Freixo de Espada à Cinta, 30 de março de 2042
Os jornais de março de há vinte anos davam conta do desfecho fatal de um conflito familiar: Um adolescente de treze anos de idade matou mãe e irmão, só por lhe terem pedido e, depois, impedido de jogar num computador. O pai ficou em estado grave. O jovem alegou que a motivação para ter cometido o que fez foi porque “os pais o estavam privando de jogar um jogo de que ele gostava, o “Roblox” (sic).
Por essa altura, um vídeo que mostrava a agressão a uma professora “viralizou”. Um casal de médicos prestou-lhe os primeiros socorros. Depois de atendida na Emergência, a professora recebeu, ainda no hospital, uma bela homenagem de seus alunos e se emocionou.
Nas redes sociais, os internautas diziam-se comovidos com a violência de um jovem contra uma docente. Evidentemente, tratava-se de um episódio de uma série chamada “Sob Pressão”. Na vida real, professores tinham sido assassinados.
Nos campos de batalha em que as escolas se haviam transformado, raramente alguém se condoía. Porque, quando professores eram desrespeitados, insultados, ameaçados, agredidos, dentro e fora das salas de aula, havia lugar a… indemnização.
Uma professora agredida por um aluno, em sala de aula, foi indemnizada com vinte mil reais, por “danos morais”. O tribunal manteve a decisão que condenou o Estado de São Paulo a pagar essa quantia. Para o colegiado, “era dever do Estado fiscalizar o estabelecimento educacional e punir comportamentos inadequados de alunos sob sua responsabilidade” (sic).
Na Universidade de Coimbra, constava que uma professora fora acusada de insultar alunos e de “marcar falta a estudantes das ilhas e estrangeiros, por considerar que estes não falavam português” (sic). A direção da Faculdade desconhecia a situação, enquanto o Núcleo de Estudantes adiantava ter recebido um e-mail e estar em averiguações. Era alegado que a professora teria identificado uma aluna como “gorda”, ao perguntar se ela estava a faltar à aula. E que a professora “era conhecida por comentários xenófobos”.
Fosse ou não fosse verdade, certo era que a “ponta de um iceberg” se tinha avistado. E que acusações falsas, ou verdadeiras, eram reveladoras do “clima de escola” de muitas instituições desse tempo. A educação familiar, social e escolar estava infetada por uma inversão de valores, onde radicavam conflitos de menores dimensões e onde ganhavam raízes comportamentos pré-bélicos.
No meu tempo de juventude, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, já não havia uma “Juventude Hitleriana”, mas a Ditadura de Salazar impunha as regras da “Mocidade Portuguesa”. Independentemente dos contextos históricos, encontrávamos sintomas de pré-guerra: nacionalismos exaltados, conflitos étnicos e religiosos, ressentimentos, ódios.
Pitágoras dixit:
“Educai as crianças e não será preciso punir os homens”.
E o meu amigo Isaac assim refletia:
“Os valores humanos fazem parte de formação da consciência através de princípios morais e éticos que são construídos socialmente e fundamentais para o convívio humano. Entre os valores humanos podemos citar: o respeito, a garantia de convivência social pacífica e justa, a humildade, o senso de justiça e a solidariedade.
Revisitando a história da espécie humana, infelizmente, esses e outros valores humanos não foram utilizados em sua plenitude, gerando um cenário de exploração humana, violência, falsidades, hipocrisia, corrupção, consumismo, desrespeito aos direitos humanos, destruição da natureza, fome, guerras, migrações forçadas, genocídios e injustiças”.
Por: José Pacheco
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