Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MLXXXVIII)

Bom Jardim, 18 de dezembro de 2042

Muito tempo, demasiado tempo durou uma querela teoricista, inútil disputa pelo controle do que chamavam “ensino-aprendizagem”. De um lado, escolanovistas adeptos de um “dolce far niente educacional”. Do outro, instrucionistas radicais.

Pelo meio – um lugar onde nem sempre está a virtude – uma mistura de teoricistas casados com burocratas, pelo que, duzentos anos após a eclosão da praga instrucionista, a sala de aula (já digitalizada) prevalecia. Malgrado boas intenções e falsas teorizações de teorias em torno de um escolanovismo mal digerido, certo é que da centração no professor as práticas nunca saíram.

Sempre que alguém me dizia haver escolas em que o aluno era o centro, eu pedia que me dessem, pelo menos, o endereço de uma delas. Ninguém dava. Era mentira. Quanto muito, havia no fundo de uma gaveta da Direção da escola um projeto escrito, que falava de protagonismo juvenil, de autonomia do aluno, mas que a prática desmentia – o aluno continuava sendo adestrado, numa sala de aula, em que o centro era o professor.

Nos idos de vinte, a sala de aula estava travestida de “ensino híbrido” e de outros sucedâneos e paliativos do instrucionismo (palavra que não constava dos dicionários). E o amigo Pedro, talvez o maior dos teóricos de então, pregava no deserto:

“Poucas coisas são mais inúteis do que aula: roubam o tempo do estudante, desmotivam-no ostensivamente, refletem autoritarismo grotesco, deturpam o sentido da aprendizagem e do conhecimento, e representam a vanglória mais tola do professor.

Aula é o que mantém a escola presa ao passado fordista, como consta dos “Tempos Modernos” de Chaplin, repetitiva, monótona, linear, sequencial, insuportável, desumana. Não tem como objetivo cuidar da aprendizagem do estudante, mas de transmitir conteúdo, que frequentemente o estudante sequer entende.

Esta mania vem da faculdade, onde foi, estritamente, “vítima de aula”, e, logo, chegando à escola, reproduz o que recebeu por reprodução.

Urge achar soluções adequadas, para não invalidarmos, tão abusivamente, o futuro dos estudantes. Quem toma como compromisso fundamental da escola cuidar que o estudante aprenda, de maneira integral e comunitária, jamais coloca aula no centro.”

Por seu turno, o Mestre Milton criticava a reprodução escolar, fator de reprodução e exclusão social, o modelo cívico, cultural e político, causa da maior parte dos males do brasil dos anos vinte, que fora herdado de séculos da prática da escravidão. Esse Mestre descendente de escravos assim descrevia o drama: “A escravidão marcou o território, marcou os espíritos. Um modelo cívico subordinado à economia, uma das desgraças deste país.”

Devido a essa geopolítica, o centro do mundo não era o homem, mas o dinheiro: “Isso abriu espaço para qualquer forma de barbárie, pela qual a gente deixa morrer crianças, velhos e adultos, tranquilamente.”

E até o Papa Francisco asseverava ser necessária uma educação que respeitasse a diversidade e a inclusão:

“É necessário acelerar esse movimento inclusivo da educação, para combater a cultura do descarte, criada pela rejeição da fraternidade como elemento constitutivo da humanidade.

O movimento educativo construtor de paz é uma força que deve ser alimentada contra a “egolatria” que cria a falta de paz, fraturas entre as gerações, povos, culturas, populações ricas e pobres, homens e mulheres, economia e ética, humanidade e ambiente.”

No dezembro de há vinte anos, junto ao Bosque de Itapeba, reuni educadores construtores de paz. A Idade da Educação ali iria começar.

 

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