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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXXIII)

Viana do Castelo, 27 de janeiro de 2041

Até aos anos trinta, as modalidades de formação tradicionais – curso, módulo de curso, seminário, estágio – reproduziram o velho e obsoleto modelo instrucionista,

reforçaram dependências nada consentâneas com as metáforas tradicionalmente aceites no discurso contemporâneo das ciências da educação. Disso tomei consciência, quando umas amigas professoras me pediram que as ajudasse.

Era assunto urgente, disseram, e no fim de semana imediato, no meu carrinho em segunda mão, abalei para o Portugal mais profundo. Viagem longa, por estradas onde Cristo não passara, até chegar à aldeia onde me esperava uma sopinha de pedra e a simpatia das minhas colegas. Após o repasto, reunimos.

“Olha, Zé, estamos aflitas. Passou por aqui um inspetor, perguntou pelo nosso projeto. A gente sabe lá o que isso é! Tu, que andas lá pelo sindicato, poderás ajudar-nos? Tens isso, lá na Ponte? O homem disse que voltaria para o mês que vem e que quer ver o tal de projeto. O que é isso? Ele disse que saiu uma lei… ”

Sosseguei-as. Expliquei o que era “o tal de projeto” e me predispus a voltar. Entretanto, poderiam telefonar (naquele tempo só havia telefone fixo). Não telefonaram, mas eu liguei. E combinei voltar à aldeia.

Foi rápida a reunião e eu pude voltar a casa no mesmo dia. Uma professora foi lendo o “projeto”, enquanto as restantes faziam crochet, ou conversavam sobre a “Gabriela” (uma novela de TV). A certa altura, a leitora disse:

“Levaremos os nossos alunos à lota…”

As professoras pareciam estar alheias à fala da colega, mas estavam bem atentas e possuíam uma boa memória dicótica.

“Ora repete lá isso outra vez, ó Joaquina!”

A Joaquina repetiu. E a pergunta veio em coro:

“O que é isso de lota? Eu não sei”.

Interrompi, para informar que lota era um lugar onde se expunha o peixe, quando os barcos voltavam da pesca.

“Estais a ver?” – disse a Joaquina – “Fizemos mal em copiar o projeto das colegas da Póvoa”.

Póvoa era uma localidade junto ao mar. A aldeia ficava a mais de duzentos quilômetros do mar, mas a criatividade daquelas professoras era imensa. Logo uma delas sugeriu:

“Não faz mal. Apaga a lota e põe a horta”.

E assim ficou um projeto de que o senhor inspetor muito gostou. E que foi parar no fundo de uma gaveta.

Regresso a um assunto, em que me considero a pessoa menos indicada para o abordar. Fui formador de professores – inicial e continuada – formador de formadores, consultor e avaliador de formação, diretor de um centro de formação, autor de uma dissertação sobre formação. Enfim! O que aprendi em setenta anos de formativa labuta foi que formar professores é missão impossível. Mas que é possível ajudá-los a transformar-se.

A lógica administrativa invadia espaços formativos onde deveria predominar a pedagogia e a antropogogia. O academismo constituía-se num óbice ao efetivo desenvolvimento pessoal e profissional dos professores. E a herança reprodutora condicionava a autonomia dos projetos.

No planejamento da formação, era frequente a referência à metáfora do professor “profissional intelectual, autónomo, reflexivo, crítico da sua prática”, mas a hegemonia da modalidade curso (com ou sem esta designação), as metodologias e o tipo de avaliação utilizado, contrastavam com os pressupostos introdutórios dos planos de formação.

Sabemos, hoje, que  toda a formação é auto-formação. Mas, no contexto daquela que se fazia, o professor não era considerado sujeito de formação, mas mero cliente de produtos pré-confecionados. A metáfora do “professor autónomo, reflexivo” não passava de simples figura de retórica.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXXII)

Alcácer do Sal, 26 de janeiro de 2041

A Adélia conseguiu assistir às aulas online. Abdicou da novela das sete e – supremo sacrifício! – o namorado foi-se, ao cabo da segunda semana de confinada clausura. Saiu vitoriosa da contenda travada com uma pilha de livros. Repetira ladainhas em voz rezada, na crença de que a memória a não traísse. Sabia a matéria, na ponta da língua. Fizera a mnemónica das fórmulas. E, confiante na sua memória de curto prazo, abalou para a fatídica prova. Porém…

Nesse dia, esperou mais de uma hora pelo sempre atrasado ônibus. Depois, no meio do tumulto, gastou meia hora para achar a sala da prova. Quando chegou ao primeiro lugar da fila, o instrutor disse-lhe que a sua sala era em outro prédio. Faltavam oito minutos para os portões fecharem. Correu a bom correr, por uns dez minutos. Quando alcançou a sala, já tinham fechado o portão. A Adélia ingressou no rol da mais da metade dos inscritos, que não fizeram a prova.

A cena repetir-se-ia no domingo seguinte. Mas, a já experiente Adélia conseguiu chegar a tempo ao local da prova. A sala estava setenta por cento ocupada e ela estava muito nervosa. Arfava, e a máscara não lhe permitia respirar devidamente. Iniciada a prova e anunciado o tempo limite para a sua realização, a Adélia fixou um olhar de hipnotizada num relógio. Bloqueou-se a mente, tolheram-se os movimentos. As folhas da prova ficaram em branco e humedecidas por lágrimas.

Foram-se meses de aturado sacrifício. Nada aprendera nas aulas online, apenas fizera decoreba. E, como a memória era esperta, até a decoreba se foi, ao cabo de alguns meses. Teria de retomar o “estudo”, no ano seguinte e frequentar um “cursinho”.

Decorridos alguns dias sobre o drama, sobreveio uma desmesurada sudação, crises de choro, incontinência urinária. Nada que a competência dos médicos e alguns sedativos não conseguisse dissipar. Mas, não era possível disfarçar o Suplício de Tântalo dos exames, seria necessário alertar para efeitos colaterais, como a aprendizagem da corrupção.

Enquanto a Adélia me descrevia o seu drama, eu evocava outras situações absurdas em que as escolas de antigamente eram pródigas. No já distante 2021, ainda havia quem confundisse prova com avaliação. Melhor fora que defendessem a prática de uma avaliação rigorosa, que dispensasse as escolas dos inúteis e caros rituais de exame. Mas, a administração educacional nada entendia de educação e, em particular, de docimologia. Mesmo em plena pandemia, promovia perigosas aglomerações, a que chamavam Enem.

Uma prova era o mais falível instrumento de avaliação. A lei estabelecia que a avaliação fosse formativa, continua e sistemática. O Enem estava fora da lei, porque não denotava tais caraterísticas. Duas das vozes mais autorizadas desse tempo – Danilo Gandin e Rubem Alves – denunciaram a situação, propuseram alternativas. Nada adiantou. Para além de ignorante e autoritária, a administração educacional sofria de autismo, não interagia socialmente, recusava dialogar.

Para além de não ser rigoroso, o Enem era uma excludente câmara de tortura. Em 2021 foi cometido um atentado contra a juventude, numa sociedade doente, que não cuidava do bem-estar dos seus jovens e engendrava o seu suicídio enquanto sociedade.

O Enem não colocava apenas jovens psicologicamente mais frágeis à beira de um ataque de nervos. Não era somente responsável por crises de sudação, choro ou incontinência urinária. Mais do que um potencial descontrolador de esfíncteres, o Enem era uma porcaria (eu ia escrever “bosta”, mas optei pelo eufemismo, para não ferir sensibilidades).

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXXI)

Porto Covo, 25 de janeiro de 2041

Por quase setenta anos, muito se falou sobre a Escola da Ponte e pouco se disse. Até foi argumento de um romance, sem que o seu “lado oculto” fosse desvendado. Muito se escreveu sobre essa escola e raramente se acertou, no que tange aos seus fundamentos. Dado que a eternidade se aproxima a passos largos, vejo-me na necessidade de vos contar as estórias que fizeram história, pelos olhos atentos de visitantes e estudiosos.

Irei citando autores, enquanto viajo por lugares para onde a Ponte me levou, na vida de andarilho que escolhi. Esta primeira cartinha feita de citações foi escrita (melhor dizendo, copiada), enquanto olhava a Ilha do Pessegueiro, onde se diz que um vizir plantou uma árvore dessa espécie. E que, por amor – certamente não correspondido – se suicidou, ainda jovem. Foi também por amor que eminentes pedagogos visitaram e estudaram a Ponte. Em dissertações, teses e artigos, deixaram registadas as suas impressões, em livros (muitos livros) publicaram as conclusões dos seus estudos. Começarei por evocar o João.

João Barroso foi professor catedrático da Universidade de Lisboa. Especialista em Administração Educacional, foi o obreiro maior do edifício legal da autonomia das escolas. Eis o que ele escreveu num artigo publicado há quarenta anos.

A Escola da Ponte é uma escola pública onde se tem vindo a construir, desde há quase trinta anos, um projeto sólido e inovador, com um forte envolvimento da sociedade local, em particular dos pais, e com um sentido ativo e responsável de autonomia institucional (…) fazem a diferença, pela maneira inovadora como os seus professores desenvolvem as aprendizagens dos alunos, estabelecem parcerias com a comunidade e adequam as suas obrigações de serviço público aos valores da justiça social, da igualdade de oportunidades e da construção da cidadania.. 

A consistência do projeto, a capacidade de dinamização do seu principal promotor, bem como o comprovado sucesso dos seus resultados fizeram da Ponte um case-study para os que se interessam pela educação, em diferentes domínios: do curricular ao organizativo, da formação dos professores às práticas inovadoras, das teorias da mudança à cidadania (…) constitui um exemplo paradigmático das posições em confronto no debate atual sobre a escola pública.

A visibilidade que o projeto foi tendo, ao longo destes anos, deu à Ponte uma notoriedade pública, a nível nacional e internacional, alimentada e ampliada pelas inúmeras visitas que foram feitas à escola, pelas pesquisas realizadas e pelas intervenções produzidas pelos autores-atores do projeto, em congressos”.

Interrompo a citação, para fazer um breve comentário sobre congressos.

Sempre que, na qualidade de “autor-ator”, participava em congressos, esperavam que eu lesse um discurso, usasse um power point. Mas, eu agia nas “palestras” como no chão da escola. Na Ponte, privilegiávamos o diálogo construtor de conhecimento.

Perguntavam-me pela “apresentação”. Respondia que não usava “apresentações”. Contrapunham que “todos os palestrantes usavam”.

“Mas, eu não uso!”

“Se o doutor não vai usar power point, o que vai dizer ao público?”

“Não sei. Ainda ninguém perguntou” – respondia.

Ficavam com cara de paisagem, entregavam-me o microfone, e na beira do palco, eu perguntava:

O que quereis saber?”

Respondia-me um pesado silêncio de cem, de mil, ou mais pessoas. Eram professores. Nada perguntavam. Talvez as aulas lhes tivessem destruído a curiosidade. Talvez, algures, outros professores os tivessem proibido de fazer perguntas.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXX)

Aljezur, 24 de janeiro e 2041

Como diria o Mestre Boal, “cidadão não é aquele que vive em sociedade – é aquele que a transforma”. E outro mestre, de nome Chaplin, dizia-nos que cada pessoa que passa pela nossa vida não nos deixa só, deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.

Na génese das comunidades de aprendizagem, cada pessoa deixava um pouco de si e levava um pouco do que nós éramos. Nessa permuta, prevaleciam valores fundadores do projeto da Ponte dos idos de setenta: autonomia, solidariedade, responsabilidade.

Responsabilidade era algo que os desgovernos de então não manifestavam. Após ser alcançada a trágica cifra de duzentos mil mortos, a OMS informava o Brasil de que era o país com o maior aumento de novos casos de coronavírus. Sem vacina e com o vírus em alta, muitas cidades instituíam “toque de recolher”.

Na Inglaterra, a polícia interrompia um casamento com quatrocentas pessoas. Em Portugal, num cenário de aparente normalidade, entre filas nas paragens de ônibus (que, por lá, se chamavam “autocarros”, botecos com venda à porta e pouco policiamento, os efeitos das aglomerações de Natal e Ano Novo se fariam sentir.

E o “fura-fila” continuava. Para além de prefeito e professores (que belo exemplo!), secretários de… Saúde. Um deles pediu, publicamente, perdão por furar fila e vacinar a “mulher da vida dele”. Numa live, o secretário, que era também pastor de uma igreja, admitiu ter errado ao infringir as diretrizes do Ministério da Saúde, mandando vacinar a sua mulher contra a covid-19, mesmo ela não figurando entre os grupos prioritários selecionados para a primeira fase de imunização.

Queridos netos, mais exemplos não acrescento, pois já ficais com uma ideia da dimensão da corrupção intelectual e moral desse tempo. Vede a que ponto chegara a degradação dos costumes. Já não bastaria a higiene sanitária, era preciso fazer uma higiene social, educacional.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças indicou como causa do “aumento notável no número de casos de covid-19” o “relaxamento das restrições o Natal e de Ano Novo”. Epor meados de janeiro, chegaria o dia mais trágico da pandemia: recorde de mortes e de novos casos. Uma infeciologista pediátrica apelava ao bom senso:

Não é só as escolas, tem de fechar tudo, a situação é caótica. Estamos a viver uma “situação de catástrofe. Temos de vacinar todos os idosos, “os que morrem”.

Finalmente, o Governo anunciava o encerramento de todos os estabelecimentos de ensino. Antes, de hesitação em hesitação, em gestos irresponsáveis, se foram perdendo vidas. Mortes evitáveis, se fossem outros os valores e os princípios de ação, se fossem outros os governantes.

Quando o Marcos nasceu, escrevi um livrinho com o título “Para os filhos dos filhos dos nossos filhos”. Encontrais, hoje, um final feliz para esse livrinho. Tempos sombrios já lá vão. Viveis tempos luminosos. Mas, para que os vossos filhos pudessem viver tempos felizes, muitos educadores abriram caminhos, lançaram sementes de mudança, sofreram agruras.

Nesses tenebrosos tempos, à margem da tragedia, uma “Carta de Princípios da Rede de Comunidades de Aprendizagem” estabelecia um saudável contraste. Na prática, assumia valores como a solidariedade, que, mais do que um objetivo ético a ser atingido, era condição universal para a construção de um mundo pacífico e igualitário. A “Carta” assumia o primado da cooperação, contrariando tendências individualistas. E o princípio da responsabilidade, a capacidade criativa do ser humano, que lhe permitia agir de forma ética e consciente, em sociedade.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXIX)

Lapa do Lobo, 23 de janeiro de 2041

Uma das manias de velhos, como eu, é a de guardar quinquilharias. Ontem, encontrei uma caixa cheia de jornais. Passei a tarde lendo notícias dos idos de vinte, com um sentimento misto: de incredulidade e desgosto. Hoje, já é possível identificar as principais causas de tragédias anunciadas: ignorância e corrupção.

Num dos jornais, li notícias como estas:

“Mesmo sem público, Libertadores levará palmeirenses e santistas ao Rio. Torcedores querem estar mais perto do Maracanã na final; aglomerações preocupam autoridades” – Junto a um estádio, em bares lotados, um fanatismo irresponsável iria causar mais algumas aglomerações, propagação do vírus.

“Após críticas, Ministério da Saúde retira do ar aplicativo que indicava remédios sem eficácia contra Covid” – A ministerial desinformação era desmentida, mas tardiamente, pois contribuíra para mais algumas mortes evitáveis.

Outro jornal publicava uma entrevista com um secretário de educação. Quando, em outros países, se reconhecia que a “volta às aulas” havia sido fator de agravamento da crise, esse secretário afirmava que “a escola deveria ser a última a fechar por causa da pandemia”. E outros disparates proferiu:

“A ausência das aulas traz uma série de prejuízos aos alunos” – O secretário estava equivocado. Não sabia que eram as aulas (presenciais ou remotas) a causa da “série de prejuízos aos alunos”.

“O modelo híbrido veio para ficar” – Hoje, sabemos quanto custou ao erário público a adesão a esse paliativo do instrucionismo. Mas os ingênuos secretários da época não resistiram a mais essa pedagógica “atração fatal”.

“Temos evidências e estudos que garantem um retorno feito com segurança” – Até hoje, ficamos sem saber quais seriam os “estudos” e as “evidências”.

O “grupo de risco” em que o vosso avô se incluía, era prioritário num tardio processo de vacinação. Porém, eram comuns notícias como esta:

“Alunos e professores em home office “furam fila” da vacina no HC de São Paulo. Confusão com ‘fura filas’ reflete falta de cidadania e de planejamento federal”.

O instrucionismo gerava corrupção. Prefeitos e outros oportunistas – entre os quais, professores e alunos! – “furavam a fila” da vacinação.

Há vinte anos, era comum ver carros ultrapassando pelo acostamento, “furar fila” e assistir a outras práticas sociais nocivas. A modernidade projetara a sociedade numa ética individualista, na qual se pretendia conservar a benesse da liberdade, ignorando a prática da responsabilidade, que lhe era inerente.

Nas visitas a escolas, eu observava as inscrições pichadas nos banheiros, manifestações de indigência mental, de irresponsabilidade daqueles a quem competia fomentar a assunção de dignidade humana, o que também passava pela utilização de um banheiro.

Numa cidade do interior, ao lado da placa de aviso de quebra-molas, vi uma placa repleta de “nãos”:

“Não urine na calçada / Não jogue lixo no chão / Não faça sexo na praça / Não saia atirando por aí”.

Uma universidade ofereceu viveiros de plantas a escolas. As plantas secaram. Parecia que quaisquer tarefas que exigissem alguma dedicação eram de responsabilidade de outrem. Se um professor apontasse algo errado a um aluno, era provável que a resposta fosse “Não fui eu!”

O instrucionismo fragilizara o conceito de ética e as transgressões eram justificadas como regras do jogo de sobrevivência. Urgia concretizar uma educação reestruturante da vida pessoal e comunitária.

A pandemia iria prolongar-se por todo o 2021. Mas, uma nova construção social de educação emergia do caos.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXVIII)

Casal do Sapo, 22 de janeiro de 2041

Há cerca de setenta anos, em equipe, contribuí para uma escola tivesse concretizado, plenamente, a proposta da “Escola Nova”: a transição do instrucionismo para a aprendizagem. Nessa transição, poderemos identificar três períodos distintos.

O primeiro foi o tempo em que estive sozinho. Na “minha sala de aula” – nesse tempo, eu “dava aula” e dava muito bem… – aplicava a parafernália freinetiana: a imprensa Freinet, os ficheiros autocorretivos, a aula passeio, a correspondência escolar, a classe cooperativa, a assembleia de turma e até a famigerada “aula invertida”.

O segundo foi marcado pela rutura com o trabalho solitário em sala de aula. Um projeto humano é sempre um projeto coletivo e, com a Maria José e a Maria Luísa, a primeira equipe de projeto foi constituída. Os restantes professores da escola iam assistindo e denegrindo o nosso trabalho junto da comunidade. Mas nós já éramos pertença da comunidade. Após a publicação da Lei de Bases, toda a escola se uniria em torno de um projeto.

No estertor das velhas práticas, apenas uma professora resistiu. Dizia que estava “velha demais para projetos” (contava, na altura, trinta e um anos). Já não havia uma organização em turma, mas a Dona Fulana exigia uma turma. Já nos tínhamos emancipado da aula, mas a senhora dizia que, “se não a deixassem dar aula, nada faria”. E passava dos dias lendo revistas da moda, num canto de sala.

A comunidade se insurgiu. Falou ao coração da docente, que reagiu com ameaças. Os pais souberam como lidar com a situação. E mais não conto, porque se trata de um episódio difícil de acreditar que tivesse acontecido…

Mas, a que propósito vem esta prosa? – perguntareis. Porque não resisto a contar-vos outro peculiar episódio, que havia guardado para incluir num livrinho de estórias incríveis e que não ouso contar. Talvez as publique a título póstumo (o que, dada a minha provecta idade, já não deve faltar muito…).

Por via de uma denúncia anônima, tivemos o desprazer da visita de um fiscal do ministério. O zeloso funcionário ordenou que a escola retomasse o uso do livro de ponto.

De nada valeu aos professores dizer que não precisavam de tal instrumento de fiscalização, que nunca faltavam ao serviço, ou que o livro de ponto atentava contra a sua dignidade profissional, pois se consideravam educadores autônomos e responsáveis. Se o fiscal ordenou, estava ordenado, teríamos de cumprir os regulamentos instrucionistas.

Por dever de obediência hierárquica, a ordem foi cumprida…com criatividade. As assinaturas no livro eram multicoloridas: cor de laranja, vermelhas, amarelas… de modo que, se as folhas fossem olhadas a mais de um ou dois metros de distância, assemelhavam-se a pinturas de Van Gogh – flores amarelas, rubras…

O fiscal voltou, para verificar o cumprimento da ordem. Pareceu escandalizado e pretextou que não se podia assinar o ponto com tais cores. Perguntamos ao fiscal se estava escrito na lei que não se podia assinar a vermelho e amarelo.

Também lhe explicamos que os regulamentos instrucionistas impediam a inovação. E que, se o ministério fosse esperto, deveria adequar os seus regulamentos à lei geral.

E o fiscal… “nem chus nem mus”. Pediu o livro de visitas, rasgou a folha onde, tempo atrás, havia redigido a ordem, jogou-a no lixo e disse para dar sumiço ao livro de ponto. Na despedida, ainda pediu que não constasse que ele havia estado naquela “escola de loucos”.

Aquele fiscal nunca iria entender que aqueles “loucos” jamais abdicariam de uma prática emancipatória, avessa a regulamentos instrucionistas.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXVII)

Vila das Aves, 21 de janeiro de 2041

As gaivotas sonhadoras, personagens de estórias contadas quando nascestes, aprenderam duras lições. Elas estavam sempre prontas a aprender com outras aves. A maior das lições foi dada por uma andorinha que, apercebendo-se do drama vivido pela escola das aves, por ali se deixou ficar, enquanto durou o cerco imposto pelos abutres.

É certo e sabido que nenhuma andorinha, em seu perfeito juízo, se deixaria ficar trocando o certo pelo incerto, arriscando a vida. Mas esta aceitara plantar ninhos em outros beirais. E, como sempre acontecia, perante a simplicidade e beleza dos pássaros, que me traziam à memória a simplicidade e a beleza esquecidas por muitos homens, quedei-me num silêncio comovido perante o gesto da andorinha resiliente.

Pressinto, queridos netos, que vos questionareis: como pode essa andorinha arriscar expor-se aos rigores da invernia e ao peso das saudades do futuro? Sabemos que a andorinha é uma criatura de hábitos gregários, que não sobrevive à solidão e que, quando aprisionada, resiste secretamente em silêncios que falam de voos por dentro. Mas essa manifestava uma alegria de existir maior que a saudade que sentia de África. É que a andorinha não estava sozinha, mas amparada. Eu explico.

No decurso das viagens, sempre que uma andorinha adoecia ou ficava ferida, logo as duas mais próximas abandonavam o bando, para a acompanhar e proteger, somente regressando ao aconchego de um outro bando em migração, quando a andorinha protegida recuperasse a capacidade de voar. E eu bem vi, ao longo de um longo Inverno, um ninho de lama a abarrotar do calor de três pares de asas negras. Assim, as gaivotas receberam destas andorinhas que sonhavam o regresso da Primavera mais uma prova de que a solidariedade não era uma palavra vã.

Num distante mês de janeiro, invernosos frios foram temperados com a chegada de pássaros de todas as cores e origens, que, seguindo o exemplo das andorinhas solidárias, acorriam em auxílio da escola das aves. E já não era apenas uma escola que urgia perseverar, mas todas as escolas onde, sob múltiplas formas esboçado, o futuro despontava.

Como vedes, eis-me, de novo em terras portuguesas. Havia jurado nunca mais passar um inverno no meu país de nascimento. Viciei-me no calor tropical do país de adoção. Mas, decidi fazer-vos uma visita. E voltar – talvez pela vez derradeira – ao lugar de todos os dramas de infância e juventude.

Senti-me assaltado por memórias, que me remeteram para as visitas a uma cadeia, onde o vosso bisavô estava preso, apesar de inocente. O seu “crime” tinha sido o de nascer pobre e crescer sozinho. Aos sete anos de idade, saíra da casa paterna. para um solitário correr mundo.  E a lição, que recebi de um pária social foi a de que inclusão não rima com solidão.

Hoje, se completam sessenta e seis anos sobre o infausto dia em que a vossa bisavó nos deixou. Morreu nos meus braços, nesse final de tarde. Vivera uma vida feita de sofrimento e solidão, mas não morreu sozinha.

O falecimento da Mãe Luíza foi como um sinal de alarme, o seu exemplo de vida me ensinou a lição da andorinha solidária. Numa sociedade do “cada-um-por-si”, poder-se-ia estar sozinho na cela de uma prisão, no seio da família ou dentro de escolas, onde não havia escuta sensível.

Como diria a raposa do Pequeno Príncipe, só conhecemos bem as coisas que cativamos. A nossa vocação deveria ser a de cooperar, a de ajudar a voltar à vida entidades vivas isoladas em si. Porque, nesse tempo, ainda havia quem estivesse bem acompanhado, em lugares ermos, e quem estivesse sozinho, no meio de uma multidão.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXVI)

Santa Terezinha, 20 de janeiro de 2041

Sempre que, por uma boa causa, eu ouvia falar de um educador, ia à sua procura, onde quer que ele estivesse. Foi pelos idos de 2016 que conheci a Gina. Eu andava por Brasília e soube de um evento – creio que por março, na sede do Sinpro-DF – e me coloquei na última fila do público, para a escutar.

Antes que a sessão de autógrafos começasse, discretamente, tal como tinha chegado, me afastei do local. Naquela altura, involuntariamente, o vosso avô era “figura pública”. Não queria que se apercebessem da minha presença, mas alguns minutos bastaram para reter a impressão que a Gina me causou: uma aparente fragilidade, adornada de uma extrema simplicidade, aliada à firmeza, que só uma “Mulher Inspiradora” poderia demonstrar.

Decorridos cinco anos, a reencontrei, numa entrevista publicada na Internet. Não resisto à transcrição de alguns excertos, para que entendais o porquê de eu me manter esperançoso, apesar dos pesares. Muitos anônimos educadores, como

a Gina, davam-me ânimo para não desistir, nos ignominiosos idos de vinte:

“Se assumirmos unicamente a narrativa de que só houve perdas, o que a gente perde é a chance de aprender. A concepção de educação que temos interfere na maneira como avaliamos esse momento. Para a nossa educação de base colonial, bancária e instrucionista, e que encara o processo educacional como entrega de conteúdo, realmente ficamos preocupados com 2020, e dizemos que foi um ano perdido que precisa ser recuperado. 

Uma professora querida contou que tinha uma aluna que não fazia as tarefas, e foi atrás: essa menina tinha sido despejada de um imóvel e estava morando em uma lona no meio do nada. A gente fala de escola na pandemia como se fosse possível no meio de uma crise as crianças seguirem aprendendo como se nada estivesse acontecendo. Então, é preciso entender a escola como um braço fundamental das redes de apoio e entender que a escola ocupa espaço de muita responsabilidade, por chegar a todas as crianças e adolescentes, antes dos outros entes. 

Os nossos problemas educacionais são, antes de tudo, problemas de desigualdade social, que tem origem no racismo estrutural. Então, a nossa desigualdade tem cor. Quatro quintos da nossa história foi escravocrata. Depois, o Brasil criou mecanismos e leis para impedir a inclusão social e promover o extermínio de pessoas negras, orientado pela lógica de eugenia. 

Novas tecnologias a serviço de velhas práticas podem produzir uma educação ainda mais bancária, instrucionista e tecnicista, e o professor pode ser reduzido a um burocrata do currículo e o estudante a tarefeiro. Promover pedagogia digital significa promover aprendizagem, ou seja, criar interação, vínculo, pertencimento, e colocar o estudante como protagonista do processo. No Brasil existe uma falsa dicotomia: se uma escola for comprometida com a aprendizagem, não pode ser afetuosa e democrática. O estudante só vai se abrir para o conteúdo quando se sentir abraçado, acolhido, pertencente, e isso vale para qualquer fase da educação. 

É interessante pensar em um trabalho integrado e intencional com um currículo de transição. Muitas escolas criaram processos e metodologias que não existiam antes, mas se não parar e refletir, esses aprendizados se perdem. Não basta falar sobre voltar para a escola ou não. Precisamos discutir como, a partir dessa crise, podemos aprender a tornar a escola mais qualificada, mais comprometida com a aprendizagem, alinhada com a ideia de que temos responsabilidade social, e de que ela não caminha sem as políticas públicas que a apoiam”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXV)

Pilar, 19 de janeiro de 2041

Deverás estar recordada, querida Alice, de um livrinho que escrevi, quando nasceste. Nele te contei estórias que não deveriam ficar por contar. Através de imperfeitas palavras, regredi ao tempo em que se desenhavam os destinos de crianças futuras como tu.

Contei-te estórias da velha escola, de velhos mundos. E te descrevi um reino encantado, junto ao mar. Era encantado, porque uma fada transformara todos os habitantes em pássaros. E junto ao mar… porque convinha ao enredo das estórias.

As personagens centrais dessas estórias eram gaivotas dissidentes, que decidiram abalar dos rochedos junto ao mar e ir à aventura. Porque, no mais profundo recanto de uma das mais profundas cavernas, encontraram velhos pergaminhos. Leram-nos. E foi esse achado que despertou o desejo de partir e de sonhar.

Num dos dias de um longo peregrinar, as gaivotas educadoras chegaram a uma terra entre dois rios…

Fiquemos pelas reticências e demos um salto temporal de meio século. Peço que perdoeis por mudar de tom, por ficar azedo, numa cartinha, que se anunciou doce. Precisarei de prescindir de poéticas personificações, para vos descrever outras sonhadoras gaivotas, que conheci ao longo da minha vida profissional. Poderíamos dividi-las em dois tipos: as que viraram “conformistas” e as verdadeiramente “sonhadoras”. E os professores sonhadores – é deles que falarei, a partir de agora – se subdividiam em três tipos.

Primeiro tipo: “sonhadores que sonhavam sozinhos”. Havia quem continuasse sozinho na sua sala de aula, na ignorância de que a profissão de professor não poderia continuar a ser um ato solitário e que deveria constituir-se em ato solidário. No exercício solitário da profissão, importavam modas pedagógicas, ambicionando ser um ridículo “professor nota 10”.

Também havia quem, por impotência, desistisse do árduo trabalho do Fundamental e do Médio e se isolasse em torres de marfim universitárias. Instalados no “superior”, produziam e vendiam livros, onde teorizavam teorias de teóricos que teorizavam teorias. Os seus inflados egos se exibiam em palestras, nas quais aconselhavam os seus ex-colegas do “Inferior” a fazer o que eles próprios não eram capazes de fazer.

Esses “sonhadores que sonhavam sozinhos” eram sonhadores inúteis.

Segundo tipo: “sonhadores salve-se quem puder”.

Havia quem, após frágeis tentativas de mudança, cedessem perante o autoritarismo de superiores hierárquicos. Passada a breve euforia, remetiam-se para o estatuto de “sonhador que sonhava sozinho”. Outros manifestavam sentimentos associais e inventavam paraísos artificiais. À margem do sistema, narcisicamente se extasiando na contemplação das suas falsas comunidades, se compraziam na ilusão de terem inovado.

Os “sonhadores salve-se quem puder” eram tão inúteis quanto os anteriores.

Terceiro tipo: “sonhadores que sonhavam juntos”.

Alguns sonhadores ousavam mudar e inovar. Em equipe, defendiam os seus projetos, até à exaustão. Depois, desistiam. Iam parar na fila de espera da psiquiatria, ou mudavam de profissão. Outros, também em equipe, desenvolviam uma tal resiliência, que não se deixavam abater, nem permitiam que os seus projetos fossem extintos. Eram sonhadores úteis – os primeiros, enquanto resistiam; os segundos, porque nunca desistiram.

O Raul os homenageou nas suas canções: “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas, sonho que se sonha junto é realidade”. Ou, como o Brecht diria, “há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CDXIV)

Tabira, 18 de janeiro de 2041

A “Declaração Universal para a Responsabilidade Humana” diz-nos que a Humanidade, em toda sua diversidade, pertence ao mundo vivo e participa de sua evolução, que os seus destinos são inseparáveis. Propõe princípios gerais, que podem servir de base para um novo pacto social. Eis um exemplo:

“O exercício do poder só é legítimo quando serve o bem comum e quando é controlado por aqueles sobre os quais esse poder é exercido; a busca da prosperidade não pode ser desvinculada de uma partilha justa das riquezas; os saberes e as práticas só adquirem todo seu sentido quando são compartilhados e usados em prol da solidariedade, da justiça e da cultura da paz”.

Isso mesmo: é impossível ser feliz sozinho”. Se um ser humano podia reivindicar seus direitos, deveria, igualmente, manifestar consciência de que as suas responsabilidades eram proporcionais aos direitos reivindicados. Mas, como diria Kazu, “éramos todos humanos, até que a raça nos desligou, a religião nos separou, a política nos dividiu e o dinheiro nos classificou”. E, em 2021, caminhávamos rumo ao nada, estávamos longe de concretizar os princípios dessa “Declaração”.

Já aqui vos falei do projeto das redes de comunidades de aprendizagem. Permiti que volte ao assunto, pois convirá fazer a memória desse movimento, que tantas e tão profundas mudanças operou. E, também, porque partiu da assunção de um compromisso ético, para concretizar os princípios expressos na “Declaração Universal para a Responsabilidade Humana”.

A criação de um núcleo de projeto marcava o início da reconfiguração das práticas. Quando os educadores que o constituíam, procediam à identificação de valores comuns, erguiam comunidades.

Os seres humanos são, implícita ou explicitamente, conduzidos por valores, que o conjunto de comportamentos reflete. Um valor é um fundamento ético, que norteia o comportamento humano e que é traduzido por uma única palavra.

Cada educador elaborava uma lista de valores, que considerava serem fundamentais na sua vida. Depois, verificar-se-ia a existência de valores comuns às várias listas. Esta tarefa poderia ser realizada com recurso a uma dinâmica chamada “árvore dos valores”. Identificados os valores comuns, definida uma matriz axiológica, tomava forma a equipe que asseguraria a concretização do projeto.

A partir do inventário de valores, era elaborada uma carta de princípios e estabelecidos acordos de convivência. Em seguida, procedia-se à análise de documentos. Seria preciso verificar se existia coerência entre a LDB e o projeto da instituição, bem como se a regulamentação era coerente com o teor do projeto. A carta de princípios definia um perfil de sujeito de aprendizagem e de tutor.

O levantamento de valores predominantes na comunidade e um inventário de necessidades e potencialidades da população completava o ciclo de instalação das turmas-piloto. Sobre elas vos falarei em outra cartinha.

Nos encontros realizados na ágora escolar, era partilhada a leitura crítica de documentos como a “Carta da Terra” e os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”. O quarto ODS era analisado criticamente, porque entre as intenções da “Agenda 2030” não constava o questionamento de um modelo educacional hegemônico.

Ao cabo dessas tarefas, era redigida com a comunidade uma minuta de “Termo de Autonomia”. Através da negociação e aprovação desse documento, se assegurava a estabilidade da equipe e a sustentabilidade do projeto. Finalmente, havia educadores que assumiam a dignidade de um exercício autônomo da sua profissão.

 

Por: José Pacheco

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