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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CLXXXIV)

Goiás Velho, 10 de agosto de 2040

Quando eu militava no Movimento da Escola Moderna, somente ouvia falar de Celestin Freinet. Da Elise Freinet ninguém falava, embora o Movimento fosse composto de uma maioria de… mulheres.

Na década de sessenta, quando consultei uma enciclopédia, que dava pelo nome de “Os maiores pedagogos do século XX”, verifiquei a referência a catorze homens e apenas a uma mulher: Maria Montessori.

Tinha conhecimento de que, até àquela década, quando uma professora pretendia casar-se, deveria pedir autorização ao ministério. E o candidato a marido teria de provar auferir de rendimentos suficientes para manter a esposa. Acaso o pretendente a marido fosse pobre ou remediado, à professora restava arranjar outro namorado ou… ficar para tia.

Poderá parecer-vos absurdo (e é!), mas vos garanto, queridos netos, que era essa a situação das jovens mulheres e professoras, no tenebroso tempo da ditadura salazarista. A maioria das professoras aceitava e praticava as regras impostas pelo regime. Pior ainda: elas reproduziam a patriarcal cultura em sala de aula. Mas, a Amanda era excepção à regra.

Em 1932, os Pioneiros da Escola Nova divulgaram o Manifesto “A Reconstrução Educacional no Brasil – Ao Povo e ao Governo”. Amanda foi uma das três mulheres signatárias do documento. Reparai no seu nome completo, carregado de um indisfarçável pueril machismo: Armanda Álvaro Alberto.  Nem vestígios de sobrenome da mãe Maria, mas com todos os nomes do pai, Álvaro Alberto.

Amanda fez par com a Cecília poeta, que também subscreveu o Manifesto. No contexto de uma sociedade machista, esse gesto era pleno de significado. Acresce que Amanda era uma militante feminista, que criticava feministas, aquelas que viam no homem “um inimigo da mulher”.

Há cem anos, Amanda foi inovadora em todos os sentidos. Na fundação da Escola Proletária de Meriti, introduziu uma novidade no mundo das escolas – a merenda escolar. A Escola Mate com Angu, como ficou a ser conhecida, foi uma das primeiras da América Latina a servir merenda escolar, reflexo da sua preocupação com o bem-estar das crianças. Sabia ser difícil aprender com o estômago vazio. Sem que lhe desse essa designação, Amanda era percursora da escola em tempo integral.

Atraída pelas teses da Escola Nova, transformou o chão da escola num laboratório, bem ao modo de Montessori. Antecipou, em um século, a prática de contraturno, pois as crianças completavam o dia de escola com o cultivo da horta e a criação de animais.

Foi elevado o preço da sua ousadia. Quando presidente da Associação Brasileira de Educação e integrante da Aliança Nacional Libertadora, sofreu a perseguição da polícia política e acompanhou a Olga Prestes nas prisões do Getúlio.

As agruras da prisão não esmoreceram o seu entusiasmo, os seus ideais. A cidade de Duque de Caxias lhe deve a criação da primeira biblioteca pública. Na Biblioteca Euclydes da Cunha, pugnou pela valorização da obra de autores brasileiros e desenvolveu formas criativas de mobilização da comunidade. Sabemos que tentou retomar as atividades na direção da sua escola e que as autoridades a impediram que o fizesse.

Mas, “au bout du chagrin, une fenêtre ouverte une fenêtre éclairée” – as senhoras da geração da Amanda sabiam ler o Paul Éluard – uma janela de esperança se abria sobre uma desoladora paisagem educacional. Num cenário de mudança de um sistema doente, outra educação se mostrou possível. Mas, passariam mais de cem anos, para que alguns dos anseios inscritos no manifesto, que a Amanda subscreveu, pudessem concretizar-se.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CLXXXIII)

Januária, 9 de agosto de 2040

Era uma vez… Esta cartinha começa assim.

Era uma vez, um professor. Ensinava aritmética, português, geografia, francês, latim, mas que não conseguiu suportar a vida de mestre-escola, nas escolas das fazenda, ao serviço de barões. E escassos foram os anos dedicados a uma docência precária e mal remunerada. Buscou sustento em profissões de mais generosos proventos. Foi escrivão, solicitador e advogado sem diploma. Até se decidir pela errância no interior do Ceará, restaurando igrejas, construindo capelas, peregrinando pelo sertão, expondo-se a conspirações e calúnias. Atento às pregações do padre Ibiapina, estudava os textos sagrados e divulgava o Evangelho entre o povo humilde, de quem escutava preces e a quem dava consolação. Daí o cognome que lhe conferiram: Conselheiro.

Não sei se teria consciência da ira que o seu agir despertava em eclesiásticos e latifundiários. Os poderosos não perdoavam a fuga de súbditos, que o seguiram e ajudaram a fundar o arraial do Bom Jesus. Acusaram-no de assassino. Mas, provada a sua inocência, o seu prestígio cresceu entre os deserdados. A castigada gente projetava na sua pessoa a esperança de libertação de um cativeiro de séculos.

Deu o nome de Belo Monte ao povoado, que viria a ser conhecido por Canudos. António era como o santo de Assis, pedreiro construtor e reconstrutor de templos, congregando almas dispersas, banindo o uso do vil metal, instituindo a propriedade comum. Aquela fazenda abandonada às margens do rio Vaza-Barris foi anunciada como a terra prometida aos miseráveis, às prostitutas e aos jagunços. E era tal a sua fé, que as prostitutas viraram mulheres de virtude e os jagunços se transformaram em paladinos da justiça.

Não lhe perdoaram a utopia de um Brasil sem violência. O genocídio perpetrado por um exército manipulado por políticos e barões mataram o seu sonho de uma sociedade justa. Os poderosos do século XIX negaram a quinze mil seres humanos o direito a uma vida digna.

No final do século XIX, António acolheu a heterogeneidade social e cultural, assegurou inclusão, criou condições de satisfação de necessidades básicas, no respeito pela cultura local. Os poderosos do século XXI mantinham o mesmo iníquo sistema, que negava ao povo brasileiro direito fundamentais. No século da suposta valorização de minorias, num lugar remoto do nosso Brasil, eu escutava narrativas de culturas destruídas. Como aquela que nos falava de um astrônomo de visita a uma aldeia. Instalou a luneta e convidou um jovem da comunidade indígena para espreitar o céu.

Consegues ver a constelação de escorpião? – perguntou o astrônomo.

Não. Eu vejo a da onça! – respondeu o jovem.

Nada disso! Eu sou astrônomo, eu é que sei! É a constelação de escorpião.

Decorridos dois anos, o cientista reencontrou o jovem e renovou a pergunta:

Então, meu jovem, já consegues ver o escorpião?

O jovem indígena respondeu:

Consigo ver o escorpião, sim! Mas, deixei de ver a onça. Nos dias em que você esteve na minha comunidade, o escorpião matou a onça.

Decorrido quase um século após a tua morte, Agostinho nos falaria do respeito pela diversidade cultural e evocaria a memória de Antônio Conselheiro:

Temos de reorganizar todo o sistema educacional com o espírito de descobrimento, que foi criativo em Canudos”.

Em 9 de agosto de 2020, o vírus já matara mais de 100 mil brasileiros. A incúria da desgovernação transformara uma pandemia numa tragédia de imprevisíveis proporções.  Urgia recuperar o “espírito de descobrimento de Canudos”.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha (CLXXXIII)

Três Marias, 8 de agosto de 2040

Decorria o mês de julho do confinamento. Numa reunião, via zoom com representantes do concelho geral de duas escolas, foi discutido com o senhor diretor do agrupamento e o seu assistente – “agrupamento” era um ajuntamento de escolasimposto pelo ministério – os horários do início do ano letivo e os procedimentos a ter, em conformidade com normativas emanadas do ministérioentre as quais:

As turmas iriam ser divididas em dois horários: o da manhã e o da tarde. O quinto, o sétimo e metade das turmas do nono ano funcionariam durante a manhã; o sexto, o oitavo e a outra metade das turmas do nono, no período da tarde. Nunca foi dada explicação cabal para esta divisão, mas “o ministério mandou, está mandado”, como disse um senhor diretor. Apenas se acrescentava a recomendação da direção geral de saúde, de dois metros de distância entre alunos e destes com os professores e funcionários.

diretor achou por bem cumprir as regras impostas pelo ministériocolocar vinte e cinco alunos dentro de uma sala de aula apenas com trinta metros quadrados de área. A distância de segurança seria de cerca de um metro, porque a regra imposta pelo ministério poderia ser alterada, se não fosse possível cumpri-la…

As crianças e os jovens deveriam passar cinco horas seguidas, fechados dentro de uma sala de aula,armados de máscara e de costas voltadas para os colegas. Não teriam direito a intervalo. Haveria trêspausas de cinco a dez minutos, no período de cincohoras seguidas.

A lista de regras omitia a necessidade de fazer xixi. Quanto à alimentação, para que não houvesse aglomerações, os alunos que saíssem àtreze horas pegariam um almoço take away e o levariapara casa. Aqueles que entrassem à treze comeriao take away fora da escola. Se chovesse seriam autorizados a almoçar dentro da sala de aula, apesar de, entretanto e supostamente, a sala devesse estar a ser desinfetada.

Para os alunos do período da tarde, havia trêsplanosA, presencial; o B, misto (metade presencial, metade on-line) e o plano C, totalmente on-line. De nada valeram os protestos de professores, que ainda não tinham tido tempo de aprender a dar aulas on-line – coitados, só sabem dar aulas presenciais, a preocupação é normal, como alguém comentou.

A Paula, mãe amorosa e responsável, ironicamente comentava as “normativas”:  “Havia o pressuposto de que o prédio da escola seria o mais seguro lugar do mundo. Que o vírus nela não conseguiria entrar. Não passaria do portão da escola. O vírus não gostava das grades e de muros e sabia que não seria bem-vindo, teria de ficar de fora”.

Outras mães contestaram as ridículas “medidas de proteção”. Mas, foram “aconselhadas” pelo arrogante senhor diretor a ler um documento sobre o assunto, para que pudessem fundamentar a crítica. Uma das mães, que me facultou a descrição da reunião disse-me:

“Aquilo que consegui concluir da reunião é que eu sou inculta, a pessoa mais burra do mundo, pois não percebo como a possibilidade de um crime possa não ser consideradaO ministério o diretor não estão a defender os interesses das crianças. Talvez o vírus tenha feito um protocolo com o ministério…

A saudável ironia desta mãe contrastava com a estupidez, a incompetência e a irresponsabilidade de políticos e gestores, que encenavam a farsa do “regresso às aulas”. Por vezes, fico a pensar que vos seja difícil acreditar naquilo de que vos venho dando notícia. O sem sentido dessas ocorrências transforma-se em absurdo para quem vive em 2040. Mas, podereis crer que tudo isso aconteceu e do modo como vos conto.

Por: José Pacheco

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Histórias do Novo Tempo da Velha Escola (CLXXXII)

Água Boa, 7 de agosto de 2040

Em meados do século passado, o João Cabral falava dos que morrem sem nunca terem vivido. Pois ficai sabendo que, decorrido quase um século, ainda se morria no Brasil “de morte igual, da mesma morte severinaa morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte”.

Releio o seu desabafo: “Escolas são usinas, que engolem gente e vomitam bagaço”. Meditando sobre a cruel atualidade das suas palavras, me perguntava: o que tínhamos feito de um “século da criança”, que não o havia sido?

Numa comunidade com altos índices de violência, uma professora conversava com os seus alunos sobre o que queriam ser. Não quando fossem grandes, que perguntar isso a uma criança é xingamento, mas o que queriam ser, ali e naquele agora.

Uma boa parte queria ser médica, outra parte queria ser engenheira. Nenhum aluno queria ser professor e muitos alunos gostariam de ser pedreiros.

Mas, por que sonhar com uma profissão tão árdua e de pouca remuneração?

Um dos que sonhava ser pedreiro, se condoeu da estranheza da professora e perguntou:

Tia, a senhora sabe o que é e o que faz um pedreiro?

Pedreiro é o profissional que trabalha na construção civil. Não deverias tentar ser doutor, criaturinha? – replicou a professora.

O jovem sorriu e respondeu:

Tia, pedreiro é quem vende pedra de crack. Aqui, na comunidade, quem vende mais pedras ganha mais, tem “participação nas vendas”. A senhora não vê alguns alunos com celulares de última geração e cordão da moda? Compram com o dinheiro da “comissão”.

Quando a administração resolvia a melhorar a escola, que formava pedreiros, contratava mais polícias e construía mais prisões. Porque, não raras vezes, o aluno da escola-caserna regressava à escola, armado de fuzil. E acabava feito cadáver exibido nos jornais e na tv.

Outro João me confidenciou que a diretora da escola o chamou, para lhe sugerir que levasse o seu filho para uma escola particular, porque aquela “só tinha aluno marginal”. A curiosidade levou-me até à escola dos ditos “marginais”. Contornei altos muros e passei por jardins cobertos de lixo. Desemboquei num pátio repleto de avisos – “Proibido Brincar”, “Proibido Jogar Lixo”… – entremeados de grades. Por detrás de outras grades, o olhar inquisidor de uma funcionária fuzilava o visitante, que lhe tinha interrompido a conversa no facebook. Escutei os gritos dos professores, dando aula. Vi jovens de fundo de sala de aula, bocejando, colocando fones nos ouvidos, manejando celulares ocultos debaixo das mesas.

Fui recebido pelo diretor, que me disse ser impossível fazer alguma coisa por aqueles jovens. Porque “você sabe, vem quase tudo de família monoparental, mãe faxineira, pai na prisão, ausente ou assassinado. Vão acabar aviõezinhos de tráfico. Não há como evitar”.

Fiz-me desentendido da “profecia autorrealizada” e mudei de assunto. Havia reparado que, para além das grades duplas com câmera de vigilância, com que deparara na portaria, os muros da escola estavam encimados por grossas barras de ferro e arame farpado. Perguntei:

Por que tantas grades?

Este é um lugar perigoso. Muito assalto, muita morte. A escola não pode ficar de portas abertas e sem proteção. Olhe! E até lhe conto uma coisa: o arquiteto que fez o projeto desta escola foi o mesmo que fez o do Presídio do Carandiru”.

Disciplina imposta, proibições arbitrárias, controle dos corpos, uniforme, punições, obediência formal, hierarquia inquestionável, violência simbólica… Alguém duvidaria de que a escola que tínhamos na década de vinte tivera origem nas casernas da Prússia do século XVIII?

 

Por: José Pacheco

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Histórias do Novo Tempo da Velha Escola (CLXXXI)

Cáceres, 6 de agosto de 2040

Durante a quarentena, o amigo Tuck presenteava-nos com registros de observação de pássaros, que por Atibaia havia. Chegou a vez do Urubu, chamado o “rei dos mortos”. O amigo Tuck era um multifacetado artista, emérito observador e escritor. E, deste modo, descrevia o “rei dos mortos”:

“Ver um Urubu é um sinal de que há morte por perto e isso pode incomodar algumas pessoas, pois a morte obviamente sempre incomoda. Por mais que tenhamos nos desprendido da vida, pior tem sido esse nosso modo de vida, que se desconectou da morte. A meu ver, nada mais perigoso do que isso. Da morte é que surgem coisas como: a arte, a noção de finitude, a urgência, a solidariedade, incluindo a noção de estar vivo (…) Sempre me impressiona o quanto nos “desprendemos” de todo o resto da vida, que não cabe no nosso senso de consumo doméstico. Mas há caminho de volta nesse rolê e é um caminho bem necessário. Seguimos na quarentena, que se estende sem previsão de fim, nas terras de um país mal inventado”.

Em 1918, a morte cobrira com o seu manto esse país “mal inventado” e os urubus tiveram farto banquete. Cadáveres jaziam na porta das casas, atraindo-os. Carroças recolhiam os corpos e seguiam para o cemitério, sempre acompanhadas pelos pássaros de negra plumagem.

As famílias tinham medo de serem infectadas pelos mortos e jogavam-nos para fora de casa. Muitos coveiros morreram e, nas ruas juncadas de cadáveres, os urubus agiam como agentes sanitários. A polícia saia às ruas, capturando os homens mais robustos, forçados a abrir covas e a sepultar cadáveres. Não havia caixões suficientes para albergar os corpos e estes eram despejados em valas comuns. A demora em tapar os corpos transformava esse improvisado necrotério em pasto para bandos de urubus.

Tal como em 2020, também houve vítimas entre a juventude. Professores não podiam dar aula por estarem doentes ou em convalescença, ou ainda porque não havia alunos – as escolas mandaram-nos para casa. Foi decretado que aluno nenhum repetiria o ano letivo, bem como a aprovação automática de todos, sem necessidade de exames finais.

Queridos netos, falo-vos do cenário dantesco criado pela gripe espanhola. O vírus chegara ao Brasil a bordo de um transatlântico procedente da Europa. Os hospitais ficaram abarrotados.  Todo comércio fechou, exceto as farmácias, que fizeram bom lucro, elevando o preço dos medicamentos. Os jornais anunciavam remédios milagrosos. E o povo recorria a um remédio caseiro: cachaça com limão e mel. O preço do limão disparou… até dezembro, quando a pandemia se dissipou. O Instituto Brasileiro da Cachaça diz-nos que foi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha. E, em 2020, uma nova marca foi lançada: “Cachaça Cloroquina”.

A cachaça sempre esteve ligada ao mundo da educação. Lembremo-nos de que os primeiros mestres-escolas eram pagos com o produto da recolha do imposto sobre a produção desse precioso líquido. A saúde e a educação sempre andaram juntas. Se a cachaça funcionava como medicamento para o corpo, também agia como terapia, um meio de afogar mágoas. E, de modo indireto, esteve na origem do “Ministério dos Negócios da Saúde e da Educação Pública”.

À semelhança do vírus da gripe espanhola, o coronavírus desocultou a fragilidade do sistema de saúde, do sistema econômico e do educacional. Durante a pandemia de há cem anos, os arautos da Escola Nova propunham a erradicação do modelo instrucionista. Decorrido um século, em 2020, o “urubus do sistema” nada haviam aprendido com o vírus e preparavam o “regresso às aulas” instrucionistas.

 

Por: José Pacheco

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Histórias do Novo Tempo da Velha Escola (CLXXX)

São Miguel do Araguaia, 5 de agosto de 2040

No final de julho, uma agressiva campanha, promovida na Internet pelo sindicato das escolas do Rio de Janeiro, motivou fortes reações. Efetivamente, o vídeo da campanha era prova de que não era a falar que a gente se entendia, mas que se desentendia. Era evidente a perversão do discurso, a manipulação de emoções. A mensagem feita de belas imagens, acompanhadas de um discurso feito numa voz maviosa, não disfarçava uma malévola intenção. Ei-la:

“Os meses se passaram. Aprendemos a conviver com o vírus. O covid nunca irá de todo, o que acaba é o medo. Hoje, sabemos lidar, tratar, nos proteger. Respeitando as rotinas, as regras e os protocolos. Estamos prontos, fizemos o dever de casa. A escola privada está pronta para reiniciar. Vimos que a ciência é a vacina. Estudos só confundiram. Trancar todos em casa não é ciência. Confinar é desconhecer, é ignorar. Trair vida é fragilizar, debilitar, mexe com o emocional. As crianças precisam voltar a se relacionar, brincar, refazer laços, amizades, rever seus amigos. Hora de reflorir, recriar, no novo tempo. O sol precisa torar a brilhar!”

Em plena pandemia, as escolas particulares recebiam autorização de funcionamento. E esse vídeo deu origem a reativos comentários:

É horrível, cruel! Distorce os fatos. Só olha o lado do capital. Naturaliza o que é histórico-cultural. Triste! Muito chocante essa propaganda! 

Amigos meus de longa data e nobre erudição se juntaram ao coro e perguntavam:

Como é possível uma coisa destas?

Não se apercebiam de que tinham ajudado a manter um monstruoso sistema de ensino. Melhor dizendo: éramos os principais responsáveis pelas perversas práticas – Incluí-me no rol dos culpados, porque a minha cultura profissional me dizia que eu era individualmente responsável pelos atos do meu coletivo, o coletivo das ciências da educação.

No início de agosto, o Brasil contabilizava uma média diária de mais de mil mortes por covid-19. O percentual de jovens com Covid-19 no mundo triplicara em cinco meses. E as autoridades preparavam… o “regresso às aulas”.

No Brasil do fundamentalismo religioso, um pastor vendia sementes de feijão, com a promessa de que o plantio dessas milagrosas leguminosas mataria o vírus.

“Estudos só confundiram. Trancar todos em casa não é ciência” – Assim argumentavam os ignorantes. O que seria para eles a ciência? O que saberiam eles das ciências da educação? Nada! Mas, os meus companheiros das ciências da educação – sociólogos, psicólogos, filósofos… – sabiam tudo, ou quase tudo.

No aconchego dos gabinetes da universidade, a sua reflexão voava tão alto, que se perdia nos labirintos da teorização das teorias. O olímpico mundo da especulação alheou-os do mundo real e, só intervinham em momentos críticos, para lamentar.

Inúteis teoricistas publicavam tratados, elaboravam teses de doutorados, faziam pós-doutorados. Por omissão, ou inação, os PhD da educação eram responsáveis pelo descalabro do sistema e disso não se apercebiam. Ou fingiam não perceber que a universidade havia perdido o monopólio do saber e apenas mantinha o controle da diplomação.

Na Internet, surgiam simulacros de inovação, sob a forma de cursos e “aulas gratuitas”, nas quais os critérios de natureza científica eram desprezados. Quando assistia a esse triste espetáculo, esperava a denúncia da mercantilização da ensinagem por parte daqueles que, como eu, eram especialistas, se tinham formado em ciências da educação. Tornava-se difícil aceitar a apatia, suportar o seu obsceno silêncio. Por onde andaria a sua coragem cívica?

 

Por: José Pacheco

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Histórias do Novo Tempo da Velha Escola (CLXXIX)

Lucas de Rio Verde, 4 de agosto de 2040

Uma semana após retornar à escola particular, o filho de um professor de rede pública apresentou sintomas de gripe e falta de ar. O médico que o atendeu não fez teste para covid-19, mas indicou uma pequena alteração no pulmão. Comentário do preocupado pai:

“Ele está numa escola particular. Levou a máscara e me disse que as mesas estão distantes. E que as crianças estão proibidas de emprestar lápis, borracha. Não sei se foi na escola… mas ele deixou de ir à aula esses dias”.

Critérios economicistas prevaleciam sobre o critério de preservação da vida humana. Os ministérios insistiam no “regresso às aulas” e recomendavam: “Trocas de lápis proibidas, divisórias de acrílico em mesas para atividade em dupla, revezamento de dia de aula, distanciamento entre cadeiras e mesas, ausência de contato físico e de convívio em áreas coletivas, proibição de empréstimos de material escolar, rodízio…”.

Uma pesquisa mostrou que cerca de oitenta por cento dos brasileiros pensavam que as escolas deveriam continuar fechadas, mas um prefeito publicou um decreto que permitia o retorno da rede privada. Entretanto, a Justiça (mais ajuizada que o prefeito) suspendeu a decisão.

Muitas escolas particulares não resistiram a quatro meses sem atividade. Algumas despediram professores, outras faliram. Condoído com a difícil situação, um secretário de educação admitiu que o retorno às aulas nas escolas particulares cumpria a necessidade de recuperação econômica:

“A atividade das escolas particulares é comercial. Elas precisam o quanto antes retornar suas atividades”. 

Segundo esta racionalidade, o retorno às salas de aula não poderia esperar o surgimento de uma vacina e, enquanto a imunização coletiva não fosse realidade, as escolas precisariam apenas de adotar protocolos rígidos de higiene e pensar num sistema misto de ensinagem, com atividades presenciais e online.

Entretanto, um documento elaborado por “especialistas” recomendava que escolas evitassem a reprovação dos estudantes, sugeria a possibilidade de aumentar os dias letivos do calendário escolar de 2021. E recomendava flexibilidade para escolas particulares, que tinham “mais estrutura para voltar e problemas contratuais concretos para levar em consideração”. The show must go on o vil metal falava mais alto!

Especialistas de ocasião afirmavam que a pandemia trouxera aprendizagens que deveriam ser incorporadas no funcionamento das escolas. Quais seriam? Uma “especialista” propunha “dividir as turmas, adotar rodízio de alunos e caminhar no sentido de um ensino híbrido construído com base no que se aprendeu na pandemia”. Outro afirmava ser o ensino presencial “a solução mais adequada para uma retoma da normalidade, um ano letivo em que as primeiras semanas seriam destinadas à recuperação das aprendizagens”. “Turma, ensino, recuperação, ano letivo, normalidade”… os “especialistas” nada tinham aprendido com a pandemia!

A crise sanitária trouxera consigo uma profunda recessão económica com características globais, que feriu profundamente a economia. A covid-19 havia exposto as fragilidades dos modelos de desenvolvimento económico e social até então adotados. A pandemia havia acelerado a tendência para a transição digital, obrigando empresas e instituições a reinventarem modelos e sistemas de funcionamento. Urgia construir um novo paradigma, para identificar e gerir os riscos, não só de novas pandemias, mas também o risco de voltarmos ao passado, sob o pretexto de criar uma “escola híbrida do futuro”.

Por: José Pacheco
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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CLXXVIII)

Palmeiras de Goiás, 2 de agosto de 2040

No início de agosto, a OMS registrava  recorde de novos casos de covid-19 no mundo.  E os maiores números de casos eram registrados nos EUA, na Índia e no… Brasil. Atitudes irresponsáveis de políticos e de parte da população agravavam os efeitos da pandemia. Mas havia quem insistisse no… “regresso às aulas”

Na cartinha de ontem, critiquei o estribilho de uma canção, que dizia “na sala de aula é que se forma o cidadão”. Na cartinha de hoje, preciso falar-vos do “cidadão”, que a sala de aula “formava”. Também farei o contraponto com uma cidadania plena, que se instalou em muitas escolas, na década de vinte. Hoje, poderá parecer-vos absurdo o que vos direi, a seguir, mas crede que são verdadeiras as descrições.

No banheiro dos alunos da maioria das escolas de sala de aula, não havia espelho e o vaso raramente tinha tampa. Rareava o papel higiénico e era um funcionário que, “normalmente”, entregava dois ou três pedaços do dito papel ao utente. Se o necessitado estivesse com diarreia, teria de se “desenrascar” (como ouvi um funcionário dizer), porque na sala de aula se aprendia o “jeitinho brasileiro”.

O banheiro do professor já tinha espelho, tampa no vaso e até papel higiénico. O banheiro do diretor dispunha de tudo isso e, em alguns casos, até mesmo tinha instalado ar condicionado. Porque, na sala de aula, “formava-se o cidadão”, que deveria aceitar que até no urinar e defecar houvesse hierarquia, desigualdade.

Quando acabamos com a sala de aula, realizamos um re-ligare essencial entre família e escola. Deixou de haver “banheiro de aluno” separado de “banheiro de professor”. Não fazia sentido manter essa ridícula e deseducativa separação, porque, nos lares, não havia “banheiro de filho”, “banheiro de pai”… “banheiro de avô”.

Os alunos apagaram obscenas inscrições e sugestivos desenhos feitos nas portas dos banheiros. Também retiraram, por já não serem necessários, dísticos ridículos: “Por favor, urine no vaso”, “por favor, dê a descarga”, “por favor, não jogue no vaso papel ou produtos de higiene”, “por favor, não suba para cima do vaso… Por favor! Na escola da aula, o que era óbvio virava favor.

A técnica de limpeza deixou de limpar os banheiros e passou a ensinar os alunos e os professores a limpá-los. Quanto muito, participava na limpeza, para que os utentes aprendessem noções de higiene e a as aplicassem, na escola como nas suas casas.

Não levávamos “a comunidade para a escola” ou “a escola para a comunidade”. O prédio da escola deixou de ser um redil, onde se amontoavam crianças, sob pretexto de que os pais precisavam de ir trabalhar. Transformou-se numa ágora, lugar de fraterno e participado encontro. E não se fazia “visitas de estudo à comunidade”, pois ninguém visitava a sua própria casa – vivia nela!

A escola sem aula era um lócus de aprendizagem de cidadania, no exercício da cidadania. Muros foram derrubados e portaria foi substituída por um espaço de acolhimento, junto à biblioteca escolar. Esta deixou de estar fechada com cadeado e a comunidade tinha livre acesso ao seu acervo. Até os professores começaram a consultar alguns livrinhos de uma “biblioteca básica”, que o ministério havia oferecido a todas as escolas, mas da qual, até essa altura, os professores desconheciam a existência.

A sala dos professores deixou de ser refúgio e muro das lamentações. Passou a ser a sala de todos os educadores – professores, pais, funcionários, comunidade – lugar onde novas práxis anunciavam ter chegado o tempo de novas construções sociais de aprendizagem numa escola cidadã.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CLXXVII)

Maricá, 1 de agosto de 2040

Na noite do dia 31 de julho, correspondendo a uma meritória iniciativa de homenagear heróis, aplaudi os professores, como já tinha aplaudido os técnicos de saúde. No mesmo dia, recebi uma mensagem com uma canção em anexo, cujo estribilho começava assim: “Na sala de aula é que se forma o cidadão”.

Que tipo de cidadão era “formatado” em sala de aula? Cem anos depois do nascimento de Darcy Ribeiro, mais de meio século após a construção dos seus CIEP, ainda era preciso lembrar o óbvio? Vi-me na necessidade de alertar amigos, para que não replicassem (nesse tempo, “viralizassem”) subliminares mensagens, portadoras de traços culturais caducos.

Naquele tempo, medidas de manutenção do desperdício de dinheiro e de gente serviam para “formar cidadãos”, na escola da sala de aula de um Brasil de trinta milhões de analfabetos. Ensinos híbridos e outras medidas de retrocesso perenizavam o velho paradigma escolar, reprodutor de oprimidos e opressores, que o malogrado secretário de educação Paulo Freire tanto denunciou.

Nem na última década do século passado, aprovada que fora a Lei de Diretrizes e Bases, os reformadores escutaram os apelos do Darcy. Ele havia sofrido o exílio, quando o seu país dormia distraído, sem perceber que era subtraído em tenebrosas transações. E, já quando o câncer consumia o seu último sopro de vida, a lei que fizera aprovar nos idos de 96 continuava sendo letra morta.

Vinte anos depois, os autores de uma anunciada reforma acreditavam que o sistema iria melhorar com “boletins e reprovações”, quando, “pelo menos um período por dia fosse dedicado ao desenvolvimento de atividades interdisciplinares”, quando houvesse “espaço para os professores trabalharem por projetos em algumas disciplinas”, ou quando “no último ciclo, os alunos fossem protagonistas do próprio aprendizado”. E somente no último ciclo aconteceria a “emancipação social e cidadã dos alunos” (sic!).

Subi o morro de Santa Teresa. Na sede da fundação, que leva o seu nome, reli mensagens do Mestre Darcy:

O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso (...) A crise da educação brasileira não é uma crise, é um projeto. Havia uma malévola intenção por detrás das iniciativas de política educacional. E mais do que um projeto, a crise era um “caso de polícia” – os desgovernantes agiam à margem da lei.

Restava saber se os reformadores agiam por ignorância, ou se eram loucos. Einstein nos avisava de que “a maior insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Súbitos acessos de loucura poderiam ter ocorrido. Por exemplo, quando, como de algo sério se tratasse, políticos apregoavam na comunicação social que “iriam acabar com a progressão continuada”. Como seria possível acabar com algo que nunca havia começado? Lamentável era a manutenção da “aprovação automática”, prática que os desgovernantes fomentavam.

Darcy Ribeiro faleceu em Brasília, em fevereiro de 1997. No seu livro de memórias escreveu:

”Termino esta minha vida já exausto de viver, mas querendo mais vida, mais amor, mais saber, mais travessurasFracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CLXXVI)

Catalão, 31 de julho de 2040

Queridos netos, nos idos de 2000, entreguei-vos um montinho de cartas, com a recomendação de que, quando a decifração dos códigos da linguagem dos homens vos permitisse, as irieis ler e sobre elas refletir. Na última das cartas, disse-vos que que não seria fim das estórias. E retomei a sina de avô contador, quando um vírus nos remeteu para o único modo de comunicar: o virtual.

Por finais de julho do distante 2020, soubemos que produção de petróleo no Brasil caíra 6,5% devido à pandemia. Que o ministro da Educação estava infetado pelo vírus, que já fizera mais de noventa mil vítimas. E que uma pesquisa realizada na Coreia do Sul sugeria que a reabertura das escolas iria provocar mais surtos epidêmicos e pandêmicos. Entretanto, muitas vozes reclamavam o “regresso às aulas” e os desgovernantes anunciavam a exposição das crianças a uma praga mais letal do que a covid-19 – a praga do instrucionismo.

Por essa altura e segundo dados do Ministério da Saúde, a capital federal tinha cerca de cinquenta mil casos de covid-19 e contava mais de seiscentas mortes decorrentes dessa doença. Mas, o governador dizia “estar preparando tudo, vendo todos os protocolos”. Que iria reunir com técnicos de diferentes áreas, para discutir a reabertura de salões, academias, bares, restaurantes e escolas e privadas. As escolas particulares acumulavam prejuízos, professores eram despedidos, ou substituídos por robôs. A educação virara mercadoria e a Economia ditava as suas leis. No WhatsApp, a minha amiga Juliana perguntava: E as escolas públicas também vão reabrir?

A situação não se alteraria com o dito “regresso”. O instrucionismo, que a administração impunha às escolas, iria continuar a causar mais vítimas do que as vidas ceifadas pelo covid-19. Os indicadores dispobíveis davam conta do genocídio educacional causado pela escola da aula. E a tragédia anunciada iria manter a situação de calamidade educacional, que se arrastava, há mais de dois séculos.

No Distrito Federal a situação poderia ser considerada de catastrofe. Mais de metade dos estudantes encontravam-se abaixo do “nível dois” em matemática, o patamar que a OCDE estabelecia como necessário para que se pudesse exercer plenamente cidadania. O nível de proficiência em português e matemática – o percentual de alunos de nono ano com plenas condições de compreender e de se expressar – descera a níveis absurdos. Os índices de analfabetismo continuavam elevados. No quinto ano do ensino fundamental, muitos alunos estavam com mais de dois anos de defasagem. Jovens em idade escolar não estavam matriculados, por alegada “falta de vaga”.

Anos a fio, impondo a prática do modelo da ensinagem, a administração educacional semeara analfabetismo, ignorância, corrupção intelectual e moral. Obrigando a “regressar à sala de aula”, iria expor avós e familiares dos “grupos de risco” ao perigo de contágio pela covid-19. Iria voltar a expor as crianças e os jovens a práticas escolares obsoletas. Se, numa aula, quase nada se aprendia, por que deveriam as crianças regressar às aulas? Para quê regressar às aulas? Para se continuar a destruir futuros? A administração não responderia a estas e a outras pertinentes perguntas. Continuaria, por mais alguns anos, a destruir vidas. Impunemente!

Só quando, depois de extintos os ecos do tempo da história, os homens acedessem à era do espírito, iriam entender a fragilidade dos paradigmas que sustentavam as suas ciências, reconhecer como aparentes as suas imutáveis realidades.

Por: José Pacheco

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