Sobral, 16 de dezembro de 2043
Neste dia de há vinte anos, se fechou o processo de criação das ARCAs. Hei-de explicar-vos o que eram essas organizações. Agora, completarei a transcrição de parte da missiva do amigo António, um dos fundadores da ARCA portuguesa.
Era uma carta dirigida ao Ministro da Educação, em que se dizia ser preciso:
“Criar projetos educativos verdadeiros referenciais de ação das escolas, em autonomia, reforçando o seu funcionamento enquanto organizações educativas:
colocar os alunos no centro do processo de renovação do sistema educativo, da escola pública e da aprendizagem;
melhorar o funcionamento da escola pública, alterando o paradigma burocrático (ao nível organizativo) e o paradigma transmissivo e heterónomo (ao nível pedagógico) que a caraterizam;
honrar a necessidade de se olhar para a escola pública como “a escola da cidadania”;
assumir “como prioridade a concretização de uma política educativa centrada nas pessoas, que garanta a igualdade de acesso à escola pública, promovendo o sucesso educativo e, por essa via, a igualdade de oportunidades” (preâmbulo do Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho);
integrar, de modo adequado, toda a comunidade escolar (segurança, equilíbrio e proximidade), acolhendo e valorizando a sua megadiversidade, a nível funcional, social, cultural, neurológico e afetivo.
Considerando, finalmente, o facto de o atual governo ainda estar em funções plenas.
Os signatários vêm, por este meio, solicitar a criação do grupo do trabalho “Educação Humanizada”, onde os mesmos tenham assento.”
E eram enunciadas as finalidades do futuro Grupo de Trabalho:
Propor programas, projetos, diretrizes específicas, orientações e legislação que contribuam para a implantação e implementação de novas construções sociais de aprendizagem;
promover a renovação da escola púbica e a criação de escolas públicas de iniciativa local e comunitária;
propor parâmetros de arquitetura e de mobiliário (interior do edifício e exterior a ele) que criem uma nova pedagogia do espaço, promotora de ambientes de aprendizagem ativos, acolhedores e seguros, onde cada educando possa valorizar-se, experimentando, refletindo e co-construindo os seus próprios processos de aprendizagem.
incentivar um desenvolvimento curricular e uma ação pedagógica centrados no respeito pelas caraterísticas, necessidades e interesses de cada educando, assumindo que o sucesso na aprendizagem é diretamente influenciado pela motivação, pelo acolhimento de diversas formas de aprender e pelo respeito por distintos ritmos de aprendizagem.
apoiar a constituição de redes de aprendizagem que promovam o desenvolvimento humano sustentável e integral, baseado na convivência, no diálogo, na solidariedade e na defesa da dignidade humana, dando a cada educando a oportunidade de ser e de aprender de forma significativa.
Coordenar e/ ou orientar e acompanhar projetos de âmbito nacional, regional e/ ou local que visem a criação de Comunidades de Aprendizagem.”
Quer o ministério aceitasse, ou não aceitasse, a criação do grupo de trabalho das novas construções sociais de aprendizagem, elas iriam cumprir-se.
A sempre adiada Educação do Futuro se fazia presente. Bem à maneira do heterónimo Ricardo Reis:
“Uns, com os olhos postos no passado / Vêem o que não vêem; outros, fitos / Os mesmos olhos no futuro, vêem / O que não pode ver-se / Esta é a hora / este o momento, isto / É quem somos, e é tudo.”
Se “o fracasso era o do sistema”, como dissera Freire, um olhar de apoena apontava para a refundação do “sistema”.
Por: José Pacheco
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