Bosque Fundo 20 de novembro de 2043
Creio ser oportuno fazer um pouco de história, para que uma memória tradicionalmente curta não apague
Há uns quarenta anos, professores, secretários de educação, famílias me pediam que fizesse “uma Escola da Ponte”. Eu já lera o Darcy antropólogo e o Darcy educador. Já ia perdendo o meu etnocentrismo europeu e ajudando a desfazer mitos. Nunca faria réplicas de uma escola onde, em três décadas de resiliência e sofrimento, contra ventos e marés de maldade, tinha sobrevivido.
Em Campinas, São Paulo, Natal, Contagem, Lajeado, São José do Rio Preto, Brasília, Belo Horizonte, Cotia e em outros lugares onde despontavam projetos com potencial inovador, logo surgiam manobras de destruição.
Visitava escolas “montessorianas”, “waldorfianas”, “freinetianas”, “freirianas” e lá não via vestígios de Montessori, Steiner, Freinet ou Freire. O “centro” continuava a ser o professor. E, se retirássemos das salas de aula os raros vestígios de escolanovismo, precários paliativos e modismos, as práticas seriam idênticas às do século XIX, revestidas de digital.
Começava a intuir que o aluno não seria o centro de projetos neoliberais, que não havia “centro”, mas relação. E que, no contexto de uma relação pedagógica e antropagógica, a aprendizagem aconteceria através da criação de vínculos multidimensionais.
Para tal, seriam, gradual e prudentemente, erradicados dispositivos sem sentido, como sala de aula, turma, carga horária, prova etc. A implantação de círculos de aprendizagem marcaria a transição de um ciclo de mudança para um ciclo de inovação, apoiada numa rede de espaços de referência, para “imersões”, facultar “vivências” formativas.
Estando assegurada a sustentabilidade legal e científica dos projetos, as práticas fundamentar-se-iam naquilo que de útil identificássemos nas propostas fundadas nos paradigmas da instrução, da aprendizagem e da comunicação, contemplando o desenvolvimento no domínio pessoal e sócio moral, apoiando a redefinição do papel do professor, na transição entre o modelo “tradicional” e uma profissionalidade assente na prática do “designer educacional”, através de projetos de produção de vida e de sentido para a vida.
Estaria assegurado o crescimento do educando em todos os aspetos: físico, mental, intelectual, emocional, afetivo, psíquico, para que pudesse atuar e transformar o seu meio, de forma ética, na perspetiva do desenvolvimento sustentável do ser humano e da comunidade em que se integrava.
Apesar das precárias condições de intervenções iniciais, concretizou-se a introdução de tutorias, bases de reconfiguração das práticas escolares, bem como contatos dialogantes com famílias e comunidade.
Por essa altura, em Portugal, acreditando nas boas intenções de um ministério, professores e comunidades se movimentavam. O Governo assumia como prioridade a concretização de uma política educativa centrada nas pessoas, que garantisse sucesso educativo e igualdade de oportunidades. Reconhecia que “nem todos os alunos veem garantido o direito à aprendizagem e ao sucesso educativo”.
No Brasil, era preparado mais um Plano Nacional de Educação. Tentava-se que os “sete eixos” do novo PNE não tivessem o mesmo destino das “vinte medidas” do plano anterior (que não tinham sido cumpridas).
Estavam reunidas as condições para uma adequação gradual a novos modos de conceber e fazer educação, transformando as escolas em espaços de produção de conhecimento e cultura, conectando os interesses dos estudantes com os saberes comunitários.
Por: José Pacheco
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