isso, ensaiei a feitura de um glossário. 

Acumulei tantas e tão díspares explicações, que deliberei anexá-las a um dos meus livrinhos, que dava pelo longo título de “Inovar é Assumir um Compromisso Ético com a Educação”. Cito de memória mais alguns dos verbetes desse glossário, composto numa linguagem que todo mundo pudesse entender.

Escolas em Transição – Pessoas, que, em espaços de aprendizagem, dentro e fora de um edifício escolar, empreendem caminhos de reelaboração da sua cultura pessoal e profissional.

Escolas Sustentáveis – Pessoas que aprendem no contexto de uma organização social dotada de autonomia pedagógica, administrativa e financeira.

Espaço de Aprendizagem – Todo e qualquer lugar com potencial educativo.

Indicadores de Mudança – Sinais de transformação pessoal e social, evidências de aprendizagem, indícios da criação de novas construções sociais de aprendizagem.

Educador – Sendo a educação considerada como ato ou efeito de educar, de aperfeiçoar habilidades, competências, o educador será o ser humano que ajuda outro ser humano a educar-se (educare e educere).

Sujeito aprendente – Todo mundo envolvido em processos de aprendizagem

Trabalho de Projeto – Metodologia centrada em problemas, necessidades, desejos, sonhos de aprendizes.

Novas Construções Sociais de Aprendizagem – Sistemas sociais de aprendizagem plurais e diversos, alternativas ao modelo de escola da modernidade; constructos auto-organizados e desenvolvidos numa cultura específica.

Núcleo de projeto – Equipe responsável pela criação de uma comunidade de aprendizagem.

Pensamento sistêmico – Baseado na interdependência dos sistemas vivos, que incluem as sociedades urbanas e os ecossistemas, objetiva um conjunto de sistemas interconectados (“todo integrado”), ao invés de uma coleção de partes dissociadas.

Permacultura – Cultura que engloba métodos holísticos para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana ambientes sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis. Filosofia de trabalhar com e não contra a Natureza.

Práxis – Prática fundamentada na lei e em critérios de natureza científico-pedagógica, no reconhecimento de que a construção do conhecimento é um processo eminentemente social e interativo.

Rede – Padrão básico de organização de todos os sistemas. No contexto das relações humanas é a configuração de laços sociais entre pessoas (não entre instituições).

Sociocracia – Sistema de governança na qual as decisões são tomadas por consentimento considerando-se a opinião dos indivíduos. Tem como princípio fundamental as teorias sistêmicas de inteligência coletiva. 

Em próxima cartinha (talvez de modo polémico). abordarei dois conceitos e duas práticas que, há uns vinte anos, foram muito maltratadas: “Escola Pública” e “Educação Integral”.

 

Por: José Pacheco

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