Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCXLIII)

Tavira, 31 de agosto de 2043

Recordo-me de, em meados dos anos oitenta, um pesquisador francês ter passado alguns dias na Ponte, xeretando tudo. Numa precária “tradução simultânea”, ajudei-o a dialogar com alunos, pais e professores. E lá se foi o visitante, deixando um papelinho escrito, que passo a traduzir:

“Quando for feita a História da Educação do século XX, dever-se-á considerar a existência de dois períodos distintos: antes da Escola da Ponte e depois da Escola da Ponte.”

O francês já tinha passado por Reggio Emilia e por outros lugares onde um escolanovismo tardio havia assentado arraiais. E chegara à conclusão de que a Escola Pública da Ponte tinha sido a primeira a concretizar a transição entre práticas instrucionistas e práticas fundadas no paradigma da aprendizagem. O processo de aprendizagem passara a estar “centrado no aluno”, enquanto sujeito de aprendizagem. 

Decorridas algumas décadas, em quase todas as escolas, o professor ainda era o centro, cativo de práticas instrucionista enfeitadas de projetos paliativos. E havia quem dissesse:

“Não há direito de não nos deixarem trabalhar de maneira diferente. Os diretores impedem o nosso trabalho. Se a Ponte não tem sala de aula, por que nos obrigam a continuar a trabalhar em sala de aula?”

Mas, da lamentação e desse perguntar os descontentes não passavam. Havia sempre um “impedimento”, um pretexto para justificar o imobilismo reinante. E o André confabulava:

“Vivemos um longo e terrível período de aberrações e atentados diretos contra o Direito de Aprender de milhões! Profundamente lamentável! 

Debray contou-nos esta estória: Um imperador chinês pediu ao pintor principal da sua corte para apagar a cascata que tinha desenhado nas paredes do palácio, porque o barulho da água o impedia de dormir.” 

Que imagens nos impedem de dormir? E quais são aquelas que nos embalam o sono?

Gostaríamos de ver outros retratos no espelho da nossa história? Gostaríamos que ele nos devolvesse uma outra visão da escola que fomos (in)capazes de construir? Ainda conseguiremos, neste tempo em que o excesso de visões asfixia o olhar, deixar-nos instruir pelas imagens?

Deveremos tolerar a incoerência entre o pensar e o fazer, ou aceitar a necessidade de fincar barreiras perante procedimentos moralmente contraditórios e antiéticos? 

Poderá haver educação em práticas sociais que impedem a assunção de uma vida plena, quando não fazemos aquilo que se pode e sonha fazer? No setembro de vinte e três, ainda havia profissionais críticos, reflexivos e éticos. Juntos, materializamos um “novo início”. 

Sempre oportuna nas suas intervenções, a minha amiga Tina apontava “a oportunidade de repensar processos e fazer diferente, de deixarmos de estar “enclausurados” nas quatro paredes de uma sala de aula. 

Precisamos rever a imposição padronizada do conteudismo instrucionista, que destrói a curiosidade e impede o desenvolvimento do pensar crítico e criativo.

Que o velho normal da educação não volte nunca mais”. 

E a Teresa questionava: · 

O que nos impede de pensar a Escola Pública em conexão profunda com a comunidade, com as suas gentes, os seus saberes?

O que nos impede de acreditar na proximidade, no envolvimento, no diálogo, como fatores de aprendizagem?

O que impedia a mudança éramos nós! E, nos encontros de sábado, nos desimpedimos. 

Assim rezava o convite para os encontros de setembro de 2023:

“Novas Construções Sociais de Aprendizagem e Educação”

11:00 às 12:00 horário de Brasília/ 15:00 às 16:00 horário de Portugal

Link da videochamada: https://meet.google.com/jrj-bfyu-hji 

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