Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCDXXII)

Mendes, 18 de novembro de 2043

O 12º ENARC foi um separador de águas, uma espécie de balanço de erros e fracassos, juntamente com uma vontade indômita de recomeçar. Foi tempo de distanciamento crítico – o que tínhamos andado a fazer, ao longo de cinquenta anos? 

Enquanto uns tantos, teoricamente, debatiam mudança e inovação, outros as vivenciavam no chão de escola. Eram dois submundos paralelos, que urgia religar. Um currículo eurocêntrico jamais questionado obstava a que se praticasse Darcy. Concursos e premiações como a do “Professor do Ano” eram reflexo de uma cultura profissional feita de solidão e de autossuficiência. Na era das “palestras”, se replicava “lugares-comuns” num discurso pedagógico vazio: 

“Práticas pedagógicas inovadoras; desenvolvimento de competências do século XXI”; “pensamento crítico e autoria; “atender a diferentes ritmos e necessidades dos alunos”; “educação integral”; “trabalho autónomo e diferentes estilos de aprendizagem centrados no aluno.” 

E cadê o “centro no aluno”?

Empresas oportunistas recorriam a um marketing feito de falsidade, repleto de jargão científico e citações de autores consagrados: 

“O professor gere o currículo, estabelece o papel do aluno no processo de ensino-aprendizagem; “estratégias de ensino-aprendizagem diversificadas”; “uso da tecnologia de uma forma crítica e inteligente”; o professor partilha com os seus pares as estratégias, recursos e práticas, como profissional reflexivo, comprometido e empenhado com a sua profissão.”

E cadê o “profissional reflexivo”?

E por aí seguia o relambório, confirmando que a sofisticação do discurso contrastava com a miséria das práticas. 

Foi nesse contexto que recuperamos uma “carta de princípios” de que a minha amiga Carla fora incentivadora e coautora, nos primeiros tempos dos Românticos Conspiradores”: 

“A educação, que prepara para a democracia deve se dar através de práticas não-autoritárias, que permitam a ampla participação de educandos, dos educadores, das famílias e da comunidade. Só é possível uma educação para a ação cidadã, se a educação for pela e na ação cidadã. As práticas educativas promotoras da liberdade, autonomia, respeito, responsabilidade, equidade e solidariedade, devem estar associadas aos princípios anteriores, para permitir que atinjamos o objetivo maior: a autorresponsabilização social.”

Repetimos o convite formulado na apresentação do Terceiro Manifesto da Educação, apresentado pelo RC na primeira CONANE, a se 2013:

“A você, que ama a educação e concorda que é possível fazer uma educação diferente da que aí está, fazemos um convite: Arregace as mangas e venha desdobrar o Manifesto pela Educação em ações concretas, que beneficiem nossos estudantes, suas famílias e a sociedade brasileira.”

Tinham passado dez anos. À semelhança dos dois anteriores manifestos, também o terceiro não lograra fazer “arregaçar as mangas”. 

Dez anos foram perdidos? 

Não. A criação de círculos de aprendizagem e protótipos de comunidade propiciaria uma efetiva educação integral, contemplaria a multidimensionalidade da experiência humana – afetiva, ética, sócio emocional, cultural, intelectual, espiritual. 

Grupos de Trabalho aprovaram minutas de contratos e termos de autonomia. Gozando de efetiva e responsável autonomia, revistos os regulamentos e os regimentos, professores ajustaram as suas práticas ao teor dos projetos das escolas e a novos modos de conceber e fazer educação, integrando-se culturalmente, e articulando os saberes escolares com os saberes comunitários. 

 

Por: José Pacheco

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