Ilha Bela, 12 de dezembro de 2043
Foi por volta dos idos de vinte que as redes de comunidades de aprendizagem foram surgindo. Eram ensaios de novas construções sociais, caraterizados pela prática de uma efetiva educação integral. Eram projetos de humanização, que a todos garantiriam o direito à educação.
Talvez fossem a Escola Pública sonhada por Anísio, o espírito e a letra de Lauro e de outros insignes educadores:
“Quando a comunidade se constitui como parte atuante da escola, com voz e participação na construção coletiva do projeto político-pedagógico, surge o sentido de pertencimento. Isto é: a escola passa a pertencer à comunidade, que, por sua vez, passa a zelar com mais cuidado por seu patrimônio.”
Sentindo-se como um nodo de uma comunidade, a escola cria, planeja e respira projetos de interesse da sua gente, da sua realidade. Em comunidade, cumpriria preceitos da Constituição, da Declaração Universal dos Direitos da Criança e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Naquele tempo, eram criados “grupos de trabalho”. O primeiro fora criado pela Portaria Nº 276, de 16 de agosto de 2019, da Secretaria Estadual de Educação do Distrito Federal. A esse “GT” era outorgada a missão de propor “Diretrizes de Política Pública para a Implantação e implementação de Comunidades de Aprendizagem na Rede Pública de Ensino” (sic).
Quase três anos decorridos, O “Termo de Referência” de 20 de maio de 2022, da Secretaria Municipal de Educação de Maricá antecedeu a publicação da Resolução PMM/SE Nº 16/ 2022, de 19 de dezembro de 2022, anunciadora do GT das comunidades de Maricá.
No ano seguinte, em Portugal, uma Assembleia de Redes de Comunidades de Aprendizagem” punha em prática promessas deixadas pelo decreto-lei 55 de 2018 e propunha a criação de “grupo de trabalho ministerial”, visando conceber e desenvolver novas construções sociais de aprendizagem.
Entretanto, já havia outros grupos de trabalho em funcionamento, em Mogi das Cruzes e em outros municípios brasileiros.
Projetos educativos e projetos político-pedagógicos das escolas puderam (enfim!) ser concretizados, efetivando objetivos constantes das leis de bases do Brasil e de Portugal. Visava-se: promover o crescimento do educando em todos os aspectos: físico, mental, intelectual, emocional, afetivo, psíquico, para que ele possa interferir, atuar e transformar o seu meio, de forma ética, na perspectiva do desenvolvimento sustentável do ser humano e da comunidade em que se integra; reconfigurar práticas educativas; produzir práticas integradas (na confluência dos paradigmas da instrução, da aprendizagem e da comunicação), religando instituições (Família, Sociedade e Escola), unindo Cultura, Saúde e Ambiente, em projetos de educação integral.
Netos queridos, poderá ser para vós fastidiosa esta descrição de fatos. Mas, em 2043, importa fazer história e refazer a história oficial, porque a memória dos homens costuma ser curta e deturpada.
Há vinte anso, acontecia a primeira co-criação de protótipos de comunidade de aprendizagem, a partir de “turmas-piloto” e de “círculos de aprendizagem”. Escolas e universidades se transformavam em “lócus de referência”. Acolhiam visitantes, facultavam “residência pedagógica” a quem desejasse conviver, por alguns dias, com crianças, professores e comunidade.
Projetos com potencial inovador já não eram fragilizados ou destruídos, pois assumiam a dignidade da autonomia. Práticas democráticas e de trabalho em equipe eram incrementadas.
O sonho de Darcy virava (ou, “era tornado”) realidade.
Por: José Pacheco
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