Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (CMXCV)

Saquarema, 13 de setembro de 2042

No setembro de vinte e dois, um estudo do Edulog desocultou uma dura realidade. Os jornais noticiavam:

“Falta experiência aos formadores dos professores do básico e secundário. Falta experiência e formação aos docentes que ensinam professores.”

O estudo da Fundação Belmiro de Azevedo revelava que um terço dos docentes responsáveis pela Formação Inicial de Professores não tinham formação no ramo educacional e a muitos dos que tinham formação académica ajustada faltava “experiência de dar aulas no ensino obrigatório”.

Com ressalva para o adestramento em tecnologias digitais, a formação que se fazia por catálogo, em supermercados de créditos para progressão na carreira, era uma grande mentira, desperdício de milhões de euros. Se não, vejamos o que nos dizia uma notícia de jornal:

“Uma equipa de investigadores analisou as características académicas e profissionais dos docentes que asseguram a formação inicial de professores dos ensinos básicos e secundário em Portugal e concluiu que (…) um em cada três professores não tem formação no ramo educacional e os perfis académicos estão desajustados à natureza de algumas componentes de formação, segundo o estudo “Perfil académico e profissional de professores do ensino superior que asseguram a Formação Inicial de Professores.”

Há cinquenta anos, perdi a paciência, cansei-me de aturar burocratas e demiti-me de diretor do Centro de Formação PROF. Mais tarde, com o Adalberto, a Maria do Céu, o Natércio, o Bártolo e outros mestres, integrei a equipe do INAFOP (Instituto Nacional de Acreditação da Formação de Professores), onde se desenvolveu trabalho intenso, meticuloso, capaz de mudar para melhor a formação dos profissionais do desenvolvimento humano. 

Esse trabalho – talvez, a última tentativa de aumento do padrão de qualidade da formação – foi ignorado. O INAFOP definiu perfis, critérios, condições de uma efetiva boa formação. Talvez por ter sido um trabalho sério e ter “mexido” com interesses ocultos, foi um projeto de curta duração, tendo sido dissolvido pelo ministério que o criou. 

“Entre os professores com formação adequada há muitos a quem lhes falta “experiência de dar aulas no ensino básico ou secundário”, sublinhou um ex-ministro da Educação, explicando que essa falha faz com que os cursos acabem por ser “mais teóricos e menos práticos do que seria desejável”.

“Há cursos com qualidade e outros sem qualidade”, sublinhou David Justino, defendendo, por exemplo, a necessidade de se elaborar um perfil que evidencie que formação deve ter quem prepara educadores de infância, um professor do 1.º ciclo ou do ensino secundário.”

Eu não entendia por que razão o David dizia faltar “a definição de um perfil comum que se pretende dos professores” e apelava ao ministério da educação que fizesse mais “um esforço”. Porque, segundo disse, o estudo servia como “ponto de partida para uma reflexão mais alargada sobre a importância da Formação Inicial de Professores”.

Mais um esforço? A sabedoria popular resumiria numa expressão a infeliz declaração do ex-ministro: “Vira o disco e toca o mesmo”.

A formação inicial, tal como a chamada “contínua” andavam pelas ruas da amargura. Era bem verdade o que escutava nas salas dos professores e nos corredores das faculdades e dos centros de formação. Nesses e em outros lugres onde os professores colecionavam créditos sem contrapartida de mudança, escutava uma irónica (e triste) afirmação: 

“Quem sabe faz, quem não sabe ensina.” 

E, nesse tempo, quem não sabia ensinar fazia formação de professores.

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