Mendes, 16 de agosto de 2043
Era uma vez, pessoas, um lugar e algo mais… A maioria das estórias começa assim.
Estávamos em Mendes, mais uma vez, solidariamente correspondendo ao convite da Maria Paula, amiga e secretária de educação que juntava a força do amor à solidez da coragem.
O Mauro, a Valéria, coletando estórias admiráveis; a Tina estabelecendo e fortalecendo laços; a Vovó Ludi observando. tentando encontrar modo de ser útil; uma extraordinária equipe da uma secretaria ímpar; e este vosso avô, recontando estórias e a recolher belezura.
Foram dias memoráveis. Já lá vão vinte anos, mas é indelével o registro que fiz desses dias de felizes reencontros. Avultavam saudades do futuro, que, junto a um ciep, foram suavizadas com a inabalável decisão de praticar Darcy.
Estava na presença de educadores aceitadores de abraços, amorosos e desejosos de melhorar a vida das crianças, de professores redescobridores de infâncias perdidas, que se entregavam à faina de doar seres humanos humanizados aos mundos que se iam abrindo.
Netos queridos, em breve, voltarei a falar-vos de prodigiosos dias passados em Mendes. De lá saímos seguros de que: aquilo que constava dos projetos político-pedagógicos ganharia raízes.
O mesmo me havia sido pedido em Maricá. Para lá me dirigi, na intenção retomar um projeto interrompido. Dois anos antes, me entregaram um Termo de Referência, documento em que me era solicitada ajuda para a instalação de uma rede de comunidades de aprendizagem. Eis o que constava desse documento e que iria servir de referência para outros municípios. :
“Projeto de inovação educacional (…) proposição de Diretrizes de Política Pública, para Implementação de uma rede de protótipos de Comunidades de Aprendizagem em nove escolas da Rede Pública Municipal, tendo como mote a construção coletiva do projeto político pedagógico, com viés holístico, democrático e emancipador do cidadão, envolvendo a comunidade e a escola.
Na comunidade de aprendizagem, os estudantes terão sua curiosidade estimulada e provocada. Conteúdos atitudinais e procedimentais serão ferramentas que surgirão dos valores construídos pela comunidade escolar, com o objetivo de criar e fortalecer ações críticas e criativas entre todos os personagens que convivem nos ambientes de aprendizagem.
A organização do trabalho na escola centrar-se-á num sistema de relações que, simultaneamente, atenderá as necessidades do educando e da comunidade no desenvolvimento de atividades de construção de projetos de vida das crianças e jovens, contribuindo para que eles aprendam a ser, conviver, conhecer e fazer. Porque o entender que a educação extrapola os muros da sala de aula, sendo realizada na vida vivida, em diversos momentos e múltiplos lugares, é necessária a ressignificação do próprio ambiente escolar: a escola deixa de ser o único espaço educativo para se tornar uma articuladora e organizadora de muitas outras oportunidades educacionais no território da comunidade.
Na transição para práticas fundadas no paradigma da comunicação, os educadores participarão do desenho de novas construções sociais de aprendizagem, cujos critérios de avaliação poderão ser, por exemplo, ganhos de aprendizagem, adequação da escola aos tempos e ritmos da comunidade de que faz parte ou evidências de desenvolvimento local sustentável.”
Este documento era idêntico a muitos outros, burocraticamente elaborados pela administração educacional e nunca postos em prática. Mas, este o seria, no formato de uma nova construção social de aprendizagem.
Por: José Pacheco