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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXVIII)

Caminhos de Darwin, 19 de março de 2043

Atrelado ao infernal Ensino Médio, surgia o espectro de uma prova de acesso ao 

paraíso do dito Ensino Superior. 

A PGA, o Vestibular, o ENEM, com esta ou outra designação, era mero instrumento de darwinismo social. Essa prova apenas “provava” a capacidade de retenção de informação inútil na memória de curto prazo, para vomitar num papel ou computador e, depois, esquecer. 

O suplício começava por volta do final do cartesiano Fundamental. E se prolongava até ao infligir de suplícios aos novatos acadêmicos, no absurdo “trote” universitário.

Netos queridos, essa designação era mais do que justa, porque aqueles que o praticavam se comportavam como cavalgaduras (sem ofensa para os equídeos).

Para ilustrar a afirmação, recupero do fundo do meu baú das velharias um textinho escrito, muito tempo atrás. O ENEM era um exame nacional do ensino médio, um instrumento de avaliação falível, que, para além de não ser rigoroso, era, na sua essência, excludente. Para ilustrar o que afirmo, respigo um naco de texto do meu “Dicionário dos Absurdos da Educação:

A Adélia sabia a matéria na ponta da língua. Fizera a mnemónica das fórmulas e repetira ladainhas em voz rezada, na crença de que a memória a não traísse.

Saiu vitoriosa da contenda travada com uma pilha de livros: fez a decoreba de todos, um por um. Mas acabou derrotada por uma… ampulheta. 

Abdicou da novela das sete e – supremo sacrifício! – o namorado foi-se, ao cabo da segunda semana de clausura. 

Quem diria que se deixaria intimidar por um diabólico aparelho de medir o tempo? Ingloriamente, a presença de uma ampulheta na sala de exame deitou por terra todo o investimento. 

Iniciada a prova e anunciado o tempo limite para a sua realização, a Adélia fixou um olhar de hipnotizada na areia que caía, caía, caía…. Bloqueou-se a mente, tolheram-se os movimentos. As folhas da prova ficaram em branco e humedecidas por lágrimas. 

Decorridos alguns dias sobre o drama, sobreveio uma desmesurada sudação, crises de choro, incontinência urinária. Nada que a competência dos médicos e alguns sedativos não conseguisse dissipar. 

Nesse tempo, já não era possível disfarçar a inutilidade dos exames, nem ocultar nefastos efeitos colaterais e perversões. Enquanto a Adélia me descrevia o seu drama, eu escutava-a atentamente, mas evocava outras situações absurdas em que as escolas de antigamente eram pródigas. 

O ENEM não colocava apenas jovens psicologicamente mais frágeis à beira de um ataque de nervos. Conforme estava concebido, não era apenas responsável por crises de sudação, choro e incontinência urinária. Mais do que um potencial descontrolador de esfíncteres, um exame é, em si mesmo, uma porcaria (eu ia escrever “merda”, mas optei pelo eufemismo, para não ferir sensibilidades).

Até ao final da década de trinta, o farisaísmo pedagógico de acadêmicos ociosos e a apatia dos zelosos funcionários do “sistema” perenizariam absurdos como o “ENEM” e a “sala de aula”. Hoje, poucos se recordarão desses disparates, mas importa recordar trágicos efeitos. 

Mais da metade dos brasileiros não chegavam ao ensino médio. Sete em cada grupo de dez alunos estavam em níveis considerados insuficientes de aprendizagem, mesmo nas “áreas nobres” (português e matemática). No 3º ano do Ensino Médio, por exemplo, a maior parte dos jovens do Ensino Médio não sabia identificar a informação principal de uma reportagem, nem fazer cálculos de porcentagem.

Eu insistia na pergunta: Por que existe Ensino Médio?

A resposta era o silêncio. 

Era obsceno o silêncio dos “doutores em educação”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXVII)

Orla do Parque Nanci, 18 de março de 2043

Mais uma vez, a fútil polêmica em torno do “ensino médio” dos idos de vinte e três. Recupero um naco de prosa contido no manifesto pela sua revogação:

“Essa parte diversificada do currículo tem, supostamente, o objetivo de preparar para o mundo do trabalho. Ocorre que, para a maioria das profissões, é necessário fazer estágio, cursar determinados conteúdos, além de outras regulações profissionais. Nada disso é proposto na reforma. 

Como a quantidade de aulas de suas matérias foi reduzida, os professores pegam muito mais turmas para completar a jornada, aumentando enormemente seu cansaço, tornando inviável conhecer seus alunos.”

À semelhança de outros papeis, que encontrei no baú das velharias, este textinho refletia uma visão tacanha do que fosse currículo, que não contemplava a dimensão da subjetividade e do projeto de vida dos jovens. Nesse tempo, a “preparação para o trabalho” era objeto de “preparo” em sala de aula para profissões que, decorridos dez anos, já não existiriam. E os jovens eram compelidos a ser designers de si próprios, de aprender a se adaptar a múltiplos ofícios, algo que a escola da sala de aula não propiciava.

Por que se continuava agindo, escrevendo, planejando para um “aluno médio” de um “ensino médio”, inexistente? Por que se impedia que o aluno objeto se assumisse como sujeito de aprendizagem? 

Foi longa a jornada de ultrapassagem de um discurso semeado de abstrações: “turma”, “matérias”… “aluno médio”.

Quando eu esperava que os acadêmicos, cientificamente, se manifestassem, apenas surgiam manifestos de boas intenções, mas meros “fogos de palha”.

Li num “manifesto” publicado em 2021:

“Nós, professores envolvidos em projetos e ações para uma educação democrática e humanizadora, queremos expressar aqui nossas preocupações em relação ao trabalho dos educadores em face do que vem acontecendo, neste momento, em nosso país, na política, na economia e, principalmente, na saúde e na educação.”

Pois, pois… Como diria um português que eu conheço. De boas intenções estava o inferno cheio. A “educação democrática e inovadora” jamais seria possível no contexto de escolas de sala de aula, que os acadêmicos diziam ser… inovadoras. A academia se convertera em mais um obstáculo à humanização da aprendizagem. 

Por essa altura, o Mestre Pedro denunciava as péssimas condições da escola instrucionista. Dizia não existir um projeto de mudança satisfatório, parecendo que a escola que tínhamos era um modelo intocável. 

Num célebre texto com o título “EDUCAÇÃO À DERIVA: instrucionismo como patrimônio nacional”, o Mestre Pedro escreveu:

“O sistema educacional mostra aberrações inomináveis em termos de qualidade da aprendizagem, que persistem arraigadas, não comparecendo, contudo, gesto minimamente adequado de mudança. Em especial no ensino médio, o aprendizado de matemática é insignificante: foi de 9.1% em 2017; 90% dos estudantes não aprenderam; quase todos. No Enem, apenas 53 estudantes obtiveram nota máxima em redação, dentre 4 milhões de participantes; quase ninguém.”

Alheia aos trágicos indicadores e à avisada voz de Pedro Demo, a administração educacional tentava colmatar defeitos instrucionistas, injetando nas escolas “ensinos híbridos” e outras inutilidades, desperdiçando recursos e vidas. 

Mas as ideias arejadas são peregrinas, permitem que a humanidade refunda o seu complexo percurso. Houve professores que ousaram interrogar-se e interrogar: 

“Por que há ensino médio? Por que há salas de aula?” 

Ninguém soube responder. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXVI)

Lagoa de Saquarema, 17 de março de 2043

Na “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire já nos falava da necessária ruptura com o “pensamento sectário” e propunha a “construção do pensamento radical”. Na oposição entre essas formas de ser e de se colocar no mundo, a “conscientização” se assumia como processo radical – “todas as pessoas importam”. 

A ética do cuidado, o bem de todos sempre esteve presente na práxis de Anísio, Lauro, Nilde, Nise, Darcy, Freire e tantos outros insignes mestres, visando a instauração de uma verdadeira Escola Pública, aquela que fora anunciada em manifestos: o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” (em 1932), o “Mais uma Vez Convocados” (de 1959), o “Terceiro Manifesto da Educação” (de 2013).

Nos idos de vinte e três, os manifestos continuavam sendo letra morta. Um poder público autoritário continuava a impor regaras absurdas. Muitos jovens em idade escolar não estavam matriculados, por alegada “falta de vaga”, e no 3º ano do ensino fundamental, apenas metade dos alunos alcançava a aprendizagem adequada em matemática. No 5º ano, mais de 20% dos alunos estavam com mais de dois anos de defasagem. 

No março de vinte e três, eu encontrei turmas de quarto ano totalmente constituídas por alunos analfabetos. O nível de proficiência em língua portuguesa e em matemática (percentual de alunos com plenas condições de compreender e se expressar) era baixíssimo. E o IDEB era miserável. No final do “médio, não passava do 4 ou do 5, numa escala de 10 pontos. 

Mais uma farsa descomunal estava montada, mais um distrator fora criado para desviar a atenção do essencial. No mês de março de há vinte anos, a distração consistia em revogar ou não revogar a proposta do “Novo Ensino Médio”, mais uma aberração a juntar a tantas outras em que a atividade da administração educacional era pródiga.

Os argumentos eram os de sempre:

“Como é pequena a quantidade de aulas das disciplinas dos itinerários, um mesmo profissional chega a receber a tarefa de ministrar aulas de até 10 disciplinas diferentes por semana, inclusive para as mesmas turmas. Os alunos de uma mesma turma sequer sabem qual é a disciplina que o professor ministra em determinado momento. Imagine a jornada deste professor: 10 aulas diferentes para preparar, 10 planos de aula, 10 formas de avaliar etc.

Os professores que têm licenciatura e dão aulas nas redes fogem o quanto podem dessas disciplinas dos itinerários, preferindo dar aulas dos assuntos que estudaram. Esses profissionais têm implorado por material e formação aos diretores de escola para seguirem com as aulas.

Os diretores estão há meses tentando atribuir aulas dessas disciplinas, sem sucesso. Muitos profissionais aceitam pegá-las e desistem quando entendem o que é para fazer na prática. No ano passado, em agosto, quase 30% dessas aulas ainda estavam sem professor, na rede estadual paulista.”

“Atribuir aulas”, “planos de aula”, “turmas”, enfim! De um lado, mais uma aberração normativa, que viria a ser jogada no caixote do lixo da história da educação e a contestação de um absurdo. Do outro, um ministério “sobralista”, agindo como “um cego no meio de um tiroteio”, enredado numa polêmica estéril. 

O que seria essa coisa de “ensino médio”? Por que havia “ensino médio”? Por que deveria haver ensino “fundamental”, “superior” ou “inferior”?

Olhos questionadores não encontravam nos livros das ciências da educação qualquer fundamentação para que houvesse “ensino médio”, mas havia quem “achasse” que deveria haver. 

Queridos netos, sabeis quem se dignou responder a estas perguntas, sem “achismos”? 

Ninguém! 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXV)

Fazenda Itaocaia, 16 de março de 2043

Queridos netos, é admirável o modo como vós acolheis as cartas deste vosso velho e insuportável avô. É surpreendente o vosso interesse por assuntos por muitos considerados aborrecidos, como o da educação. Crente de que seja genuíno o vosso interesse, continuarei a enviar-vos estas cartinhas, até que chegue o dia de ir fazer companhia ao Darcy.

Nas redes sociais dos idos de vinte e três, circulava um texto sobre o chamado “Novo Ensino Médio”. Irei transcrevendo e comentando o texto recuperado do fundo do meu baú das velharias.:

“Dez razões objetivas para você entender porque é necessário revogar o Novo Ensino Médio.”

O primeiro ponto rezava assim:

“Na terceira série do ensino médio, os alunos da escola pública paulista passaram a ter, por semana, apenas 3 aulas de Língua Portuguesa e 2 de Matemática. Todas as demais matérias são de disciplinas dos itinerários com quase nada de conteúdos. Enquanto isso, na mesma série, os filhos da classe média e alta passam a ter aulas de reforço, revisão e simulados nas aulas regulares, além de fazerem cursinhos no contraturno para poderem se preparar para o ensino superior.”

Perdoemos o “porque” que deveria ser “por que”, o número 2, que deveria ser um numeral, para combinar com o feminino “aulas”, porque errare humanum est. Este primeiro ponto reflete uma visão retrógrada do que deveria ser uma escola, quando naturaliza excrecências instrucionistas, como “aulas regulares” (fiquei sem saber quais seriam as aulas irregulares), “disciplinas”, “série”, “reforço”, “cursinhos”, “simulados”, “contraturno”, “ensino superior” e um instrumento de darwinismo social, que dava pelo nome de ENEM.  

Os autores do texto não conseguiam imaginar outro tipo de escola, que não fosse aquela que, por mais de duzentos anos, sacrificou milhões de alunos. Talvez não entendessem que a reivindicação não deveria ser a de revogar o ensino médio, mas de acabar com esse e outros absurdos segmentos cartesianos. Em letras gordas, a reivindicação seria a de ACABAR COM O ENSINO MÉDIO! Para que a Lei se cumprisse e os jovens (enfim!) pudessem construir um projeto de vida e aprender alguma coisa.

Eis os pontos seguintes:

“Essas disciplinas dos itinerários são de assuntos bem gerais e vagos. Pelo Brasil, já foram identificados temas como ‘Brigadeiro caseiro’, ‘Mundo PET’, ‘RPG’ etc. Em São Paulo, na parte diversificada, há desde Empreendedorismo (obrigatório) até eletivas para ensinar maquiagem.

Se uma única escola conseguir oferecer os 11 itinerários formativos propostos em São Paulo, realmente deixando o estudante escolher qual ele quer cursar, então A ESCOLA TERÁ QUE OFERECER 276 DISCIPLINAS POR SEMANA. Não há gestor escolar que administre isso. Não há nem espaço físico para comportar as horas de estudo e de preparo de aulas destes professores nas escolas.”

Persiste a presunção de que uma escola é um “espaço físico” e “horas de estudo” em sala de aula, um conceito de escola herdada da Primeira Revolução Industrial. Continuemos…

“Além disso, não há professor formado para essas 276 disciplinas dos itinerários. Por isso, as escolas oferecem poucos itinerários e, mesmo assim, estão contratando todo tipo de profissional sem formação para dar aulas para adolescentes: dentistas, administradores de empresas, bacharel em direito, engenheiros etc.”

Nesse texto, era justa a denúncia da farsa montada. Mas, mais uma vez, se supunha que os professores (com formação, ou sem formação em ciências da educação) deveriam continuar encafuados em salas de aula, a dar aulas a turmas.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXIV)

Inoã, 14 de março de 2043

O amigo Valdo retornava da “V Conferência de Alternativas para uma Nova Educação” encantado e esperançoso com tudo o que viu e viveu. E se perguntava: 

“Como é que, num país com tantas experiências altamente exitosas de *Educação Democrática e Humanizadora*, a educação formal implementada nas escolas, instituições, em todos os níveis, continua a ser robotizante e castradora? 

E, pior! Tentam mantê-la com diversionismos, manipulações e sistemas que chamam de “inovadores”, tais como: militarização, atrativos eletrônicos, ‘pedagogias ativas’ (neologismo usado para tudo o que se vende) e outras bobagens.

Não importa! O mais importante é que, apesar de tudo, os movimentos sociais e populares continuam a avançar e a construir e constituir uma outra Educação.”

Quem, como eu, tinha amigos como o Valdo poderia manter-se esperançoso. Um pouco por todo o país (e em Portugal), a vitalidade de projetos de mudança se afirmava. Só faltava… mudar.

Não se creia que somente o Valdo se mostrava otimista. Outros educadores amigos, outras amigas se manifestavam, juntando ao otimismo um condimento da esperança – o senso crítico. Como a Ilana se pronunciava no contraponto de uma das minhas cartinhas:

“Se fosse somente isso, simples assim, tarefa estaria cumprida por aqui. Criando filho, livros escritos e lidos por outrem, milhares de árvores plantadas, regadas, cuidadas. Mas a vida nos tem pedido mais. 

Fizemos tanta bagunça, que é preciso ir muito além. Educar para que todes – crianças, jovens, adultos, idosos – plantem árvores. Não uma, mas muitas! Para que não as derrubem; para que escrevam livros, sim, mas que façam mais do que falem, que ajam mais do que teorizem, que se posicionem e colaborem com as mudanças necessárias, com seus talentos individuais; que tenham ciência e consciência de que suas ações afetam feito flecha as próximas crianças, os filhos dos filhos que o mundo traz à luz. 

Ah! Feliz do tempo em que bastaria, para a realização pessoal, essa tríplice lista de afazeres, como se não houvesse amanhã. Ou será que sempre foi como agora é, mas o senso de urgência era menor e todo mundo jogava a responsabilidade para as próximas gerações?”

A Jane se juntava ao coro de comentários:

“Para o rompimento deste círculo vicioso, é preciso colocar em discussão e em possíveis práticas, o que já foi acumulado. Daí, infelizmente, penso que só indo para o institucional, oficial mesmo, como o MEC, secretarias de educação, universidades.

A oficialização é importante para dar um caráter real para a proposta. Não me sinto atraída a investir minha energia, por exemplo, em discussões que vêem esta escola organizada em comunidades de aprendizagem como algo alternativo, que funcionará paralelamente ao sistema, com recursos próprios, angariados com uma trabalheira insana e que muitas vezes não garante segurança à continuidade dos projetos. Ou a discussão e a prática das comunidades de aprendizagem fazem parte de um projeto de país ou… Ou é só sonho E sonho como disse o sábio Lennon, acabou, pelo menos os muito românticos.”

Pois é, cara Jane!… O amigo André arriscou ser secretário de educação, sonhou concretizar um projeto de município e de país, e perguntava:

“O que aconteceria, se alguém tivesse a coragem necessária para propor uma doce revolução? Estamos devendo a nossa a todas as crianças brasileiras”.

O André anunciou reformas e acabou demitido do cargo que ocupava.

O amigo Tião assim comentou a desdita do André:

“As revoluções não são anunciadas, mas feitas, caro André! Precisamos fazê-la e não anunciá-la!”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXIII)

Rio, 13 de março de 2043

Há cerca de vinte anos, levado pelo meu amigo Rubem Alves, aportei a terras do sul. Logo após os primeiros trabalhos em chão de escola, despi-me do meu etnocentrismo europeu e fui aprender o Brasil da Educação do Futuro. 

Convivi com xavantes, tupinambás, pataxós. Fui aprender brasilidade nos quilombos e nas favelas e, porque o Brasil não é para amadores, fui até Caetité, à casa do Anísio, o Mestre escolanovista assassinado por querer fazer da Escola um berço de cidadania. Ontem, foram passados 52 anos sobre o seu desaparecimento. 

No regresso da CONANE da Esperança, vim mais desesperançado. Fiquei com a impressão de que os educadores brasileiros e, em particular, os seus dirigentes, ou não tinham lido as obras do Anísio, ou ajudavam a matar a sua memória, a sua segunda morte, como escrevi numa outra cartinha. E eu temia que viéssemos a perder mais quatro anos de oportunidades.

A Escola Berço de Cidadania sonhada por Anísio viria a afirmar-se somente no final da década de vinte, quando os projetos iniciados com os encontros das manhãs de sábado assumiram estatuto de autonomia.

A “educação emancipatória” prometida pelo MEC se concretizaria, quando se cumprisse o estipulado no artigo 15º da LDBEN e na Meta 19 do PME. Por isso, nos encontros de sábado, recomendei que fossem entregues às direções das escolas, às secretarias de educação (às direções dos agrupamentos, em Portugal) minutas de termos de autonomia (contratos, em Portugal).

Aqueles projetos que o não fizeram se perderam pelo caminho.

Naquele tempo, quase todos os movimentos e organizações da sociedade civil desenvolviam projetos importados, projetos paliativos, sorvedouros de recursos, quase todos concebidos na tradição neoliberal, e que apenas contribuíram para prolongar a agonia de um sistema excludente e corrupto. 

A concorrência era desleal. Esses projetos eram generosamente financiados por empresas e fundações. De um lado o faz-de-conta reformista; de outro, projetos de mudança com elevado potencial inovador, que lutavam para sobreviver financeiramente. O sistema de ensino hierárquico, autoritário, moral e intelectualmente corrupto se perenizava através de uma neocolonização vinda do Norte. 

Se, na Pedagogia da Esperança, Freire escrevera que o educador brasileiro não deveria nortear a sua reflexão e que deveria suliar a sua práxis, a realidade o contradizia. 

Em 2013, o Ministério da Educação se fizera representar na primeira das CONANE. A minha amiga Jaqueline Moll recebeu das mãos das nossas crianças o Terceiro Manifesto da Educação Brasileira. Esse Manifesto dizia ser necessária uma Nova Construção Social, que substituísse a velha construção prussiana, fundada em sala de aula.

No ano seguinte, o ministro Renato Janine criou o Grupo de Trabalho da Criatividade e Inovação. Foram identificados 178 projetos com potencial inovador. Dez anos decorridos, a maioria desses projetos fora destruída ou neutralizada, confirmando o dito do Darcy: “A crise da educação brasileira não é uma crise, é um projeto”.

Tornava-se difícil suster o ciclo vicioso da reprodução escolar e social, o ciclo vicioso contrastante com uma frase atribuída a Freire, mas que terá sido dito pelo amigo Brandão: “A Educação não muda a Sociedade. A Educação muda as pessoas. As pessoas mudam a Sociedade”. 

Pois é! Em teoria, tudo é muito fácil. Certo é que se a Sociedade não mudava a Educação, a Educação não mudava as pessoas. E as pessoas não mudavam a Sociedade. E a Sociedade (leia-se “ministério”) não mudava a Escola. E a Escola não mudava as pessoas. E…

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXII)

Brasília, 11 de março de 2043

Há, precisamente, vinte anos, a comunicação social divulgava um encontro de educadores, que a alguém disse ser “movimento nacional de pessoas que sonham, lutam e realizam por uma educação verdadeiramente transformadora, democrática e emancipatória”.

Dez anos antes, também na Brasília do Darcy, um manifesto fora lançado na primeira das CONANE. O Terceiro Manifesto era um legado dos Românticos Conspiradores, oferecido ao ministério e depositado nas mãos de uma equipe coordenada pela minha amiga Sônia. Esse manifesto deveria ser atualizado e servir de referência para as CONANE seguintes. 

O Manifesto hibernou, até chegar o tempo da pandemia. Um simples vírus bastou para que o sistema de ensinagem entrasse em crise e o teor do Terceiro Manifesto se materializasse num FAZER tardio, depois da Sexta CONANE.

Assim se manifestaram os autores do Manifesto:

Indicamos ao poder público melhorias para uma nova construção social de aprendizagem, servindo como diretrizes para uma Educação do século XXI. 

Assegurar às escolas a dignidade de um estatuto de autonomia; rever o tipo de gestão das escolas, passando de uma tradição hierárquica e burocrática para decisões colegiadas, coletivas; desenvolver comunidades de aprendizagem, baseadas num projeto local de desenvolvimento, consubstanciado numa lógica comunitária, que pressupõe uma profunda transformação cultural e concretiza uma efetiva diversificação das aprendizagens, tendo por referência uma política de direitos humanos, que garanta as mesmas oportunidades educacionais e de realização pessoal para todos.” 

O Terceiro manifesto clamava por “uma nova construção social de aprendizagem”. aquela que Lauro e Agostinho anunciaram. Aquela que António Nóvoa e de Pedro Demo especificaram, quando disseram que seria preciso acabar com a sala de aula e erradicar o instrucionismo.  

Diziam os dicionários que uma conferência era uma reunião de pessoas com a intenção de debater ideias, problemas, inovações. Uma conferência era concebida para conferir. Isto é: para verificar, averiguar, certificar, confirmar, reconhecer, outorgar. 

Tomando como ponto de partida o primeiro dos significados – verificar – fui para a “CONANE da Esperança”, na esperança de verificar a concretização das recomendações de António Nóvoa e de Pedro Demo: a de acabar com a sala de aula e erradicar o instrucionismo. 

Como coautor do terceiro Manifesto, fui verificar se o António e o Pedro teriam sido escutados e respeitados. Deparei com uma discussão sobre o “Novo Ensino Médio”, um despropósito a que não faltaram referências à… “sala de aula”.

Eu poderia ter perguntado, por exemplo:

O que é o “ensino médio”? Por que existe?

Por que se mantém inalterada a tradicional segmentação cartesiana?

Por que se continua a trabalhar em sala de aula?

Nada perguntei. Pelo respeito devido à à CONANE, abandonei o auditório.

Dez anos depois da primeira CONANE, a quase totalidade dos projetos divulgados nessa conferência tinha sido extinta ou neutralizada. Seria de presumir que, decorridos mais dez anos, aqueles que ganhariam visibilidade social na Quinta CONANE já teriam sido destruídos ou neutralizados.

A “nova construção social” proposta na primeira CONANE permanecia ignorada. Até meados dos idos de vinte, continuar-se-ia, abusivamente, a colocar o rótulo de “inovador” em projetos paliativos do modelo educacional instrucionista. e, enquanto a sala de aula não foi extinta, a sofisticação do discurso pedagógico continuou a contrastar com a miséria das práticas.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXI)

Universidade de Brasília, 12 de março de 2043

Já não via a Kátia desde o tempo em que era secretária municipal de educação. recordo-me de um encontro, em Manaus. Estive ali, a pedido de pais de crianças atentos aos malefícios de um sistema de ensinagem feito de salas de aula e burocracia. Recordo-me de lhe ter oferecido os meus préstimos – trabalho gratuito e sem financiamento – que propiciariam às crianças de Manaus uma educação de boa qualidade. 

Voltei a encontrá-la, no último dia da CONANE da Esperança, já na qualidade de Secretária da Educação Básica. No seu discurso, expôs a situação herdada de quatro anos de desgoverno, queixou-se de “fogo amigo” e falou de “ensino médio”, de “sala de aula” e de outros inúteis artefatos do sistema de ensinagem. 

 

Finda a palestra, me inscrevi no breve período de pergunta e resposta. Inscrevi-me, mas não fui contemplado. Talvez o meu questionamento fosse considerado desimportante. 

Privado da fala, optei por lhe enviar uma cartinha. No fundo do baú das velharias a encontrei e vo-la dou a ler.

Prezada Kátia, sê bem-vinda à CONANE. Venho falar-te de “fogo amigo” e de um faz-de-conta feito de índices de decoreba. Também farei três perguntas, que não me deixaram fazer. 

Estamos reunidos em solo sagrado, na Universidade sonhada por Darcy Ribeiro.

Foi aqui que, há mais de meio século, Darcy se juntou a Agostinho, um português exilado pela Ditadura de Salazar, autor da seguinte frase:

“Portugal desembarcou na África, na Ásia e na América. Só falta Portugal desembarcar em Portugal.”

O grande Lauro de Oliveira Lima, cearense de Limoeiro, com quem convivi na sua casa do Rio de Janeiro, confirmou a agostiniana profecia, na sua obra “Educação do Futuro”, mostrando que o futuro da Educação está no sul. 

Isso mesmo, prezada Kátia, a Nova Educação não virá da Finlândia, nem dos Estados Unidos. Não tarda, a nova Educação, que está a nascer no Sul irá “desembarcar” no Norte, sem resquícios de colonialismo, isenta da exploração do Homem pelo Homem. Uma Nova Educação radicada em culturas pré-colombianas, presente na antropogogia dos povos originários, latente na cultura quilombola, que nos diz ser necessária uma tribo inteira para educar uma criança, isto é: que a educação deve acontecer em comunidade. 

Será uma Nova Educação pautada na solidariedade e numa autonomia, que opera o milagre da sobrevivência do povo das favelas, onde vivem 75% dos alunos brasileiros. Uma Nova Educação plasmada num caldo cultural pleno de criatividade, composto de múltiplas origens (portugueses, alemães, italianos, japoneses, de judeus e árabes, de russos e ucranianos que não fazem guerra…).

Urge conceber alternativas para uma Nova Educação – o mote da CONANE – uma Nova Construção Social de Aprendizagem e Educação, mote do Terceiro Manifesto. Urge transitar de práticas instrucionistas para práticas propostas pelo Anísio escolanovista, juntando-lhe contribuições do paradigma da comunicação. 

A CONANE busca conceber: “uma educação verdadeiramente transformadora, democrática e emancipatória” (sic). Por isso, te pergunto:

Se António Nóvoa recomenda a extinção da sala de aula, será possível conceber uma educação transformadora, se iniciativas de política pública não obedecerem a critérios de natureza científica?

Como poderemos aspirar a uma educação democrática, se um modo de pensar e de agir se furtar ao diálogo com outros modos de pensar e de agir?

E cadê a educação emancipatória, quando os projetos de um pensar e agir diferente do teu ficam expostos à afronta de uma administração autoritária e sob “fogo amigo”? 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXX)

Brasília, 10 de março de 2043

Naquele tempo, os inspetores do ministério eram presença assídua na Escola da Ponte. E as homéricas discussões sempre terminavam com a inspetoral ordem: 

“O senhor professor tem de voltar para a sua sala de aula!”

E eu respondia com a sacramentada pergunta:

“Por que terei de voltar para a sala de aula?”

“Porque eu sou seu superior hierárquico, represento o ministério da educação e você é funcionário do ministério”

Nunca me deixei “funcionarizar”. Com o devido respeito a quem era “superior”, fazia perguntas e praticava desobediência civil:

“Se o Senhor Inspetor não der resposta às minhas perguntas, não obedecerei.”

Nunca cedi a imposições sem fundamento. Porque, nos idos de setenta, eu adotara toda a complexa parafernália do Celestin e da Elise Freinet: os ficheiros autocorretivos, a assembleia dos alunos, a correspondência escolar, a aula-passeio, a imprensa, a classe cooperativa…

E o curioso, que sempre fui, quis saber por que razão Freinet quase não “dava aula”. Fui até Paris, ao encontro dos seus discípulos. 

Foi, sobretudo, devido a uma “deficiência” que Freinet se libertou de atavismos. Durante a Primeira Guerra Mundial, fora ferido nos pulmões. Compreendeu que os seus problemas respiratórios não lhe permitiriam “dar aula”. Por lhe ser difícil respirar dentro da sala, foi com os alunos para fora dela. Arejou a sua escola e provocou correntes de ar novo em muitas outras. 

Imaginemos o que aconteceria, se muitos professores padecessem de problemas pulmonares, ou não pudessem utilizar as cordas vocais! – por razões que a razão desconhece, a sala de aula passaria a ser mero objeto de museu da pedagogia. 

Mas, um século decorrido sobre a origem da “Escola Moderna”, a quase totalidade dos professores possuía pulmões de aço, que lhes permitiam falar alto (e até gritar) em sala de aula.

Pouco antes da realização da quinta CONANE, dois dos maiores teóricos desse tempo – Pedro Demo e António Nóvoa – afirmaram a necessidade de acabar com o trabalho em sala de aula. 

Os mestres Pedro e o António (escrevi “mestres”, porque “doutor” qualquer um poderia ser) eram para mim referências de honestidade intelectual. Para além de outras virtudes e defeitos (de perto, ninguém é normal) eles encarnavam a coerência freiriana.

Esses bons amigos reuniam duas qualidades que eu apreciava: um rigor científico a toda a prova e uma ação tão exigente como compassiva, por se saberem professores entre professores. 

Para eles, a teoria e a ação educativas eram duas vertentes indissociáveis. Na exploração de seus temas de estudo, faziam uso de instrumentos teóricos heterogêneos, em busca de conclusões que não estivessem evidentes na superfície dos fatos. Porque o “evidente” quase sempre mentia. Não era assim, António?

No tempo da Quinta CONANE, os projetos que eu acompanhava tinham ido muito além do “deixar de dar aula”. Eram esboços de uma nova construção social. E, numa conferência, que eu ajudei a criar, esperava encontrar exemplos de inovação. 

Embora pudesse utilizar outros indicadores, parâmetros e critérios de avaliação de projetos, o critério-base de aferição seria a presença, ou ausência, do dispositivo central do instrucionismo – a sala de aula. 

Saturado de embustes e paliativos instrucionistas, na véspera da minha partida para Brasília, era enorme a expectativa. Levava na bagagem muita esperança – a V CONANE dizia ser a “CONANE da Esperança” – e uma interrogação: iria encontrar “alternativas” e exemplos de “nova educação”? 

Assisti às apresentações dos projetos selecionados. Vos direi o que vi e ouvi.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXIX)

Aeroporto Santos Dumont, 9 de março de 2043

No mês de março de há vinte anos, a Nasa divulgou a descoberta de um asteroide e alertava para o risco de atingir a Terra em 2046.

O Serviço de Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço do governo norte-americano indica que há chance de o asteroide colidir com o planeta em 14 de fevereiro de 2046, o que significa que, daqui a três anos, poderá acontecer-nos o que aconteceu com os dinossauros. E tudo aquilo que, porfiadamente, tentamos alcançar deixará de fazer sentido. Todas as causas, todos os idealismos, todos os projetos humanos se dissiparão numa fração de segundo. Inclusive, as questiúnculas em torno das ciências da educação.

Porém, enquanto os cientistas tentam desviar o asteroide da rota mortal, vos continuarei a contar estórias do tempo da CONANE.

Ontem, a propósito da comemoração do Dia Internacional da Mulher, eu dizia que o evidente… mente. Este trocadilho foi usado pelo amigo António, num dos seus livros, no tempo da pós-verdade. Nos idos de vinte, o que era “evidente” mentia. Ou, como diria o amigo Rui, quando se analisa um rolde necessidades que o sistema engendra, deveremos tentar perceber quais as necessidades que estão por detrás das necessidades enunciadas. 

“Temos que sair da sala de aula!” – assim falava o amigo António Nóvoa, que um jornal referia como “referência global em educação, reitor honorário da Universidade de Lisboa, ex-embaixador da Unesco e com outros encômios mais do que justos.

A notícia dava conta de uma palestra sobre o papel da escola no ensino do futuro, tema que o António tratara num livrinho chamado “Escolas e Professores: Proteger, Transformar, Valorizar”. 

Para o António, doutor em Ciências da Educação e História, doutor honoris causa em instituições de diferentes partes do mundo, nenhum desses títulos era tão importante como o de professor. Nas décadas de oitenta e noventa, e, depois, no Brasil do início deste século, acompanhei a sua saga de anunciador de uma educação de novo tempo. 

Recordo-me, em particular, de uma conversa que tivemos com alunos da Universidade de Brasília, lado a lado, junto ao Quiosque do Chiquinho, questionando uma universidade que ainda “dava aula”.

Numa entrevista, Nóvoa defendia que o lugar dos alunos não era mais em sala de aula, que a escola deveria passar por uma metamorfose que envolvia a criação de novos ambientes educativos. Então, sendo o António considerado uma das maiores referências pela universidade desse tempo, por que seria que a universidade (e, em particular, nos cursos de ciências da educação) continuava “dando aula”?

Conheci o António na Universidade do Porto, quando cursava o primeiro curso de ciências da educação. Ele havia publicado a obra “Le Temps des professeurs”, que eu li e reli no original (ou não fora ter-me apaixonado pela professora de francês…). Estávamos na década de oitenta, uma década após os meus embates com a burocracia ministerial.    

“Temos que sair da sala de aula”, defendia António Nóvoa, “referência global em educação” – Assim mesmo! Com todas as letras. 

Volvidos cinquenta anos após as minhas quezílias com a burocracia ministerial, após meio século de ter deixado de trabalhar em sala de aula, o ex-embaixador da Unesco pregava mudança radical envolvendo a estrutura de ensino.

Nos idos de vinte e três, o amigo Nóvoa emitia um apelo, no sul do Brasil: “Queremos que o aluno trabalhe. E a sala de aula é feita para o professor trabalhar”.

Mas, parecia que o amigo Nóvoa falava chinês e escrevia em Braille. 

Nos auditórios onde proferia palestras, os “ouvintes” seriam surdos?

 

Por: José Pacheco

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