Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXLVI)

Brogueira, 26 de maio de 2043

Netos queridos,

Dissestes terdes ficado surpreendidos com a pergunta deixada no final da cartinha de ontem: “Os responsáveis teriam lido a Lei de Bases do Sistema Educativo?”. Vos esclarecerei.

Como diria a Rúbia, “a educação torna-se subversiva, quando a comunicação envolve o processo da aprendizagem. O livro de Salman Khan, “Um mundo, uma escola”, busca repensar o sistema vigente, para libertar um modelo de mais 200 anos. Vários autores já trazem um pensamento do paradigma da comunicação como o Oliveira Lima, Agostinho da Silva (cuja foto junto a esta cartinha), Antônio Nóvoa, entre outros, que nos ajudam a pensar a Educação numa dinâmica do encontro com o mundo.”

O artigo 48º da LBSE dizia-nos que o funcionamento das escolas se deveria orientar por “uma perspectiva de integração comunitária”, sendo, nesse sentido, favorecida “a fixação local” dos seus professores. Isto é: os professores deveriam residir, trabalhar, viver nas suas comunidades. 

Dizia-nos, também, que a administração e a gestão das escolas se deveriam orientar por “princípios de democraticidade e de participação de todos os implicados no processo educativo”. Esse desiderato não se concretizava em escolas onde havia diretor, dado que ele estava sujeito ao dever de obediência hierárquica. Mesmo que discordasse de “ordens superiores” era obrigado a cumpri-las. E as famílias dos alunos e os agentes educativos locais quase não participavam da administração e gestão das escolas. Até era frequente que os pais nem sequer pudessem passar do portão da escola dos seus filhos.

Na lei diz ainda que, na administração e gestão das escolas, “devem prevalecer critérios de natureza pedagógica e científica sobre critérios de natureza administrativa”. E não era isso que acontecia. A regulamentação da lei era feita segundo uma racionalidade técnico-administrativa, carente de fundamentação científica.  

Voltando ao excelente artigo da Rúbia, que vos dei a conhecer, há alguns dias:

“Necessitamos de unidade mental comum em vez de instintos comuns. Para refletir temos que compreender o sentido de futuro para vida dos seres humanos.

Temos vários autores que retratam este tema. Margaret Mead em seu livro Continuidades da Evolução Cultural, investiga as realizações do homem e sua mudança social. O Pierre Teilhard de Chardin em seu livro, O Futuro do Homem, investiga numa direção cósmica a coletivização da humanidade. 

Essas reflexões servem para compreensão da natureza humana, a identificação com seu semelhante e as diferenças, a ideia de tempo, o encontro, as inovações e as realizações. Assim, se a ciência organiza o caos para criação da ordem, aprender e estudar é fundamental. 

Estudar e investigar são condições existentes nas comunidades de aprendizagem. A curiosidade e o uso dos conceitos ajudará o andamento das comunidades de aprendizagem. Nelas encontramos um laboratório de convivialidades diante do paradigma da comunicação.

As realizações humanas fazem parte da cultura. Para tanto, a cultura eleva a consciência pelo modo como percebemos, imaginamos e simbolizamos o mundo. Bronoviski diz que “não há permanência para os conceitos científicos, porque eles são apenas a nossa interpretação dos fenômenos naturais.” Digamos que há num mundo uma riqueza de conexões, e precisamos ter consciência dessa riqueza. Cá para nós, o que alimenta a comunidade de aprendizagem é justamente a riqueza das conexões existente no mundo. A consciência surge pela capacidade de imaginar. Onde há imaginação, há vontade e há consciência. 

 

Por: José Pacheco

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