Icaraí, 25 de agosto de 2043
Foram tantas e tão profundas as transformações operadas entre agosto e dezembro de vinte e três, que delas será difícil fazer uma síntese. Tentarei. E vos peço que me perdoeis, queridos netos, se a leitura se tornar cansativa. Tenho como intenção deixar para gerações vindouras a descrição de anónimos gestos de amorosidade e coragem.
Foi a minha amiga Maria Paula quem o disse e escreveu num recadinho do velho facebook:
“”A mudança não vive apenas no amor, mas também na coragem”.
Nos últimos meses de vinte e três, cultivamos estratégias que permitissem ao estudante expressar a sua singularidade e desenvolver projetos de seu interesse, com impacto na comunidade.
Instalamos dispositivos de integração curricular, para produção de conhecimento multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Debatemos a função social da escola, tentando romper com a concepção conservadora de ciência, currículo e conhecimento, questionando práticas, compreendendo que a educação é construção coletiva. E reconfiguramos práticas escolares, conferindo-lhes fundamento na lei e numa ciência prudente, com referência ao paradigma da aprendizagem e da comunicação.
Possibilitamos uma participação ecológica, em equipes constituídas por psicólogos, terapeutas, sociólogos e outros agentes educativos. Apoiamos a realização de estágios no contexto de práticas inovadoras, propiciando a reelaboração da cultura pessoal e profissional dos professores.
Introduzimos a prática da tutoria, dispositivo central na passagem do paradigma da instrução para o da aprendizagem e o da comunicação, garantindo pleno acesso a educação integral, a aprendizagem para além do domínio cognitivo, contemplando o desenvolvimento no domínio pessoal e sócio moral.
Redefinimos o papel do professor, na transição entre o modelo “tradicional” e uma profissionalidade assente na prática da mediação pedagógica, assegurada por “designers educacionais”, através de projetos de produção de vida e de sentido para a vida.
No âmbito de uma avaliação formativa, contínua e sistemática, implementamos a elaboração de portfólios e criamos uma plataforma virtual aprendizagem. Evidenciamos o desenvolvimento de habilidades e competências individuais e de equipe, tanto por meio de trabalhos finais como rascunhos, de natureza variada, para refletir diferentes tipos de desempenho e não apenas aplicações diretas de conhecimentos.
Efetivamos a autoavaliação através de relatório crítico, inventários de atitudes, registros de observação, registos de incidentes críticos, listas de verificação etc. Isomorficamente, acontecia uma avaliação alinhada com a aprendizagem.
Em suma: passamos do consumo de informação proveniente do discurso do professor ou da leitura de livros didáticos para a produção de conhecimento (currículo) e a partilha de saberes, gerando competências.
Para tal, introduzimos estratégias voltadas para tornar a instituição educativa espaço de produção de conhecimento e cultura, que conectasse os interesses dos estudantes, os saberes comunitários e os conhecimentos acadêmicos, para transformar o contexto e lhe conferir sustentabilidade.
Respeitada a diversidade, na prática de uma gestão curricular diferenciada, a escola se consituiu em lócus de humanização e oportunidade de inclusão.
No encontro formativo realizado no 26 de agosto de há vinte anos (11:00 de Brasília / 15:00, de Portugal https://meet.google.com/jrj-bfyu-hji), tudo isso foi conversado, “explicado”, criticado…
Por: José Pacheco