Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CM)

Vila Nogueira de Azeitão, 8 de junho de 2042

Netos queridos, para isto me deu, para partilhar memórias, que só entre avô e netos pode acontecer. Mesmo longe, o encontro acontece. Dizia um autor do tempo dos livros de autoajuda, que não havia longe nem distância. Era um escritor de nome Bach, que criou a personagem central das cartinhas para vós enviadas, no início do século: a gaivota. 

Certamente, ainda guardais dois livrinhos escritos para encurtar a distância entre um avô andarilho e dois netos crescendo no “longe e na distância”. Hoje, creio que já ninguém se lembra deles. Mas, o “Para Alice com Amor” chegou a constar da bibliografia de cursos de Pedagogia – Vede lá! E o “Para os Filhos dos Filhos dos Nossos Filhos” inspirou a minha amiga Janaína, que dele fez uma maravilhosa peça de teatro. 

Voltando à Terra… Naquela tarde de domingo montemorense, a conversa e a cerveja fluíam no Jardim dos Cavalinhos. O Hugo trouxera o seu violão, mas eu faltei ao encontro. Aconteceu que, chegadas de Évora, a Rita e a Vera requeriam a minha atenção, precisavam de ajuda, que o vosso avô não poderia recusar. Apesar do cansaço e sem beneficiar de feriados ou fins de semana livres de canseiras, o périplo de junho se expandiu. Voltei à estrada. 

Na companhia da Carina e da Sílvia, conversei com o Luís, para que os filhos dessas maravilhosas (e preocupadas) mães pudessem beneficiar de uma educação do século XXI. As escolas da Quinta do Conde não poderiam ficar à margem de uma mudança, que começava a tomar forma. Nem ignorar o que uma escola portuguesa havia conseguido fazer e que o amigo Ilídio assim comentava:

“Na minha atividade de investigador, um dos objetivos que procuro não perder de vista é o de promover um pensamento reflexivo e crítico que tenha em conta os constrangimentos e as possibilidades da ação humana. 

Os diversos contatos que tenho mantido com as escolas e os professores têm revelado uma enorme descrença em relação às possibilidades de transformação da escola, nos seus aspectos mais substantivos. Surgem, porém, nesses contatos, momentos em que os professores encaram essas possibilidades a partir de experiências inovadoras que observaram. E a Escola da Ponte é a que é referida mais frequentemente. 

Já participei em diversos encontros onde a experiência da Ponte foi apresentada e pude observar o grande entusiasmo e interesse demonstrados pelas pessoas presentes, não apenas professores, mas também alunos, pais, autarcas, investigadores e outros interessados nas questões educativas. 

Em ações de formação contínua e em cursos de formação inicial, costumo referir e suscitar a reflexão em torno de experiências inovadoras que existem no nosso e noutros países. Mas amiúde são os próprios participantes que referem o exemplo da Ponte, quer porque já ouviram falar dela, quer porque já a visitaram. 

A Escola da Ponte e o seu projeto educativo assumem, por isso, redobrada importância. Importância para todos quantos nela têm estado envolvidos diretamente, mas também como símbolo de esperança e de coragem para todos os que levam a sério o desafio de repensar a escola e o sentido do trabalho escolar. 

O projeto educativo da Escola da Ponte é um símbolo de esperança. Assume um grande desafio, face à dificuldade ainda maior de transformar o trabalho escolar assente numa realidade segmentada, de estrutura disciplinar. 

Na cartinha de ontem, deixei-vos uma pergunta. Se a Ponte correspondia àquilo que o Ilídio escrevia, por que razão não havia mais escolas como aquela? 

Nos idos de vinte, a resposta foi dada por milhares de educadores. E na prática!

 

Por: José Pacheco

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