Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLVI)

Alcobaça, 5 de junho de 2043

Nas andanças por Portugal, recebia boas notícias vindas do outro lado do mar. Diziam-me que os meus amigos não perdiam tempo. Longe ia o tempo das hesitações, o tempo de humanizar havia chegado.

Durante a primeira das pandemias, escutava uma velha piada (de mau gosto): “Temos um bom modelo de escola. O que complica é haver alunos.”

Durante esse tempo, os prédios das escolas apenas se abriram para realizar exames. A pandemia servia de bode expiatório de retrocessos e motivo de “planos de recuperação” de irrecuperáveis aprendizagens. 

De nada valeram os avisos e ignorados foram projetos dissidentes. Se o “sistema de ensino” tinha manhas de mil raposas e se reproduzia a si mesmo, teria de ser substituído por um sistema de aprendizagem. No junho de há vinte anos, circularam pelos núcleos de projeto documentos que, adaptados a cada contexto e situação se constituíram nas bases da criação de protótipos de comunidades.

Nas cartinhas que se seguirão, vos darei a conhecer parte do seu conteúdo. Comecemos pelo projeto das “Redes de Comunidades de Aprendizagem”, que tinha por epígrafe inicial esta frase: 

“Quando a comunidade se constitui como parte atuante da escola, com voz e participação na construção coletiva de um projeto educativo, adquire o sentido de pertencimento. A escola transforma-se em nodo de uma rede e, integrada numa comunidade, responde necessidades da sua gente, da sua realidade.”

Esse projeto tinha por principal objetivo criar uma rede de protótipos de comunidades e aprendizagem. no Portugal de vinte e três, visava cumprir o estabelecido na Constituição da República, na Lei de Bases do Sistema Educativo, na Declaração Universal dos Direitos da Criança, no Decretos-Lei n.º 54/2018, no Decreto-Lei nº55/2018 e nos projetos educativos das escolas (que não eram cumpridos). 

O efetivo cumprimento da Lei de Bases, no reconhecimento de que a educação era um direito de TODOS e de que todos poderiam aprender, concretizar-se-ia, se fossem criadas condições de sustentabilidade socioambiental e de gestão democrática. 

Com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamentava a vida em sociedade, seria possível alcançar uma boa qualidade da educação, se fossem tomadas medidas de política educacional em que prevalecessem princípios de natureza científica. Legislação recente para isso apontava e nos permitia pensar ser possível produzir mudança e inovação. 

Era promovido o crescimento dos educandos em todos os aspectos: físico, mental, intelectual, emocional, afetivo, psíquico, para que pudesse interferir, transformar, melhorar o seu meio, de forma ética, na perspectiva do desenvolvimento sustentável do ser humano e da comunidade em que se integrava. 

Adequávamos os projetos educativos e os regulamentos/regimentos internos das escolas a novos modos de conceber e fazer educação, transformando-a em espaço de produção de conhecimento e cultura, conectando os interesses dos estudantes com os saberes comunitários. 

Unia-se o que havia sido segmentado, separado: a Família, a Sociedade e o Estado (através da Escola); a escola, o poder público e a universidade (mormente, na formação de professores); a escola, a saúde pública e ambiente, com a arte e cultura.

Após muitos anos de porfiados esforços, a partir de círculos de aprendizagem, novas construções sociais se consolidaram. Nas manhãs de sábado de vinte e três, um diálogo fraterno esclarecia situações, recriava dúvidas, solucionava problemas. Eram, cada vez mais, os educadores que seguiam o exemplo do Mauro e da Valéria. 

 

Por: José Pacheco

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