Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCCXLIX)

Santarém, 16 de abril de 2042

Estas “estórias do tempo da velha escola”, diariamente partilhadas, servem de subliminares referências para uma reorganização das práticas. São singelas contribuições para a construção dos fundamentos, mais ou menos, teóricos de um projeto, convites à autoformação em núcleos de projeto. Peço aos educadores participantes de (tens) transformações que as leiam, as comentem, ou criticamente as contestem. 

Nos idos de vinte, eu fizera alguma pesquisa em torno do conceito e da prática de círculo de aprendizagem. Como nunca publiquei teoria que não fosse testada, não me atrevi a fazê-lo dessa vez. Quis testar a teoria. O que ela me dizia era o que passarei a descrever.

Não ousei extrair conclusões desse estudo. As conclusões estavam sujeitas ao envelhecimento, desatualizavam-se. Eram a negação da complexa e imprevisível continuidade dos movimentos sociais, que pretendiam enquadrar. Concluí que o inconclusivo era a única conclusão possível. E parti de algumas, poucas precárias pressuposições.

Aprendi a lidar com o incerto e com contradições, o que foi possível concretizar no tempo escasso que sobejava de sete horas diárias de trabalho direto com crianças numa escola com projeto, entremeadas de mais três ou quatro horas semanais de aprendiz de círculo de aprendizagem. Construí a práxis possível, que foi sendo inscrita, conforme António Maria Lisboa a descreveu:

“Em cada momento de encontro, conforme os meus passos se provocavam e provocavam outros passos, precisamente, não pretendia legislar, mas encontrar. E, se venho falar-vos, é porque isso é ainda uma forma de encontro”.

Em meia dúzia de anos – estou a falar de meados da década de noventa, influenciado pelo aparecimento da Internet – o vosso avô lograra reunir um punhado de “ideias feitas” e outras tantas pistas para relançamento da pesquisa. Já quase tudo fora escrito e prescrito, desde o escolanovismo. No 3.0, tratar-se-ia de retomar princípios do paradigma da aprendizagem, juntando-lhe, não o EaD, mas a AaDP. Isto é: operar um contraponto com práticas formativas instrucionistas, substituindo o “ensino à distância”, que se tornava instantâneo modismo, por uma “aprendizagem à distância e presencial”.

Compreendi que eram diversos os caminhos dos círculos que eu acompanhava. Cada círculo de aprendizagem era merecedor de uma abordagem específica. O que havia de comum entre eles era aquilo que Muszkat dissera, que uma comunidade de aprendizagem era um “território do humano”, que aumentava o sentido de pertencimento e que suscitava uma decisão de continuidade, de permanência.

Os círculos de aprendizagem criados ao longo da primeira década deste século foram oportunidades de testar aquilo que na Escola do Projeto Âncora viria a ter forma plena. 

Quando o projeto foi destruído, já professores se tinham integrado plenamente no tecido social das favelas em torno da escola, nas culturas locais. A formação acontecia em coletivos auto-organizados, passando pela identificação de problemas e pelo reconhecimento dos saberes da comunidade.

A livre escolha de parceria nos círculos de aprendizagem foi outra das conquistas. Na Ponte, ganhou expressão o questionamento do regime de colocações e a monodocência, que desembocou num dos direitos adquiridos pelo projeto. Através da celebração do contrato de autonomia, os professores se associaram livremente, em equipe, e exerceram o direito de escolha direta dos profissionais de que o projeto necessitava, através de concurso universal com regras bem definidas.

Depois…

Por: José Pacheco

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