Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXVII)

Praia Grande, 28 de março de 2043

O amigo Tuck era um esperançoso entre esperançosos. E, no mês de março de há vinte anos, anunciava “uma série de novidades vindo aí”

A primeira delas era o livro “Urutagwa”, do nosso amigo cacique Ubiratan. O lançamento iria ter lugar em Peruíbe (São Paulo), no dia 14 de abril de 2023. Lamentei não poder participar presencialmente. Nesse dia, estava a ajudar educadores, muito longe de Peruíbe. Mas recomendei a todo mundo que fosse celebrar, prestigiar o encontro.

Quem pudesse participar no evento, iria conviver com seres humanos extraordinários. O Tuck estaria por lá. Escutêmo-lo:

“Anos atrás, eu conheci o Ubiratã em um trabalho que fizemos com outro grande amigo, o José Pacheco, que acabou também participando neste projeto, junto de mais gente boa. O audiolivro era um desejo do amigo, desde a concepção. E, graças a Tatá, também, conseguimos um trabalho do qual gostamos do resultado. 

“Urutagwa” conta a lenda tupi de um guerreiro que virou pássaro, no caso, o Urutau ou Mãe-da-lua, como conhecemos. Quando aceitei o convite do Ubiratã algo inusitado ocorreu… Naquela semana encontrei um Urutau pela primeira vez em Atibaia… Pousado numa placa de trânsito atrás da igreja matriz. Tá lá registrado no @avesatibaia.

Que o livro, realizado com apoio do PROAC, voe para mais e mais pessoas e que siga encantando, seja através das ilustrações da Léa, da voz da Tatá, das letras do Ubiratã ou dos sons aos quais pude dar asas. Fica o convite para o lançamento e, também, para conhecerem, comprarem, lerem e ouvirem.

Houve um tempo em que eu me achava estranho por conversar com árvores. Mas, não estava sozinho nessa comunicação com outros reinos da Natureza. O amigo Tuck me sossegou, quando me disse:

“É coisa de gente estranha, como já me falaram, ficar olhando para árvore. E quem liga para povo indígena?”

O Tuck dos pássaros e das árvores, também se preocupava com os humanos: 

“Há quem ainda diga que não se pode usar o termo nazista. Como não? Só porque não são judeus indo em trens para campo de concentração? Aqui, nem daria para esses bonsais humanos fazerem isso, porque nem malha ferroviária temos. Nosso negócio aqui é trator, caminhão, balsa carregando toras e mais toras. É carabina, incendiário e garimpo ilegal. É produtor fazendo fortuna exportando alimento enquanto o preço aqui sobe por falta. 

Aqui, o genocídio e o crime contra o planeta usa a própria natureza, para cortar gastos com matança. Aqui é COVID, fogo e mercúrio em rio, ambos muito mais baratos do que enriquecimento de urânio, cianeto e agente laranja. 

Para os povos indígenas eu nem digo que este é o fim do mundo, porque para eles o fim começou há 520 anos. É lento. Doloroso. 

Como diz o Krenak, é uma das guerras mais duradouras que se tem notícia na Humanidade. Talvez a terceira. E o interessante é que, em primeiro lugar, estaria a Reconquista dos povos Ibéricos contra os árabes, algo próximo de sete séculos.

Queria ser otimista, pensar que, em 200 anos, os povos indígenas retomem esse território. Pelo menos, salvariam o planeta. E ainda tenho mais um presente para vos dar.

Num encontro com mais de trinta jovens, rolaram muitas frases: 

“O Brasil não são as coisas. A escola não é democrática. Na minha, os professores não ligam se aprendemos ou não, pois o salário cairá de qualquer jeito. Minha liberdade começa onde termina, ou é quando começa a do outro? Não existe nenhuma pessoa que se resolva sozinha, eu preciso de um monte de gente pra comer um simples pão.” 

Chorão, em minha mente ressoava na voz da Elza Soares. 

“Tudo está dito, falta a aposta.”

Tamo junto, galera!”

 

Por: José Pacheco

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