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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCIX)

São Francisco,  18 de julho de 2043

Nos idos de 1980, na proto-história da humanidade, quando os homens ainda precisavam de tribunais, prisões e guerras, as crianças imitaram-nos, criaram um “tribunal”. Até ao dia em que uma menina de seis anos de idade, advogada de defesa de um colega, assim falou numa sessão do “tribunal”:

“Vós não ouvis dizer que devemos amar-nos uns aos outros? Eu escutei o advogado de ataque dizer que o Marco cospe nos colegas, que lhes atira pedras, que o Marco é mau. Mas o Marco não precisa que digam que é mau. Ele precisa de quem o ajude a ser bom. Algum de nós já ajudou o Marco a ser bom?”

E continuou: 

“Estou nesta escola há um ano e só ouço falar de castigos. Proponho que se acabe com o tribunal e se crie comissões de ajuda.”

Nas primeiras semanas na Ponte, o Marco chegava pontualmente atrasado, cerca das dez da manhã. Um dia, quis saber o porquê do atraso. Ele explicou.

“Sabes que a minha mãe é prostituta, não sabes? E sabes que eu tenho uma irmãzinha? Quer dizer… não é bem minha irmã, é assim como meia-irmã, porque o meu pai é o pai dela. Percebes? A minha mãe disse-me que ele era meu pai. E eu pedi-lhe para brincar com a minha irmãzinha. Ele disse que não era meu pai e que eu não me aproximasse da filha. Então, eu nunca pude brincar com a minha irmã.”

“Não pudeste, mas, qualquer dia, vais poder…”

Não me deixou concluir a frase.

“Não! Porque ela morreu atropelada.”

“E por que chegavas tarde à escola?”

“Porque eu não tinha vontade de ir. Quando acordava, ia ao jardim da praça, roubava umas flores, saltava o muro do cemitério, deitava as flores na campa da minha irmã, falava com ela, dizia-lhe que eu estava muito triste e que, quando fosse grande, ia comprar uma pistola e matar o nosso pai.”

Curioso que sou, quis saber o que era isso de “comissão de ajuda”. No dia seguinte, pus-me de atalaia, perto do portão. O Marco chegou, viu uma menina a plantar umas flores. Alçou a perna, para lhe dar um pontapé. Logo um círculo humano o rodeou, dizendo: 

“Marco, somos a comissão de ajuda. Estamos aqui para te ajudar. Nós sabemos que tu és bom. Nós somos teus amigos!”

O Marco fez uma cara feia e desistiu de dar o pontapé.

Quando a comissão de ajuda se dispersou, apanhou uma pedra e mirou a cabeça de um colega. Quando puxou o braço atrás, para a atirar, o círculo humano voltou:

“Marco, tu não vais atirar essa pedra, porque tu és bom. Somos a comissão de ajuda. Estamos aqui para te ajudar.”

Cada vez que o Marco ensaiava uma malfeitoria, olhava à volta, porque logo a comissão de ajuda apareceria. De modo que só lhe restou deixar de “ser mau”. 

O “mandamento novo” se cumpriu. Nunca mais foi preciso punir qualquer aluno, porque foram criadas regras de convivência. 

“Foi bonita a festa, pá”… À iniciativa da Bruna, do Bruno, da Francis, do Gabriel, do Jorge, se juntaram mães da comunidade. E a festa junina se fez singela e bela. 

Enquanto as crianças jogavam às argolas e à  corrida de sacos, nas traseiras da Casa-Mãe, se cortava cabelo, e na cozinha se preparava um caldinho, que aquecesse as entranhas, naquele fresco fim de tarde.  

Amigos chegavam, trazendo alimento e humanidade. Respirava-se comunidade. Ali, o milagre da multiplicação do cuidar crescia.  De um saber cuidar que me transportou à Ponte e ao episódio, que nesta cartinha transcrevi. 

Quando começou o bingo, o Bruno ergueu o braço. Logo as crianças ergueram os braços e silêncio se fez. 

Um visitante perguntou

“Porque ergueste o braço?”

“Porque, quando alguém quer falar, pede a palavra, erguendo o braço.”

“Os professores também erguem o braço, para pedir para falar?”

“Claro!”

E o bingo começou, num ambiente de atento silêncio.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCVIII)

Itacoatiara, 17 de julho de 2043

No fundo mais fundo do baú das velharias, eis que encontro a cópia amarelecida de uma mensagem que, há muito tempo, procurava:

“Prof José, espero que esteja bem, porque aqui vai tudo a correr mal, infelizmente as coisas não estão a funcionar, nem pela via pública nem pela privada.

Não sei como o professor aguenta tantos anos desta luta. Eu estou já desgastada. Os obstáculos conseguem derrubar-nos, uma e outra vez. Enfim, cá continuarei no meu ativismo, mas sinto-me sem recursos. 

Um abraço e obrigada por tudo.”

Se, como dizia Freire, a educação era um ato de amor, recordo-me de, amorosamente, ter respondido. Convidei a Tânia para conversa. Pedi-lhe que não desistisse. Mas, Não poderia ignorar os obstáculos e de a ajudar a ultrapassá-los.

Não aconselhei, porque isso é coisa de velho. Disse-lhe que os obstáculos seriam ultrapassados, se apelasse ao bom senso e evocasse a lei e uma ciência prudente.

Recomendei à Tânia e a todos os queixosos pais e mães que efetuassem a matrícula dos seus filhos na escola-prédio mais próxima. Que lessem o seu projeto educativo e pedissem que lhes fosse explicado o modo como o projeto educativo estava a ser cumprido. Acaso o projeto correspondesse à educação desejada para os seus filhos, perguntariam se haveria por ali algum professor que ainda não tivesse morrido. E, se houvesse coerência entre o projeto escrito e a sua prática, nada obstaria que as crianças fossem matriculadas. 

Infelizmente, a prática da quase totalidade das escolas era oposta ao que estava escrito no seu projeto educativo. Por exemplo: em quase todos os projetos educativos, as escolas se comprometiam a fazer dos seus alunos seres humanos autónomos. Se, nessas escolas se “dava aula”, como se desenvolveria autonomia em sala de aula? 

Em sala de aula, se impregnava os jovens seres de heteronomia. Claramente em contradição com o teor do projeto escrito, essa prática desenvolvia nos alunos dependência, obediência formal, submissão. A prática era a negação do projeto e a negação do direito à educação. 

E era um “salve-se quem puder”. Quem tinha dinheiro remetia os filhos para práticas de “ensino doméstico”, quem tinha empregada doméstica empurrava os filhos para o “ensino individual”. A Educação vivia sob um manto diáfano de fantasia, feita de incoerência, à semelhança de movimentos sociais de então.

Em Portugal, um cristianismo obtuso havia produzido católicos “não-praticantes”. No Brasil, deparei com freireanos “não-praticantes”, que teorizando o freireano diálogo e denunciando a “educação bancária”, não praticavam a freireana “interação coletiva” e, na prática, faziam “educação bancária”. 

Eram os “porquenins”, seres nem sim, nem não que, metaforicamente, vos apresentei nas cartinhas escritas, quando a Alice nasceu. Os porquenãos assim se chamavam por não saberem explicar por que faziam o que faziam. Porquenins eram pássaros sempre de acordo, ora com uns, ora com outros, conforme a ocasião, aliados dos porquenãos, a quem competia vigiar o cumprimento das normas e rituais de adestrar.

Nesse tempo de ignomínia, a infância permanecia cativa de hediondas práticas. Crianças de tenra idade tentavam suicídio. E havia quem desistisse, quem se refugiasse em paraísos artificiais. Havia quem me dissesse que não deveria fazer comentários críticos, nem falar de lamentáveis ocorrências. 

Dizei-me, netos queridos, se não se deveria denunciar nefastas situações. Se, amorosamente, não seria nosso dever indeclinável denunciar, com palavras doces e amargas, de maneira serena e firme.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCVII)

Icaraí, 16 de julho de 2043

Generosamente, me avisaram de eu exagerar referências a tragédias. Tinha razão quem me avisou. Embora por boas razões, eu me comportava como um “ressentido” perante uma generalizada indiferença face a duras realidades. As escolas eram consideradas depósitos de crianças. Com ou sem Ritalina, com aulas de reforço ou escolas cívico-militares, a administração educacional privava milhões de jovens do direito à educação. 

Nos primórdios da instrução pública, foram construídos edifícios dotados de pátios internos e rodeados de muros altos, réplicas das praças de instrução militar, destinados à instrução dos jovens. As escolas foram divididas em salas (celas dos mosteiros e prisões) de janelas estreitas e abertas bem acima da estatura dos alunos. Estes eram instalados em filas, separados em grupos etários uniformes e distribuídos por graus de ensino. Foram instituídos programas iguais para todos e criados dispositivos de controle total. 

O toque de uma sineta passou a marcar a cadência de horários de aula iguais para todos, visando a uniformização e o conformismo consentâneos com as necessidades de uma revolução industrial emergente. Os livros delimitavam o conteúdo, a avaliação era confundida com a aplicação de provas-padrão. Cargos diferenciados reforçavam a hierarquização subentendida na relação professor-aluno. A disciplinarização física e psíquica era mantida, através da imposição de inquestionáveis regras, e eram frequentes as premiações e os castigos. 

Nos idos de vinte, ainda que disfarçadas, eram essas as escolas que esperavam a Analu. Para ela desejávamos uma vida feliz. Então, deitei mãos à obra. Tentei descrever o modo como surgiu a escola que para ela desejávamos. Reconheci preocupação e bondade na admoestação de um ser feito de luz, e me dispus a trocar a denúncia pelo anúncio, tanto quanta amorosidade pudesse colocar na descrição. 

E quem era esse “ser de luz”? A avó da Analu.  Com ela reaprendi paciência e fé. Uma fé “pedagógica”, que havia deixado num caminho feito de “pontes” e desencantos. Desaprendera de amar. 

Com a Vovó da Analu, não cantaria o amor de Drummond, que “se refugiara mais abaixo dos subterrâneos”. Cantaria a Vida, por ela ser não mais do que um contínuo ato de Amor, a única realidade possível.

A coragem de Viver era a sua tradução. E, se no país de adoção o mais belo hino do mundo nos dizia que “um raio vívido de Amor e de esperança à terra desce”, porque teria sido amputado o lema positivista inscrito na bandeira do Brasil?

“Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por finalidade” – eis o lema adotado por Benjamim Constant, que, em finais do século XIX, propunha uma “formação adequada aos novos tempos” e pugnava por que a palavra Amor estivesse presente em todas as citações do lema positivista. Em vão tentou. Então que o fizéssemos! Que no Amor, por Amor, pelo Amor, operássemos quotidianos e anónimos gestos de humanização. 

A Analu os mereceria. E, hoje, à distância de duas décadas, a Analu é a tradução viva desses anónimos gestos.

Peço, desde já, desculpa, pela inevitável argumentação de caráter “científico”, que deverei utilizar. Peço, pois, a vossa compreensão, acaso aquilo que irei recolocar nestas cartas vos perturbar. O Jung já dissera que “temos medo de nos conhecermos, mergulharmos em nossos vazios e medos, entrarmos em contato com esses aspetos tão sombrios de nós mesmos, em suma, com o sofrimento”. 

Se o não o fizermos, não poderemos aceitar-nos e sem isto, dificilmente construiremos relações felizes e conseguiremos sentir-nos realizados.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCVI)

Porto Seguro, 15 de julho de 2043

O Rómulo pediu, por favor, que eu comentasse “sobre os eventos recentes envolvendo as escolas cívico-militares”. 

Quando, nos idos de vinte me pediam para falar desse tipo de escolas, eu respondia que só comentava assuntos sérios e me remetia ao silêncio. Mas, distantes duas décadas desse estranho fenômeno, sem qualquer resquício de favor, o comento.

O amigo Tião comparava o modelo educacional subjacente a essa infeliz iniciativa política a um “serviço militar obrigatório”, a partir dos seis anos de idade. Era certo que o “campo de batalha” em que a escola da aula se transformara se abria para a remilitarização da ensinagem. Remilitarização, porque a escola tinha por origem remota a escola prussiana do século XVIII. 

Ela fora concebida no início da Primeira Revolução Industrial, correspondendo a necessidades sociais da Prússia Militar. Por volta do século XVIII, um país que já nem existe, chamado Prússia, precisava de um exército forte, para o unificar. O seu imperador decretou “o ensino militar obrigatório aos cinco anos”. As crianças foram confinadas em casernas a que deram o nome de escolas, que cultivavam uma rígida disciplina e seguiam um regime autoritário usuário de severas punições. Obedientes a um regime disciplinar inquestionável e respeitadores de uma hierarquia imposta, os jovens eram treinados para a guerra. 

A remilitarização da escola partia de princípios idênticos àqueles que lhe deram origem. As crianças eram manipuláveis, meros objetos de ensinagem, formalmente obedientes a inquestionáveis ordens. A convivencialidade humana fundada numa relação humana vertical, as cadeiras enfileiradas, as filas, o toque de entrada e saída de espaços de confinamento governados por regras impostas arbitrariamente, foram criações do tempo imperador, desencadeando a normatização do ensino. 

Dado que a aprendizagem acontece por imitação e pelo exemplo, bonsais humanos ignoravam a existência de uma educação humanizadora e impunham a escola da violência simbólica, “militarizada”, a mesma de que tinham sido vítimas. Erguiam-se e reforçavam-se muros e grades, e as escolas eram entregues à guarda de militares. Promovia-se o reforço policial, eram construídas mais prisões (um preso ficava quatro vezes mais caro do que um aluno de escola pública).

Na sociedade dos idos de vinte, cativa da inversão de valores, vivemos o pesadelo da criação dessas nefastas escolas, apoiadas por gente padecendo de menoridade cidadã, que confundiam autoridade com autoritarismo.

A absurda remilitarização das escolas teve vida breve. Embora tenham ficado restos do absurdo “sistema”, debelada a crise democrática, os militares começaram a regressar aos quartéis, e a educação voltou às escolas. 

Talvez os professores tivessem aprendido a lição. A escola nascera “militarizada”. Os professores dos séculos XVIII e XIX não sabiam que a autoridade não rimava com autoritarismo. Mas, os educadores do século XXI deveriam saber que a escola não deveria preparar para a cidadania, que aprendemos no exercício da cidadania, onde cabem uma liberdade responsável, a autodisciplina, na verdadeira disciplina, e que estas não resultam de imposições e submissões. 

Assumindo a autoridade que lhe era outorgada (não confundir com autoritarismo), já havia educadores praticando dialogia, desocultando perversos modos de relação. O autoritário instrucionismo (escolar e militar) deu lugar à edificação da utopia: uma escola onde não imperasse a ordem imposta, mas prevalecessem a dignidade e a liberdade.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCV)

Arraial d’Ajuda, 14 de julho de 2043 

Como, ontem, vos disse, nos idos de vinte, um aumento significativo de alterações climáticas provocava a eclosão de novos fenômenos. E as crianças não ficaram imunes aos efeitos da degradação ambiental – novos fenômenos as afetaram: “privação de Natureza”, “ecoansiedade”, sedentarismo, aumento da violência, de bullying e cyberbullying … 

Se as escolas eram as pessoas e se o meio ambiente era composto por elementos naturais e humanos, que interagiam entre si no espaço, um dos modos de cura ambiental seria considerar que toda a educação era ambiental.  Porém, os negócios educacionais, que mercantilizavam a Escola Pública, não manifestavam interessse por assuntos de escasso lucro. Quedavam-se por inúteis formações e congressos “socioemocionais”. 

Evidências científicas se acumulavam sobre os prejuízos para a saúde decorrentes da degradação ambiental, agravada pelo uso precoce, excessivo e prolongado das tecnologias digitais, durante a infância e adolescência. 

Talvez não fosse do conhecimento dos desgovernantes de então este repositório de perdas e perigos. Nesse tempo, o Brasil contava mais de dez milhões de pessoas passando fome. A insegurança alimentar aumentara e atingira um terço da população do país. Era gravíssima a situação, pois 73% das escolas ditas públicas estavam localizadas em áreas de risco hídrico, geológico e de vulnerabilidade social.

Nas escolas-prédios, eram injetados projetos: de educação ambiental, mas o efeito de estufa aumentava, a Amazônia encolhia, espécies eram extintas e geleiras derretiam. Projetos de educação sexual não obstavam a que estudantes universitários estuprassem colegas, durante o trote. Havia projetos de educação para o trânsito e para a saúde, mas as estradas eram cemitérios e a obesidade mórbida aumentava. Até havia projetos de educação para a paz, num tempo em que crianças e professores eram assassinados dentro das escolas-prédios.

Muitos saberes tinham sido extintos, ao longo de uma era a que o vosso avô dera o nome de “Proto-história da Humanidade” e que o Paulo nos recordara.

Em 1755: num terremoto, que destruiu Lisboa, mais de 70.000 volumes da Real biblioteca de Portugal foram perdidos. 

Em 1813: durante a Batalha de Washington, 3 000 livros foram usados pelas forças inglesas, para incendiar o Capitólio.

Em 1851: a Biblioteca do Congresso, uma das principais bibliotecas dos Estados Unidos, sofreu com um incêndio que queimou 35.000 livros

Em 1873: a Sociedade Nova Iorquina para a Supressão do Vício, uma organização fundada para combater a imoralidade, tinha como símbolo um desenho representando a queima de livros. 

m 1879: na Biblioteca Central de Birmingham, houve um incêndio que consumiu praticamente todo o acervo da biblioteca, poupando cerca de 1.000 dos 50.000 volumes. 

Entre 1914 e 1920: na União Soviética, houve queima de um número indeterminado de “decadentes obras da literatura ocidental”. 

Em 1933: 40 mil livros foram destruídos pelos nazistas na “Grande Queima”. 

Na Varsóvia, a

Em 1944:  a Biblioteca Załuski, ardeu em chamas com a destruição provocada pelos nazistas. 

Em 1950: durante o “macarthismo”, muitas bibliotecas dos Estados Unidos queimaram livros considerados “comunistas”. 

Em 1973: após o golpe militar no Chile, livros considerados subversivos foram queimados.

Em 1998: 55.000 livros da Biblioteca Pública afegã Poli-Khomri foram destruídos por talibãs. 

Em 2015: no Iraque, o Estado Islâmico queimou milhares de livros, destruiu bibliotecas privadas e a da Universidade de Mosul.”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCIV)

Caraíva, 13 de julho de 2043

A Vida me fez amigo de extraordinários seres humanos. Entre eles, o Paulo, um empresário, que pretendia criar a “Escola Um de NÒS” e abrolhava filantropia em comunidades carentes.

Presentiou-me com um precioso texto. Consegui disponibilizar algumas horas do escasso tempo que me restava de quotidianos afazeres, para ler (e reler) relatos quase-autobiográficos. Agradeci, disse-lhe que, algum dia, lhe contaria uma estória que, quando terminava, só poderíamos ficar em silêncio. E o aconselhei a enviar para publicação a sua obra.

O texto do Paulo contrastava com o inundar a comunicação social com péssimas notícias:

“Diante da semana mais quente já registrada, a ONU soa o alerta mundial e aponta: “as mudanças climáticas estão fora de controle”. Na terça-feira, a média da temperatura no mundo foi de 17,18 graus Celsius, superando o índice do dia anterior, que já havia sido um recorde.

Ciclone põe em perigo maioria das cidades gaúchas e 1/4 das catarinenses. Municípios estão em alerta vermelho do Inmet para tempestade e/ou vendaval; no RS, aulas foram suspensas.

São Paulo terá frio, vento de 90 km/h e sensação térmica de 4ºC até sexta.”

O amigo Paulo encerrava o seu livro com uma lista de “perda de saberes”. Quero crer, ainda hoje, que se tratava de uma denúncia da cupidez humana, acumuladora de riqueza e de poder, depredadora de património. Com a devida vénia e manifestação de gratidão ao amigo Paulo, nesta e na cartinha de amanhã, dar-vos-ei a conhecer uma extensa lista de “SABERES PERDIDOS”.

Em VII ac: de acordo com o Tanach, o rei Joaquim de Juda,queimou trecho de um manuscrito que havia sido ditado pelo profeta Jeremias a Baruch ben Neriah  De 213 a 26 A.C.: na dinastia Qin, livros que fossem contrários à ideologia legalista dominante foram queimados. 

Em 48 A.C.: a biblioteca de Alexandria, que continha uma coleção de mais de nove mil manuscritos, foi queimada. 

Em 326: no primeiro Concílio de Nicea. muitos livros e textos foram considerados apócrifos.

Em 367: o Bispo Atanásio de Alexandria enviou uma carta aos seus fieis, na qual pedia que monges egípcios destruíssem escritos inaceitáveis, com exceção daqueles listados por ele de “aceitáveis” e canônicos, lista essa que constitui o atual Novo Testamento. 

Em 435: Cirilo de Alexandria, queimou todos os livros de Nestório. 

Em 587: após sua conversão ao cristianismo, Recaredo I, rei dos visigodos, ordenou que todos os livros arianos fossem recolhidos e queimados. 

1193: ano em que os Invasores turcos destruíram a biblioteca de Nalanda, importante acervo da filosofia budista. 

Em 1204: A Biblioteca Imperial de Constantinopla foi destruída pelos cavaleiros cruzados. 

De 1244 a 1258: queima dos manuscritos judaicos da biblioteca de Bagdá. 

Em 1307: O rei Felipe induz o Papa a condenar os templários por heresia, e começa a caçada e a queima de livros. 

Em 1439: de acordo com o Códice Florentino, Itzcoatl ordenou a queima de todos os documentos históricos e religiosos, alegando que “não era sábio que as pessoas conhecessem as pinturas”. 

Em 1499: a Inquisição Espanhola queimou 5.000 manuscritos árabes, em Granada. 

Em em 1562: o bispo Diego Landa tratou de incinerar a grande maioria da documentação escrita maia, por conta de sua origem pagã,. 

em 1640: nas regiões regiões católicas na Alemanha, traduções da Bíblia de Lutero foram queimadas. 

Em 1730: O Arcebispo de Salzburgo supervisionou a queima de todos os livros

Protestantes, que conseguiu encontrar. 

É imenso o rol de saberes perdidos, resultante do intenso labor do amigo Paulo.

Amanhã, o retomaremos.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCIII)

Pocinhos do Rio Verde, 12 de julho de 2043

Fui em romagem ao lugar onde, há 67 anos, o projeto Fazer a Ponte nasceu. Depois, passei o rio e subi a encosta de Negrelos, para visitar o novo edifício da Ponte. No hall de entrada, um pequenito de uns três ou quatro anos me pergunta:

“Quer ver a nossa escolinha? Quer que eu mostre?”

As crianças da Ponte eram cicerones dos visitantes. Tudo mostrava e explicavam às visitas. Dei um beijinho ao miúdo, agradeci e ia dizer-lhe que já conhecia a escola, quando a Dona Helena se aproximou:

“Ó, Professor, por aqui? O que o traz por aqui?”

Apercebendo-se de que a criança continuava a fitar-me com curiosos olhos, a Dona Helena perguntou:

“Sabes quem é este senhor?”

“Não sei.”

“É o Professor Zé.”

“Ah! Sei. Foi professor do meu avô.”

 A vida é uma breve aventura. Na minha provecta idade, sinto que o tempo foge, enquanto a eternidade avança, se aproxima o tempo de partir. Houve um tempo em que eu evitava perguntar por onde andariam os amigos.

“Tens visto a Margarida?”

“Morreu. Há já uns dois meses. Não sabias?”

Não sabia. Só no tempo das redes sociais as desditosas notícias chegavam quase no momento da ocorrência. O amigo Brandão falecera. Com ele estivera, antes que a leucemia o minasse. Conversamos sobre a sua visita ao Rubem, pouco tempo antes de esse amigo comum partir para a eternidade.

No reatar de mais um período de tratamento, nos enviava palavras feitas de cansaço:

“GENTE AMIGA DE PERTO E DE LONGE,

Agora que posso estar por um pouco mais de tempo sentado diante do computador, escrevo a vocês de forma mais completa.

Há pouco mais de um mês voltei do hospital (e da UTI) para casa. Estive lá cerca de dois meses, deitado em uma cama e tomando uma quimioterapia que para dar conta de minha leucemia, quase me leva também.

Estou 20 quilos mais magro, alguns meses (que parecem anos) mais velho e muito enfraquecido. Um terapeuta me ajuda a recuperar movimentos. Estou precisando reaprender quase tudo o que pensei que já sabia: andar, comer, escovar os dentes, escrever, etc.

Em casa, estou entre a cadeira de rodas e o andador. Espero voltar a caminhar com bengala logo. Uma caminhada em casa, de 20 metros me cansa mais do que quando eu (andarilho inveterado) passava dias entre trilhas. Eu, que escalei o Dedo de Deus, participei da equipe de conquista do Paredão Baden-
Powell e fiz o Caminho de Santiago. Sendo eu um frequentador de acidentes graves e de cirurgias, acho que haver chegado à esta idade é uma bênção, se não for um milagre.

Estou velho, magro e feio. Mas vivo ainda! De repente me vejo sendo cuidado. Dependo de outras pessoas para quase tudo. Aos 83 anos, me vejo como se
tivesse 3 anos. 

Depois do agito de 2021, com as inacabáveis lives ao redor do Centenário de Paulo Freire, eis que, doente, vivo dias extremamente tranquilos. E os aproveito para fazer o que sempre foi a minha quase maior alegria: ler e escrever. Leio e releio livros de autores que sempre me tocaram, entre a poesia, a espiritualidade, e a antropologia. Ouço música, desde a clássica até modas de viola. 

E escrevo desmesuradamente. Depois dos livros voltados à educação popular, abri o leque dos meus desejos e imaginários, e entre a poesia e a antropologia, me vejo, aos 83 anos, como quem “alça voos do espírito”.”

Na UNIPROSA se lamentava a perda do amigo:

“Muito triste! Dor profunda! Paulo Freire dizia que Brandão era o homem mais “humano” que ele conhecera. Que siga em paz pelos caminhos do Infinito!

Perda grande, seu legado é uma relíquia e seu testemunho de pessoa humana é inesquecível.  Sua simplicidade, atenção e autenticidade ficaram gravados em minha mente e coração.”

 

 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCII)

Mogi das Cruzes, 11 de julho de 2043

No Brasil, só poderemos falar da existência de uma rede escolar pública, a partir de 1930. Mas poderíamos falar de Escola Pública num país em que a rede pública de ensino era geradora de abandono intelectual? 

Sim. Lestes bem. O “índice de desenvolvimento da educação básica”, as classes de reforço, a fuga à matrícula, o êxodo de alunos para o “ensino particular” e para “escolas alternativas”, analfabetismo crônico, propostas de homeschooling na câmara dos deputados… eram explícitos reveladores da falência do sistema de ensinagem. 

O direito (constitucional) à educação era negado à maioria dos alunos das escolas de sala de aula. Em cada cinco matriculados no primeiro ano de escolaridade apenas um concluía um curso universitário. O modelo da ensinagem imposto pelo Estado às escolas obstava ao cumprimento do disposto na Constituição. 

Dados divulgados pelo Ministério da Educação apontavam para milhões de jovens abandonando o ensino fundamental. Diria que não eram os jovens que o abandonavam, os jovens eram abandonados pelo Estado. Os elevados índices de evasão escolar e a deterioração das políticas públicas de educação não seriam indícios de… abandono intelectual? Essa anómala situação não configuraria “abandono intelectual”? A sala de aula não seria locus de “abandono intelectual”? Cadê o cumprimento do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente?

Na letra da lei, o ECA assegurava, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos fundamentais das crianças referentes à vida, à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária… à educação. Na prática, no chão de escola, o direito fundamental à educação não era assegurado. 

O direito à educação era parte de um conjunto de direitos sociais, que tinham como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. Em 1988, as responsabilidades do Estado foram repensadas e promover a educação fundamental passou a ser seu dever. E o artigo 205º da Constituição consagrava o direito da pessoa ao pleno desenvolvimento, preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 

O artigo 208º dizia-nos que o dever do Estado com a educação seria efetivado mediante a garantia de ensino fundamental obrigatório e gratuito, bem como pelo acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. Todos, sem qualquer distinção, tinham (por lei!) direito à educação e, especificamente, à educação escolar, regulamentada pela LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 

Por seu turno, o artigo 55 da Lei 8.069 estabelecia:

“Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. 

Uma notícia dizia que tinha sido mantida a condenação de uma mãe que “deixou de prover à filha o direito de estudar”. Acusaram-na de prática do crime de “abandono intelectual”. Mas, em tempo de pandemia, as filhas da Kátia e as dezenas de crianças do seu bairro estavam sem contato com a escola, há mais de três meses. Essa situação não configurararia, também, “crime de abandono intelectual”?

Esse crime constava do Código Penal. A Escola do Estado teria o direito de condenar milhões de jovens ao insucesso na escola e na vida? Teria direito de, impunemente, contrariar o Direito? Não reconhecia a mesma lei o “direito da criança e do adolescente à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa”

Dizia-se que o Brasil contava mais de um mmilhão de leis. Mas, parecia que só a lei da gravidade se cumpria.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXCI)

Barra do Garças, 10 de julho de 2043

Nesta cartinha, completo o episódio dos idos de setenta, acrescentando-lhe reminiscências de cartas e outras mensagens. 

Tentei sossegar as minhas colegas professoras, explicando-lhes o que era “o tal de projeto” e me predispus a com elas reunir. 

Nas manhãs de sábado daquele tempo, os professores eram obrigados a fazer uma reunião de “Conselho Escolar”. Dado que cada professor se refugiava na solidão da sua sala de aula, não havia assunto de conversa comum. Mas, sedentos de companhia, essa reunião propiciava-lhes momentos de sã convivencialidade. Contornava-se o tédio de três horas de reunião, tricotando, comentando episódios de novela das oito, mostrando fotografias tiradas na última viagem, o álbum do casamento da filha mais velha, ou comprando produtos de beleza, que uma das colegas vendia, para compensar o baixo salário.

Eu, que não assistia a novelas das oito, não tinha fotografias para mostrar, nem tinha produtos de beleza para vender, levava o jornal para o ler. E, sempre que propunha debater algum assunto relacionado com o projeto da escola, colegas diziam para eu “ter juízo”, que “fizesse a ata da reunião”, porque, segundo eles, eu “tinha jeito para a escrita”.

Desse e de outros modos se consolidava uma cultura de escola “alheia a projetos”, se perdiam oportunidades de dignificação e melhoria do estatuto da profissão de professor. Por essa altura, teve início a reelaboração da minha cultura pessoa e profissional. E quase fui assassinado.

Foi rápida a reunião e eu pude voltar a casa no mesmo dia. Uma professora foi lendo o “projeto”, enquanto as restantes faziam crochet, ou conversavam sobre a a novela das oito. A certa altura, a leitora disse:

“Levaremos os nossos alunos à lota…”

As professoras pareciam estar alheias à fala da colega, mas estavam bem atentas e comprovei que possuíam uma boa memória dicótica.

“Ora repete lá isso outra vez, ó Joaquina!”

A Joaquina repetiu. E a pergunta veio em coro:

“O que é isso de lota? Eu não sei”.

Interrompi, para informar que lota era um lugar onde se expunha o peixe, quando os barcos voltavam da pesca.

“Estais a ver?” – disse a Joaquina – “Fizemos mal em copiar o projeto das colegas da Póvoa”.

Póvoa era uma localidade junto ao mar. A escola em causa ficava a mais de duzentos quilômetros do mar, mas a criatividade daquelas professoras era imensa. Logo, uma delas sugeriu:

“Não faz mal. Ó Joaquina, apaga a lota e põe a horta”.

E assim ficou um projeto de que o senhor inspetor muito gostou. E que foi parar no fundo de uma gaveta.

Querida Alice, quando nasceste, enviei-te uma cartinha, na qual te prometia a escola sonhada pelos teus pais:

“Entre agosto e setembro, entre o brincar sem cuidados e o ir à escola é só um saltinho de pardal. Dentro de poucos dias, a criança que és há-de ser “aluna”. Presumo que não vás perceber a diferença, mas não ouso afirmar. Quero apenas acreditar que, em 2007, já não sofras os dramas que crianças de outras gerações suportaram. Nasceste no primeiro ano deste século, mas houve alguém que, já no início do século XX, escrevia que aquele seria “o século da criança”. 

Irás fazer novos amigos e conhecer adultos que te ajudarão a compreender o mundo. É sobre esse mundo novo e misterioso, que se abre para os teus olhos de menina curiosa, que eu te venho falar.”

Mas já não seria o teu avô quem cumpriria a promessa feita no início do século. Nos idos de vinte e três, estavas fazendo o teu mestrado em psicologia. Era a tua vez de ajudar a cumpri-la. A profecia constava do livrinho escrito para o teu irmão: “Para os filhos dos filhos dos nossos filhos”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCXC)

Caçapava do Sul, 9 de julho de 2043

À distância de duas décadas, é-nos possível avaliar a dimensão dos disparates, que contribuíram para protelar o advento de uma autêntica “Escola Pública”. O que importa dizer-vos é que, em Portugal, se vivia uma situação, no mínimo, caricata.

Estava no Brasil, há menos de uma semana, quando recebi a mensagem de uma mãe de um aluno, preocupada com uma informação recebida via telefone (naquele tempo, lideranças tóxicas evitavam dar respostas por escrito).

“Professor, sou a Dora. Venho pedir-lhe ajuda no seguinte:

Inscrevi o meu filho, unicamente, na escola Rafael Bordalo Pinheiro, acreditando que o projeto educativo dessa escola é aquele que quero para ele.

Recebi um telefonema a informar que o Damião não tinha vaga, porque só existe uma turma de francês, e está completa. 

Respondi que poderia mudar de língua, não me opunha a isso. Ainda assim, não o aceitam. E pediram-me que voltasse a ir ao portal das matrículas e o voltasse a matricular noutra escola.

Claro que não fiz nada disso. Até porque há uma lista de 40 crianças para entrar na Bordalo, à espera de vaga. E pelo menos duas vêm da antiga turma do Damião, o que daria para fazerem uma nova turma, se quisessem… 

Preciso da sua ajuda. Escrevo ao diretor a expor este assunto e pedindo que abra uma turma tendo em conta o número de alunos em espera? Fico quieta? (Porque legalmente a matrícula está feita e eles têm de resolver). O que me aconselha?”

É da natureza de quem é velho o “dar conselhos”. Como ainda não me considerava velho, não os dei, apenas sugeri a essa mãe que dirigisse ao diretor – por escrito e exigisse resposta por escrito – três perguntas:

Por que há “turmas”?

Por que não há vaga e o que é uma “vaga”?

Leu o projeto educativo da sua escola?

Sugeri a essa mãe a leitura da Lei de Bases. Nela se estipulava, por exemplo:

Artigo 2º. – Todos os portugueses têm direito à educação.

Artigo 48º – Na administração e gestão dos estabelecimentos de educação e ensino devem prevalecer critérios de natureza pedagógica e científica sobre critérios de natureza administrativa

Artigo 57º – direito da família a orientar a educação dos filhos.

Aquela mãe acreditava ser o projeto educativo daquela escola aquele que melhor corresponderia à educação escolar desejada para o seu filho. Mas, nesse tempo, as escolas ainda tinham turmas e não tinham vagas. Quais seriam os “critérios de natureza pedagógica e científica” que suportavam a existência de “turmas” e a inexistência de “vagas”?  

Projeto Educativo era (melhor dizendo, deveria ser) o documento orientador da ação educativa, coerente com a intencionalidade educativa da escola, fator de fortalecimento de identidade e autonomia, esclarecedor de objetivos e de como se trabalharia para os atingir. Ao longo de mais de meio século, li centenas de projetos. A maioria nem sequer eram projetos, eram mais planos (mal feitos), ou cópias de outros “projetos”. 

Constatei que a maioria dos professores não conheciam o seu conteúdo, nunca os tinham lido, muito menos o analisavam, e muitos eram aqueles que ignoravam a sua existência. Enfim!

Essa absurda situação tem explicação. Dar-vos-ei um exemplo de causa remota.

Decorria a década de setenta, quando uma colega me telefonou. Era assunto urgente:

“Olha, Zé, estamos aflitas. Passou por aqui um inspetor, perguntou pelo nosso projeto. A gente sabe lá o que isso é! Tu, que andas lá pelo sindicato, poderás ajudar-nos? Sabes fazer isso? O homem disse que ia voltar, no mês que vem, e que quer ver o tal de projeto. O que é isso? Ele disse que saiu uma lei…”

Amanhã, vos contarei o que aconteceu.

 

Por: José Pacheco

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