Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCVIII)

Votuporanga, 27 de julho de 2043

Como diria o poetinha, “a vida é feita de encontros”. E nós somos feitos de um pouco de cada encontro. 

Este dia de julho de há vinte anos, um feliz encontro marcou o início de uma duradoura amizade. Fui escutar alguém que, há muito tempo já, despertara a minha curiosidade e admiração. 

Na abertura do congresso da “cidade das brisas suaves”, o Rossandro recorreu a uma citação de Jung: “Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro acorda”, para lembrar a dois mil professores que o delicado e responsável ato de ensinar é, como diria o amigo Rubem, um exercício de imortalidade.

Netos queridos, o amigo Rossandro chegou quando, também, chegava o tempo da minha discreta “retirada”. Convidei-o para conhecer projetos que eu ajudara a conceber. Combinamos uma ida a São Paulo. Preparei uma viagem a Campina Grande. Urgia o tempo de uma “passagem de testemunho”.

Há uns vinte anos bem contados, quando me dei conta de que o corpo vacilava e precisava de cuidados, deparava com uma lista de compromissos sem fim, considerados de cumprimento urgente. Por ação do Rossandro e de outros excelentes educadores, muitas escolas despertavam de uma longa letargia. E acreditavam que poderia ajudá-los. Apelos não faltavam.

“Sou um professor dos chamados “anos finais do fundamental” e, também, do ensino médio. Todos os anos, tenho, no mínimo, 10 turmas de 40 alunos cada. Somos cobrados, constantemente, por resultados (nas avaliações “estandardizadas”). 

Como realizar uma educação humanizada e atenciosa, se, às vezes, fica difícil até lembrar o nome de todos os alunos? 

O sistema educacional provoca o “fracasso” das crianças e dos jovens. Mas, também, do professor.”

Gostaria muito de trabalhar mediante projetos, a partir do interesse dos alunos. Se o senhor puder me ajudar neste sentido, agradeço imensamente!

Aguardo seu retorno, na expectativa de conseguir a liberação pelo menos para o próximo ano, porque para este, não querem me autorizar. E fiquei por um triz de não permitirem que prosseguisse com as atividades neste ano. 

Desde já agradeço sua atenção. Abraço!”

Nas próximas cartinhas, cumprirei o que já vos prometi. “Didaticamente”, vos contarei o modo e a sequência de transformações operadas. Não por mim, mas pela Tina, pelo Bruno, a Zizi, o Mauro, a Valéria, o Leo, a Edilene, a Claudia, a Luciene, o Rossandro… Uma longa lista, que aqui não cabe e que me obriga a pedir perdão àqueles que aqui não menciono. O Brasil não era pobre em bons educadores.

A primeira das redes de comunidades de aprendizagem foi concebida como resposta a um pedido recebido de uma secretaria de educação. Nesse documento, se criava “um Grupo de Trabalho para implementação de uma rede de protótipos de Comunidades de Aprendizagem em nove escolas da Rede Pública Municipal, tendo como mote a construção coletiva do projeto político pedagógico, com viés holístico, democrático e emancipador do cidadão, envolvendo a comunidade e a escola.”

Dois “grupos de trabalho” tinham sido criados, até então, um no Distrito Federal, outro em Mogi das Cruzes. Estavam, praticamente, inativos. Reanimámo-los. E o GT de Maricá foi criado.

Na primeira metade de 2023, por razões que não quero recordar, apenas conseguimos instalar algumas “turmas-piloto” em escolas da rede pública. Reatamos o projeto, em meados desse mesmo ano, juntando-lhe um protótipo de comunidade. Quase todos os tutores responsáveis por esse protótipo tiveram oportunidade de efetuar uma “vivência” na Escola Aberta de São Paulo, uma oportunidade de reelaborar a sua cultura profissional.

 

Por: José Pacheco

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