Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCDX)

Galeão, 6 de setembro de 2043

Em meados da década de oitenta, encontrei o Mestre Patrício, nos encontros da Comissão da Reforma do Sistema Educativo (CRSE), cadinho da Lei de Bases de 86. Depois, segui-lhe os passos, no projeto da Escola Cultural. Na génese da Lei de Bases, o pensamento do Mestre projetava um novo olhar sobre a Educação e sobre a Escola: 

“É preciso que o Homem se conheça a si próprio, no seu ser, é preciso que o Homem se forme, se eduque, se cumpra no seu ser – que cada pessoa possa ser outro para ser ele mesmo”.

Nos idos de sessenta, eu havia lido Mounier e a sua proposta personalista. Tinha estudado Dottrens e o seu ensino individualizado. Em 86, a Ponte já havia completado uma década de projeto, e o aluno era, efetivamente, o centro do processo de aprendizagem. Mas, pressentia lacunas no nosso labor pedagógico. A abordagem simultaneamente pedagógica e antropagógica do Mestre Patrício nos ajudou a colmatá-las.  

A proposta de “Escola Cultural”, também chamada “Educação Pluridimensional”, tinha cariz escolanovista, fora influenciada por Claparède, Montessori, Dewey, e antecedeu, em décadas, os debates sobre “Educação Integral”. A proposta de uma nova Paideia, visava a educação integral do ser humano considerado multidimensional – não apenas no domínio da cognição, mas, igualmente, no domínio da afetividade, emoção, ética, estética e até mesmo no da espiritualidade.

A produção de conhecimento caraterística da Escola Cultural aproximava-se do conceito e da prática do currículo tridimensional concebido pelos Românticos Conspiradores de 2004 e pelo Movimento de Educação Humanizada da década de vinte. Cada dimensão – da subjetividade, da comunidade e da consciência planetária – no seu conjunto, se revelava na transmissão do legado cultural e na criação cultural.

No site do Centro Educativo inspirado na obra do mestre Patrício se falava de redução do impacto ambiental, da maximização de um impacto social positivo e de uma estratégia de sustentabilidade global, desenhada em torno dos ODS. E as conferências nele realizadas eram tempos de comunitários encontros: 

“Que as conferências sejam presenciais e que seja possível conviver-se, debater-se e sonhar-se o futuro da educação em comunidade”.

Era evidente a tomada de consciência de que os projetos de humanização da educação contemporâneos não se coadunavam com as práticas escolares de então, origem remota de um mundo em guerra permanente, da corrupção generalizada e de outras e de outras violências. 

A obra do Mestre Patrício poderia ajudar a concretizar tal mudança, mas era, quase por completo, ignorada. Nos idos de vinte, falava-se de autonomia, de protagonismo juvenil, afirmava-se a necessidade de transformar o aluno em sujeito de aprendizagem, enquanto se mantinha hegemônico o trabalho pedagógico centrado no professor. 

Estávamos entrando na geração 5.0. já dispúnhamos de impressoras 3d, com as quais podíamos fabricar objetos, sem sair de casa. A Internet das coisas facilitava a vida em comum. O wi-fi planetário transformava o mundo uma pequena aldeia. A robótica e o desenvolvimento exponencial da inteligência artificial iriam substituir o ser humano em múltiplas situações. 

Talvez tivesse chegado o tempo de fazer justiça ao Metre Patrício, de voltar a estudar a Escola Cultural, de repensar a educação a partir da produção de vínculos entre pessoas.

“O homem é o único ser que conhecemos que se trabalha a si mesmo sobre uma ideia de si mesmo. Ou seja: o homem é o único ser sobre a Terra que quer ser outro para ser ele mesmo” – Mestre Patrício dixit.

 

Por: José Pacheco

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