Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MXXXII)

Araruama, 22 de outubro de 2042

Nos idos de vinte, o Movimento de Inovação na Educação sugeria a consulta de obras de pedagogos, que se “dedicaram a pensar modelos educacionais mais alinhados com as rápidas mudanças da sociedade”. Considerava que as propostas de eminentes pensadores “poderiam estimular,provocar e fazer refletir sobre como é possível desenvolver práticas pedagógicas inovadoras, dentro e fora da sala de aula.”

A frase faria sentido, se o ponto final fosse colocado logo após a palavra “inovadoras”. Ao acrescentar a expressão “sala de aula”, partia-se do pressuposto de que escola era um prédio feito de salas de aula e que, dentro desses espaços instrucionistas poderia acontecer inovação.

Inovar em sala de aula era missão impossível. Confundia-se inovação com ornamento paliativo.

Era grande a indignação daqueles que, efetivamente, tentavam inovar e careciam de apoio. Nesse tempo, a palavra inovação estava presa numa teia de intenções mercantis, era usada e abusada por especialistas em “captar recursos”. Os dinheiros provenientes de editais, concursos,  fundos comunitários e outras fontes de financiamento eram “caçados” e desperdiçados, porque a  palavra “inovação” estava sequestrada no discurso de teoricistas legitimadores de caricaturas de “inovação”.

Nesse tempo, ainda eram construídos prédios a que chamavam escola e onde professores, alunos e funcionários passavam o “ano letivo” encaixotados em “sala de aula”. Escrevi a palavra encaixotados sem aspas porque, na Internet, um “especialista” dera resposta “técnica” a professores que buscavam resposta a esta pergunta:

Quantos alunos caberiam em uma sala de aula com 5.96 m de largura 6.10 m de comprimento?

Melhor resposta:  5.96mX6.10m=36,356m². Daí faz a regra de três:1 aluno – 1m² x alunos – 36,356m² x=36,356 alunos.

Sei que, hoje, é difícil acreditar, mas não se tratava de um exercício de ironia, perante uma pergunta idiota. E a “resposta” do “especialista” continuou a ser dada do seguinte modo:

“Vamos considerar também qual o tipo de mesa e cadeira. Nesse caso, com a carteira com os seguintes dimensionamentos: Assento: 51 cm de profundidade e 43 cm de largura, em medidas normais; Mesa: 40 cm de profundidade e 60 cm de largura, em medidas normais. Com estes dados, calcularemos o espaço que estas duas peças de imobiliário ocuparão.

Vamos calcular tudo: 60 cm de largura da carteira + 25 cm de cada lado, 60 cm+25×2=60+50=1,10, 51 cm de profundidade da cadeira + 40cm de profundidade da carteira + 40cm de espaço de circulação atrás da cadeira 51 cm+40 cm+40 cm = 131 cm.

Considerando que quando a cadeira for projetada para baixo da mesa (30cm) quando alguém estiver sentado, esta liberará 21cm de espaço para circulação atrás, que, somados aos 40 cm já previstos, totalizarão em 61 cm, o que não é interessante, pois fica maior que a circulação lateral.

Diminuiremos então de 131 cm – 21, onde teremos finalmente o resultado esperado: 51 cm+40 cm+40 cm= 131 cm-21 cm= 111 cm. Quer dizer, teríamos espaço para 30 alunos.

Para finalizar, teremos espaço para 20 alunos, com circulação adequada e ângulo de visão amplo do professor. Ufa!! Tomara que você tenha entendido tudo. Precisando, estamos às ordens!”

Juro que essa “informação” estava disponível na Internet e que constava de um livro publicado por uma editora universitária. O modelo instrucionista chegara ao paroxismo, ao limite do absurdo. O disparate fora institucionalizado.

A este chorrilho de burocráticos disparates poderia juntar muitos outros. Mas esta cartinha já vai longa e por aqui me fico.

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