Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXV)

Olinda, 5 de março de 2043

Nos idos de vinte, foram muitos os dias em que quase estive para desistir da vida que levava. Desgastava-me em longas viagens, desperdiçava os meus parcos recursos num afã desgastado por pequenas e grandes deslealdades. 

Eram dolorosas aquelas que vinham “de dentro” e que punham em causa a autonomia dos projetos. Fundamentado na lei e numa ciência prudente, eu reivindicava o exercício de autonomia administrativa e pedagógica. Quando me sentia hesitar, a quase desistir, recomeçava, valendo-me da inestimável solidariedade do Mestre Pedro. 

Queridos netos, sempre optei por não publicar escritos que a mim se referiam. Mas, já lá vão vinte anos, creio não ser necessário mantê-los confidenciais. Aqui vos deixo escritos do Mestre Pedro, pedindo-vos desculpa por falarem de mim. 

“A luta do Professor. Pacheco é para que seja viável a autonomia da inovação comprometida com a aprendizagem do estudante. Primeiro, porque a LDB assegura; segundo, porque não existe aprendizagem sem autonomia, já que sua dinâmica central é “autoria”; terceiro, porque é função constitucional: frequenta-se escola para aprender, não para perder tempo e recursos.

No entanto, na prática os sistemas temem o Professor Pacheco, porque percebem de imediato que a inovação proposta derruba o sistema atual. Mostra, ao fundo, a inutilidade das atuais burocracias. Existem para atrapalhar.

Os burocratas deveriam agir de outra forma: cobrar resultados. Nunca fazem isso, porque só cobram as formalidades. E o Ideb é um saco imenso de maus resultados e não redunda em nenhuma mudança significativa.

Pacheco não quer autonomia a qualquer custo, como doação. Primeiro, é direito. Segundo, propõe-se mudar para que a escola seja “constitucional” (republicana e democrática), ficar dentro da lei.

Sua proposta tem a confiabilidade de anos de experiência e de êxito visível, também internacional. Não é aventureiro. Aventureiras são as secretarias que são franco-atiradores, burocráticas encardidas, ocupam cargos conforme a onda dos chefes e dão ordens sem nexo.

A “comunidade de aprendizagem” é um fenômeno construído meticulosamente, contando com todas as energias disponíveis, movendo a todos na escola e nos arredores, transparente, com apelo constante de avaliação externa irrestrita – ou seja, algo sumamente ajuizado e comprovado. Mesmo assim, como agride ao sistema de ensino, para o sistema é preferível matar a mudança em seu nascedouro. Seria insuportável uma escola autônoma!

Fizemos um PNE (Plano Nacional de Educação para 10 anos). De tão malfeito, enjambrado mal e porcamente no país, fantasiado como movimento debaixo para cima (popular), já não vale mais. Ficou sarcástico a cada ano justificar por que não deu certo. É que foi feito para não dar certo! Como o próprio sistema de ensino atual. 

Todos queremos 10% do PIB em educação, mas não neste sistema inútil. Não sabemos ainda valorizar o professor, que se mantém como uma marionete instrucionista na escola.

Aprender mal deve ser absoluta exceção, resíduo. Os professores comandam a escola sob este compromisso: garantir a aprendizagem dos estudantes. Professores seremos, se tivermos a mínima capacidade de argumentar e contra-argumentar. Não existe interesse em professores “eunucos”, que não o serão por liberdade de expressão, mas por manipulação desabrida.

Diriam muitos que não somos – ainda – uma república ou uma democracia. Por que não se pode discutir isso na escola? É fundamental discutir isso, mas em termos pedagogicamente corretos: discutir sem doutrinar.”

 

Por: José Pacheco

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