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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLVIII)

Ipê, 15 de setembro de 2043

Como dissera uma criança: “Rubem era um homem que gostava de ipês”. E esse ser sensível, em uma carta, me confirmou a existência de outros seres admiráveis, que Brecht diria serem “indispensáveis”: 

“Há milhares de irmãos e irmãs desconhecidos sonhando o mesmo sonho”. 

Uma nova geração de solidários educadores surgia na contramão da História Oficial da Educação”, surfando o lixo em a escola se tinha afundado. 

No Portugal da Escola da Ponte, o Rubem publicou o livro “Por uma Educação Romântica”. É uma obra que, ainda hoje, recomendo, mas disse-lhe que não basta ser romântico, que é preciso ser conspirador. 

Na velha Internet, talvez ainda seja possível encontrar referências aos RC e ao ENARC. Procurai. Estava implícita na carta de princípios dos Românticos Conspiradores uma ideia de comunidade, de aprendizagem compartilhada, de práticas colaborativas. 

A aprendizagem é empreendimento comunitário, expressão de solidariedade. O Rubem era um ser solidário, sabia que a aprendizagem acontecia, quando eram criados vínculos. Comemorando o nonagésimo aniversário do seu pai, a Raquel sobre vínculos falou, num evento organizado pela Revista Educação. O Rubem tinha partido, há nove anos, mas a sua memória deveria ser preservada. A Adélia Prado dizia que a memória era contrária ao tempo: 

Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa,  eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Na sua obra  “A Escola com que Sempre Sonhei”, Rubem deu conta de uma prazerosa surpresa:

“Era uma sala enorme, sem divisões, cheia de mesinhas baixas, próprias para as crianças. As crianças trabalhavam nos seus projetos, cada uma de uma forma. Moviam-se algumas pela sala, na maior ordem, tranquilamente. Ninguém falava em voz alta. Nem isso se ouvia. Notei, entre as crianças, algumas com síndrome de Down, que também trabalhavam. As professoras estavam com as crianças, em algumas mesas, e se moviam quando necessário. Nenhum pedido de silêncio. Nenhum pedido de atenção. Não era necessário”. 

Rubem narra episódios, que ilustram o reconhecimento do outro:

“Encontrei quadros de avisos: “Tenho necessidade de ajuda em…”. Em outro, a frase: ” Posso ajudar”. Qualquer criança com dificuldades em qualquer assunto coloca ali o assunto e o seu nome. Outro colega, vendo o pedido, vai ajudá-la. Assim, vai-se se formando uma rede de relações de ajuda.

Numa mesa, uma menina escrevia e consultava o dicionário. Agachei-me para conversar com ela. 

Você está procurando no dicionário uma palavra que você não sabe?

Não, eu sei o sentido da palavra. Mas estou a escrever um texto e usei uma palavra que, penso, eles não conhecem. Como eles ainda não sabem a ordem alfabética e não podem consultar o dicionário, estou a escrever um pequeno dicionário ao pé da página do meu texto para que eles o compreendam.”

Na Escola da Ponte, a ética perpassava silenciosamente, sem explicações, as relações. O amigo Rubem havia deparado com um contexto de educação cidadã, no qual acordos de convivência eram cumpridos e o domínio socioemocional – até então, apenas teorizada, ou vendida em pacotes – era prática corrente.

Com o amigo Rubem aprendi que deveria bem cuidar do meu socioemocional, cuidar do socioemocional infantil, para conseguir manter viva a criança que em mim habitava. Porque, como ele diria, quem mata a sua criança grande não vira adulto – adultera-se. 

Amanhã, talvez vos fale de educação socioemocional.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLVII)

São Paulo, 14 de setembro de 2043

Propor um glossário é, também, tarefa de não dar novos nomes a velhas práticas. Quando, em 2040, vos enviei cartinhas sementeiras de novas palavras, dei-lhes visibilidade pública, para encurtar o fosso entre saberes e fazeres. Aquelas que, na vossa infância, vos enviei foram as mais sensíveis, mais difíceis de compor, porque escrever para crianças não é tarefa fácil.

Nos idos de vinte, convidei alguns amigos, que açoitavam os ancestrais hábitos de uma escola obsoleta, para participar num projeto de criação de redes de comunidades de aprendizagem, um dos modos de humanizar a educação. Para essa nova construção social de aprendizagem seria necessário inventar uma nova nomenclatura. Por isso, ensaiei a feitura de um glossário. 

Acumulei tantas e tão díspares explicações, que deliberei anexá-las a um dos meus livrinhos, que dava pelo longo título de “Inovar é Assumir um Compromisso Ético com a Educação”. Cito de memória mais alguns dos verbetes desse glossário, composto numa linguagem que todo mundo pudesse entender.

Escolas em Transição – Pessoas, que, em espaços de aprendizagem, dentro e fora de um edifício escolar, empreendem caminhos de reelaboração da sua cultura pessoal e profissional.

Escolas Sustentáveis – Pessoas que aprendem no contexto de uma organização social dotada de autonomia pedagógica, administrativa e financeira.

Espaço de Aprendizagem – Todo e qualquer lugar com potencial educativo.

Indicadores de Mudança – Sinais de transformação pessoal e social, evidências de aprendizagem, indícios da criação de novas construções sociais de aprendizagem.

Educador – Sendo a educação considerada como ato ou efeito de educar, de aperfeiçoar habilidades, competências, o educador será o ser humano que ajuda outro ser humano a educar-se (educare e educere).

Sujeito aprendente – Todo mundo envolvido em processos de aprendizagem

Trabalho de Projeto – Metodologia centrada em problemas, necessidades, desejos, sonhos de aprendizes.

Novas Construções Sociais de Aprendizagem – Sistemas sociais de aprendizagem plurais e diversos, alternativas ao modelo de escola da modernidade; constructos auto-organizados e desenvolvidos numa cultura específica.

Núcleo de projeto – Equipe responsável pela criação de uma comunidade de aprendizagem.

Pensamento sistêmico – Baseado na interdependência dos sistemas vivos, que incluem as sociedades urbanas e os ecossistemas, objetiva um conjunto de sistemas interconectados (“todo integrado”), ao invés de uma coleção de partes dissociadas.

Permacultura – Cultura que engloba métodos holísticos para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana ambientes sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis. Filosofia de trabalhar com e não contra a Natureza.

Práxis – Prática fundamentada na lei e em critérios de natureza científico-pedagógica, no reconhecimento de que a construção do conhecimento é um processo eminentemente social e interativo.

Rede – Padrão básico de organização de todos os sistemas. No contexto das relações humanas é a configuração de laços sociais entre pessoas (não entre instituições).

Sociocracia – Sistema de governança na qual as decisões são tomadas por consentimento considerando-se a opinião dos indivíduos. Tem como princípio fundamental as teorias sistêmicas de inteligência coletiva. 

Em próxima cartinha (talvez de modo polémico). abordarei dois conceitos e duas práticas que, há uns vinte anos, foram muito maltratadas: “Escola Pública” e “Educação Integral”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLVI)

Palhoça, 13 de setembro de 2043

Netos queridos, perguntastes porquê um glossário? Vo-lo direi.

A linguagem produz e reproduz cultura. Daí a necessidade de àquilo que é novo não se aplicar raciocínios dedutivos, bem como não se recorrer a expressões caraterísticas de uma cultura de escola obsoleta – para uma nova educação, uma nova nomenclatura. Nesta cartinha, vos envio alguns verbetes de uma nova construção social. 

Antropagogia – Na lógica da ensinagem, é utilizado o termo pedagogia, em referência à paidós grega, a criança conduzida pelo pedagogo; a palavra andragogia é usada no contexto da educação de adultos. Reflexo de uma racionalidade cartesiana, a segmentação da educação em grupos etários, ou designações específicas – educação formal, educação informal, educação do campo, educação em alternância, educação especial, educação ambiental, educação para a paz, educação democrática, educação para a cidadania, educação sociomoral, educação popular… – tende a ignorar que a educação é una e múltipla, e que a aprendizagem acontece desde o pré-natal até à morte. 

Na lógica da aprendizagem, a pessoa (criança, jovem, adulto), sujeito aprendente (o ser humano, o anthropos), em auto-transformação-com-outros, produz e partilha conhecimento. Poderemos recorrer ao termo Antropogogia para designar a ciência e a arte da aprendizagem.

Arquitetura Sustentável – Concepção de projeto que visa otimizar recursos de modo que a edificação produza o mínimo impacto socioambiental.

Avaliação formativa – Também referida como processual ou de desenvolvimento, ocorre ao longo do processo de aprendizagem. Concomitante com a aprendizagem, a avaliação formativa informa o mediador de aprendizagem do alcance dos objetivos almejados e permite efetuar ajustes no processo.

É a avaliação prevista na Lei, mas que a maioria das escolas não cumpre, pois aplica provas, testes e outros instrumentos falíveis , que quase nada provam, avaliam. E se confunde avaliar com classificar. Uma prova não é formativa, é excludente. Não é contínua, é periódica. Não é sistemática, porque incide numa parcela de currículo, numa disciplina…

Ciclo de transformação – Cada uma das três etapas de transformação: iniciação (aprender a conceber e a desenvolver projetos de mudança); transição (aprender o “como” da reconfiguração da prática escolar e o “como” do prototipar uma comunidade de aprendizagem); aprofundamento (aprender a aprender em comunidade).

Cidade Educadora – É a consideração da cidade como território educativo, no qual, em diferentes espaços e tempos, agentes educativos assumem uma intencionalidade educativa, garantindo a perenidade de processos de aprendizagem para além do prédio da escola.

Cuidador – Pessoa que assume o compromisso ético do cuidado e acompanha processos de aprendizagem, propicia meios de transformação da informação em conhecimento, participa da construção de projetos e da avaliação das aprendizagens, e aprende com sujeitos aprendizes.

Desenvolvimento Sustentável – Teia da qual defende nossa vida, projetada considerando a natureza. Pressupõe que o crescimento (ou uma humanização com referência a um “decrescimento”) benfazejo deve ser baseado nas energias renováveis, favorecer a comunidade local, ser crescimento qualitativo.

Design de Sistemas Sustentáveis – Pressupõe “envolvimento”, soluções sistêmicas, integrando as dimensões social, cultural, econômica e ecológica, com o objetivo de promover sustentabilidade na micro e na macro escala, isto é: uma boa qualidade de vida. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLIV)

Santiago do Chile, 11 de setembro de 2043

Nos encontros de sábado do mês de setembro, muitos foram os projetos anunciados. Alguns já muito além da criação dos núcleos, da definição da matriz axiológica e da aprovação de cartas de princípios. Os relatos dos seus autores e atores eram “evidências de aprendizagem” de novas práticas, de uma nova educação.

Também em setembro, se fez a entrega às diretorias e à administração educacional dos planos de inovação e dos projetos de transformação vivencial, e se abriu caminho para construtivos diálogos. Um sistema hierárquico e autoritário dava lugar a uma construção social igualitária e democrática. 

Imbuído dessa nova cultura, o dia 11 de setembro de todos os anos era tempo de rememorar tristes e antagónicas efemérides. Recordo bem – como se fosse hoje! – de um fim de tarde que me trouxe a notícia do fim da democracia chilena e das imagens, à hora do almoço, de aviões embatendo em arranha-céus. Numa cartinha enviada para ti, Alice, eu escrevi:

“Neste dia, pássaros metálicos derrubaram torres altaneiras e semearam a morte nas terras do Norte. Num outro “Onze de Setembro”, mensageiros da morte semearam sofrimento no sopé dos Andes, nas terras do Sul. 

É verdade, querida Alice. Nos dias que sucederam ao teu nascimento, o reino dos pássaros vivia ensombrado pela compreensão de uma evidência: as sociedades que dispunham das melhores escolas eram as mesmas sociedades que produziam exércitos ocupantes e seres egoístas que, em nome do seu conforto, envenenavam os céus de todos os pássaros com gases letais. 

Nesse tempo, também através da escola se perpetuavam insanos ciclos de violência e morte. Muito antes, no primeiro ano do vigésimo século da era dos homens (no tempo de um discreto anunciar da uma nova era), uma andorinha enunciou uma premonição jamais consumada. Essa andorinha acreditava que o vigésimo século do tempo dos homens seria chamado “o século da criança”. Acreditava que a escola faria dos pássaros e dos homens seres mais sábios e mais felizes. Porém, durante todo esse século, a Escola apenas reproduziria velhos rituais sem sentido. A escola dos homens não produzia humanidade. E produzia muitos bonsais humanos.” 

Na América Latina desse tempo, havia uma tendência para causar a segunda morte de quem pugnou por uma nova Educação e por uma Cultura de Paz – a morte da memória. Vivíamos um tempo de múltiplas violências. Dar-vos-ei um exemplo das monstruosidades perpetradas por sub-humanos.

O golpe militar do Chile causou mais de quinze mil mortos. Entre as vítimas da barbárie estava Víctor Jara, jovem poeta e compositor, que assumira um papel preponderante no desenvolvimento cultural do seu país. 

No dia 11 de setembro de 1973, Víctor foi detido juntamente com um grupo de professores e seiscentos alunos, que se encontravam na Universidade Técnica do Estado. Foi levado para um estádio utilizado como campo de concentração.

Vítor não obedeceu à ordem militar de parar de tocar seu violão. Deceparam-lhe as mãos e o mataram.

A um passo da morte, contemplando com profunda tristeza o que acontecia com seu país, ditou o seu último poema. Dele extraio dois versos:

“É este o mundo que criaste, meu Deus?

Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?”

Aqueles dias de setembro de vinte e três foram premonitórios, sinais evidentes de um novo tempo. Não eram apenas as democracias frágeis que urgia perseverar. Era preciso anunciar, sob múltiplas formas, o esboço de uma Escola Pública berço de uma nova cidadania, que Sérgio e Anísio tinham proposto. 

Um futuro-presente de Amor e da Paz despontava.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLIII)

Itaipuaçu, 10 de setembro de 2043

A Patrícia está sempre atenta ao conteúdo destas cartinhas. E, por volta de julho deste ano, enviou-me uma missiva que é, em tudo, contrastante com lamentações praticistas e omissões teoricistas. 

Já na Grécia de há milhares de anos havia quem acreditasse serem os seres humanos capazes de buscarem – em si próprios e entre os outros seres – a perfeição possível.  A Patrícia é a bondade em pessoa e a tradução fiel da solidária palavra “amigo”, que Saint-Exupéry aclara:

“A pedra não tem esperança de ser outra coisa que não pedra. Mas, ao colaborar, ela congrega-se e torna-se templo”.

Escutai a Patrícia:

“Em 2023, mesmo quando os desafios diários nos apontavam para a descrença, o desânimo e testavam a nossa capacidade de resiliência, lembro-me de que mantínhamos a esperança, até uma certeza de que havia saída, de que as transformações eram possíveis, de que conseguiríamos tornar o processo de construção do conhecimento em algo realmente humano.

A  Escola da Ponte Há muito nos inspirava e mostrava o quanto era possível. Nessa época, estávamos ousando o início de um novo caminhar. E, para estar em um novo lugar de exercício das práticas, era preciso atualizar os modelos do “professorar” que tínhamos como referência na nossa vida acadêmica, desde a Educação Infantil até à Universidade. 

Quase todos os educadores atuavam nas salas de aula daquele tempo. E, para ter acesso à informação, era preciso ir pra escola para assistir aula, ouvir o que os professores tinham para falar, abrir livros didáticos.

Muitos eram os professores que tinham o desejo da mudança, mas também muitos receios. Tinham sido alunos universitários em um modelo de educação bancária. E era preciso, sem modelos ou referências para copiar, ser um professor que mediasse a relação do aprendente com os objetos do conhecimento e com os saberes necessários para se constituir enquanto ser humano pleno, livre, integral, multidimensional. 

Era como se tudo que eles tinham se preparado para ser e fazer, não tivesse mais valor ou importância. Esse medo e o ressentimento de achar que o seu saber estava sendo desvalorizado impediam os professores de perceber que o seu fazer pedagógico diário se tornava ainda mais importante, grandioso. 

A tutoria era o que fazia a grande diferença na caminhada de cada educando. Esse novo lugar do professor exigia dele a habilidade de ouvir, acolher e auxiliar cada indivíduo em sua necessidade específica, algo muito mais complexo do que transmitir um conteúdo a um grupo de pessoas.

Os alunos dessa época estavam reagindo inconscientemente ao sistema conteudista, que privilegiava as aulas expositivas com: falta de interesse, conversa excessiva, indisciplina, baixo rendimento escolar, desrespeito à pessoa e ao profissional em sala de aula. 

Todo esse cenário estava adoecendo os professores. E aquilo que começávamos a experimentar era esse novo lugar de Ser, tão mais humano e confortável para alunos e professores, era o remédio que precisávamos para que a vida fluísse com mais leveza, para que o direito e o prazer de aprender e de auxiliar o outro se desenvolvesse. 

(Estes foram alguns dos “insights” e reflexões ocorridas durante a reunião de avaliação com as famílias dos alunos da turma-piloto “Herdeiros do Futuro”).

A Patrícia é um daqueles seres que veem as realidades com olhares para além do que existe, com olhos de apoena, desvendando o porvir de que o Almada nos fala na terceira das suas Quatro Manhãs: “Quando cheguei aqui o que havia estava no fim / e o que estava por vir andava disperso pelo sonho de alguns.” 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLII)

Várzea das Moças, 9 de setembro de 2043

Netos queridos, como o prometido é devido, retomo a transcrição de uma mensagem publicada no velhinho Facebook. Nela, uma professora desfiava um rosário de queixumes e questionamentos:

“De onde tirar amor quando sobre mim pesam olhares de ódio? 

Disse pra ela [à psicóloga] que não, que não dava, que não fui inventada, não sou inventada. Não sei e não posso me reinventar. Falei que eu era gente, que tenho uma história, fui construída, sonhei, tive esperanças.

Querem que eu me reinvente, que aceite as mudanças, que me plataformize, que ache normal a monstruosidade desse cotidiano opressor e violento? Querem mesmo é que eu morra.”

Dirigindo-se ao doutor, para quem enviara a mensagem, pergunta:

“O que você acha? Você estuda, você é inteligente. O que devo fazer? O que a gente deve fazer? Pedir a conta faltando poucos anos pra me aposentar, sem dinheiro, sem nada? Então, você acha que eu deveria lutar? Que eu deveria reagir, chutar o pau da barraca podre? 

Tá certo, eu deveria, sei que deveria, sozinha, quixotesca, ridícula e reclamona.

Não sei, mas esse meu silêncio, essa face distorcida, esse meu riso meio dissimulado, cheio de ironias e de cansaço, esse falar pra baixo, esse olhar meio pro lado… Não sei, talvez esse seja o jeito de resistir, de insistir. 

Esse copo vazio está cheio de ar. Talvez, assim, no silêncio contido, na voz embargada, talvez eles passarão. Talvez eu passarinho. Talvez amanhã seja outro dia. 

Talvez a gente se encontre pra outras folias. Talvez eu consiga ler um poema. Talvez o amor bata à porta. Talvez amanhã seja segunda-feira.

Vamos tomar um sorvete caminhando no parque?”

E o meu bom amigo também perguntava: 

“Gostaria de ter seus comentários pessoais sobre a mensagem da angustiada professora. O que você diria a esta professora?”

No fundo do baú das velharias, repousava a pen drive em que gravei a resposta. Ei-la:

“Querido amigo, no meu computador – e em papel, antes de haver computadores – guardei uma triste “coleção” de mensagens dessa natureza. Pela Internet – e por carta, antes de haver Internet – lhes dei resposta. Respostas solidárias, dadas no chão das escolas. Estimulava o seu inconformismo, o seu poder criador. 

Ajudei milhares de professores, centenas de projetos. Quase todos foram destruídos. Os seus autores foram sujeitos a ameaças e processos disciplinares. Alguns foram parar no divã do psiquiatra, outros mudaram de profissão. 

Cadê aqueles que poderiam dar suporte “teórico” às iniciativas dos “práticos” e evitar que a história da inovação se transformasse num cemitério de projetos? Estavam ocupados na redação de teses, comodamente instalados nos seus gabinetes universitários, ou lendo power point nos palcos dos congressos. Perante os dramas vividos por essa e por outros professores, era obsceno o silêncio dos “cientistas da educação”.

A professora autora da mensagem fora vítima voluntária de uma mentira a que davam o nome de “formação”. Vivera no tempo em que, nas catacumbas da formação de professores, ainda se usava falar de ”sala de aula” e outras obsolescências caídas em desuso, anos atrás. Foi formatada como “docente” – o dicionário diz-nos que docente é “a pessoa que ministra aulas” – abdicou de ajudar a aprender. Aceitou fenecer, tentando ensinar – como se fosse possível dar de beber a um cavalo que não tem sede! – na solidão do frontal anónimo de uma sala de aula. 

Netos queridos, o mesmo tentaram fazer com o vosso avô. Ameaçaram-no, de vários modos o puniram, e nada adiantou – uma decisão fora tomada.

Não curto heroísmos baratos, mas sou taurino.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCLI)

Inoã, 8 de setembro de 2043

No setembro de vinte e três, o jornal Labor publicava a seguinte notícia: 

“Há uma Escola para além da sala de aula. 

EB1/JI de Fundo de Vila acolhe a primeira comunidade de aprendizagem de S. João da Madeira e uma das poucas existentes no país.

Imagine uma turma do primeiro ciclo composta por crianças de diferentes idades e anos de escolaridade e que não terá uma sala de aula “tradicional” (…).”

O júbilo deu lugar a alguma frustração. Nesse mesmo dia, um amigo me reencaminhou uma triste mensagem, contrastante com a boa notícia, enviada por uma professora para um doutor, no Facebook:

“Admiro esse seu empenho em tentar ler livros, em tentar entender e discutir educação desse jeito mais profundo, mais sistematizado… Vou te confessar uma coisa. Você me conhece a pouco tempo, já me conheceu assim do jeito que estou, mas eu não era assim. Eu era uma professora dedicada, vivia participando de cursos, comprando livros, me envolvendo em debates sobre ensino, sobre aprendizagem, sobre política educacional.

Faz pouco tempo. Foi de uns tempos pra cá que fiquei assim. Tenho feito só pro gasto. Não leio mais nada, não participo de mais nada, não tenho ânimo pra discutir e nem propor mais nada…

Sabe, eu ouço com náuseas aquele monte de bobagens nas formações pedagógicas. Fico sempre bem quieta. Só faço aqueles cursinhos de formadores para não perder classificação na escola. Tento até ser simpática. Rio das piadinhas de mau gosto, faço de conta que concordo com sugestões de medidas idiotas, de uso de metodologias diferenciadas, de aplicativos, de premiação, de punição e de controle de estudantes…

Estou me sentindo embrutecida. Acho que fui contaminada, derrotada. Virei parte dessa coisa gosmenta e malcheirosa que virou a escola pública de nosso estado.

É claro que me sinto muito mal com tudo isso. Me sinto muito mal mesmo. Eu queria era gritar, sumir, me enterrar, ir pra bem longe, que ninguém mais lembrasse de mim.

Sim. Sim. Eu queria ter essa disposição que você tem. Eu queria gritar, dizer não, não quero isso, não concordo, não vou reduzir meu trabalho de professora ao uso de plataformas, ao controle, à seleção e à exclusão de estudantes… 

Sim. Eu sei. Nem precisa falar. Mas olhe para mim! Você acha que posso? Cadê a força? Cadê a coragem? Estou sozinha, pressionada, insegura. 

Você entende o que estou dizendo? Estou sempre olhando para o calendário em busca do próximo feriado, das férias, da morte… Aquela professora alegre e cheia de vida morreu. Morreu, ou se escondeu dentro da tristeza. Virei esse zumbi com diabetes, pressão alta e ansiedade, virei um molambo esperando o salário miserável do final do mês.

Procurar tratamento? Eu tomo um monte de boletas todo dia. Todos nós tomamos. Como você acha que eu consigo sair da cama pra vir pra cá?

Esses dias, fui em uma psicóloga que me indicaram. Falaram que era boa, ex-professora, conhecia nossa realidade. Mas sabe o que ela me disse? Você já deve ter ouvido isso por aí. 

Ela falou na cara dura. A tal psicóloga que era professora disse que eu precisava me reinventar, que os tempos são outros, que é preciso encontrar vida no presente, mudar o jeito de olhar as coisas. Ela falou da flor de lótus dos budistas: é do lodo e do sofrimento que emergem a consciência pura e a felicidade, tenho que olhar para os estudantes que precisam de mim, amor e compaixão promovem alegria e vontade de viver.

O que eu respondi? Nada. Não respondi nada. Eu chorei. Chorei muito.”

Amanhã, irei transcrever o restante da mensagem. E darei resposta à pergunta do meu bom amigo: *O que você diria a esta professora?” 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCL)

Bosque de Itapeba, 7 de setembro de 2043 · 

Apesar de ser dia feriado no Brasil, as crianças não deixaram de “ir à escola”.  Com a Bruna, o Bruno, o Gabriel e a Francis, as crianças não deixavam de aprender nesse dia. E quem não suspendia a sua busca por aperfeiçoamento pessoal e profissional, nem nos dias feriados, aproveitava o feriado para visitar a Comunidade da Lagoa das Amendoeiras. E, de uma agradável conversa com a Maíra, a Leila, a Michele, o Alex e o Breno saíram grandes projetos sonhados para Maricá. 

Esse dia começara com a chegada da amiga Patrícia. Trazia cestas básicas, oferecia ajuda. Na infinda generosidade da Patrícia não havia ponta de assistencialismo, havia gestos de solidariedade de uma educadora, de uma mulher e mãe. 

A dedicação da Patrícia me suscitou uma reflexão matinal. Ei-la: 

Se a profissão de professor era, eminentemente, feminina, por que razão apenas duas mulheres eram citadas em obras que eu lia sobre os “maiores educadores do século XX”? Somente Montessori e Ferrero delas constavam. 

A essa matinal reflexão se juntou o diálogo com as educadoras visitantes e umas mensagens recebidas de Portugal. 

Enquanto preparavam um evento, homens e mulheres refletiam…

“São 78% homens… isso não representa mudança. E faz imensa pouca justiça a quem está a organizar (homens, aqui, somos completa minoria). Já temos sete pessoas em palco. Sete homens! A moderar poderia ser uma mulher.

Mas, porquê tantos homens?

Os diretores dos agrupamentos das escolas são quase todos homens.

Se queremos passar mensagem de mudança num evento e apresentamos 80% homens, que mensagem estamos a passar? 

A professora Adélia acaba de confirmar a sua presença. Teremos, assim, duas mulheres em palco de se lhe tirar o chapéu. Que valem por muitas!”

E João da Catarina encerrou o diálogo:

“Parabéns a tod@s pelo empenho. Que esta energia seja inesgotável.”

O João, o Hernâni e outros educadores confirmavam aquilo que eu afirmava, que, por detrás de uma grande mulher havia sempre um grande homem. E vice-versa, claro! 

Perguntastes por que razão eu escrevo os nomes dos maravilhosos educadores, que encontrei, ao logo de muitos anos e projetos. Porque precisamos recordar mulheres e homens que, em tempos difíceis, abriram caminhos de uma nova educação. Educadores e educadoras como a Tina praticava, cuja lúcida voz anunciava pedagogias desse novo tempo:

“PEDAGOGIA DA PERGUNTA – é a aprendizagem mediada por perguntas, que gesta respostas grávidas de mundo. É possível investigar um problema e gerar várias hipóteses de soluções, desenvolvendo o pensar ativo, crítico e criativo.

PEDAGOGIA DA CONTEXTUALIZAÇÃO – é necessário contextualizar o objeto do conhecimento para encharcar de sentido. “[…] ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. [Freire]

PEDAGOGIA DA ACOLHIDA – é fundamental desenvolver compromisso e vínculo com o estudante e a comunidade, é um gesto de amor e de respeito com o diferente, pois aprendemos na relação com o outro.

PEDAGOGIA DA REFLEXÃO – é pensar de forma crítica, questionar o já pensado, fazer novas conexões de saberes e a aproximação da vida real.

PEDAGOGIA DA PRÁXIS – depois da pergunta, do diálogo e da reflexão libertadora, vem a organização da práxis (teoria e prática) coletiva. 

PEDAGOGIA DIALÓGICA – é um chamamento para que os educadores assumam uma postura pedagógica libertadora, reflexiva, geradora de vínculos afetivos e conexão com a comunidade em que o estudante faz parte.” 

E a Tina nos avisava:

“É tempo de esperançar e agir.”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCXLIX)

Lagoa das Amendoeiras, 6 de setembro de 2043

No setembro dos idos de vinte e três, o amigo António comentava uma notícia de jornal:

“MAIS DO MESMO! A capa do jornal de hoje é, de facto, muito bem conseguida, já que revela a triste realidade em que a Educação portuguesa continua mergulhada.
Enquanto temos, por um lado, um Ministério da Educação que persiste em não fazer reformas de fundo (devia ser essa a principal missão de um qualquer governo de maioria absoluta), com o objetivo de recriarmos a escola pública e renovarmos o funcionamento do nosso sistema educativo e, por outro, sindicatos que só se expressam na superficialidade das matérias; vamos “cantando e rindo” por entre o “invariável das aulas na hora do regresso” e do tradicionalismo da organização escolar, sendo “levados, levados sim” pelo ritmo da desregulação reinante e da burocracia, bem presentes num discurso político que afirma ter-se feito muito, por exemplo, na colocação de professores.

Talvez a cosmética seja muita… pois não se faz nada em áreas absolutamente cruciais: gestão da escolas, reforço da escola como organização, mudanças no sistema de contratação de professores, autonomia (real) da escola, renovação de práticas e de organização pedagógica (com escala nacional), avaliação (formativa e formadora) do desempenho docente, novo modelo de formação (inicial e contínua) de professores, redignificação da classe docente, reforço da avaliação externa das escolas e renovação do sistema educativo.

De facto, depois da felicidade que senti com a nomeação do ministro João Costa e da esperança que tive com o seu desempenho, a única coisa que sinto é uma profunda desilusão com as atuais políticas educativas.”

Razões de sobra assistiam ao amigo António, para desse modo se insurgir contra a mesmice. Tinha sido um incansável defensor da Escola Pública. Tinha realizado um trabalho notável nas escolas por onde passou. Publicara um livro-proposta de mudança e inovação. 

Nesse setembro, a corrida aos supermercados recomeçara. As famílias faziam contas de somar e de subtrair, para ver se um salário seria suficiente para a compra de mochilas, “material” e inúteis livros didáticos. 

De nada adiantava explicar a uma opinião pública alienada que não era só em São Paulo que os manuais continham erros grosseiros e que o peso das mochilas era demasiado e representava perigo para a saúde dos meninos. E que a reclusão em sala de aula constituía perigo ainda maior… Até que, no tempo em que ainda havia ano letivo, surgiram núcleos de projeto constituídos por pais, professores e diretores decididos a desinstalar a normose, que se instalara no “sistema”. 

O Bob, já nos anos sessenta, o tinha predito:

Reúnam-se, pessoas!
Onde quer que estejam
Porque os tempos estão mudando

Venham, senadores, deputados, por favor, escutem o apelo
Não fiquem parados no vão da porta
Venham, mães e pais
De todos os lugares
E não critiquem o que vocês não conseguem entender
Sua antiga tradição está rapidamente envelhecendo
Porque os tempos estão mudando.”

O lado saudável do “sistema” iria convidar a o ministério para o cumprimento da lei (já aqui vos expliquei por que os ministérios estavam fora da lei), para passar de reformas reformadas à inovação, de passar da prática de injeção de paliativos no “sistema de ensino” à prática das teorias da aprendizagem. Certamente, as ciências da educação ainda serviriam para alguma coisa!

Já aposentado, o amigo António ajudava o amigo Luís e outros educadores éticos envolvidos em projetos de mudança. Nesse setembro, voltei a Portugal, para ajudar à festa. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCXLVIII)

Vila Nova de Gaia, 5 de setembro de 2043

Mais uma vez, recorro à fala de quem, no setembro de há vinte anos, agia como gente, para se mover como educador.

“É preciso juntar, de alguma forma, estes grupos e canais de comunicação, dar a mão aos professores “vivos”, que andam por aí sozinhos e desmotivados. Vou conhecendo alguns. Receio que estejam demasiado “sozinhos” dentro dos agrupamentos.

Há muitos professores vivos que querem coisas muito diferentes, havendo também muitos mortos que ressuscitam, se tiverem para onde e com quem ir. A meu ver, temos de organizar, elaborar documentos claros simples, curtos.”

É tudo muito lento, porque há muito ruído na comunicação, atrito, desorganização. São portas e mais portas que se fecham. Já chega! 

É hora de fazermos. Acredito que, finalmente, chegámos a um “ponto de viragem. No Telegram, a professora Rute da escola pública de S João da Madeira disse que vai contactar a Isabel, para se manterem em contacto. Isso sim! São “ligações diretas”.

A Maria me fazia recordar a necessidade de exatidão, de chamar as coisas pelos seus nomes. Nomeadamente, a palavra “inovação”. Consciente dessa necessidade, rabisquei mais alguns verbetes, para compor o glossário de uma nova educação:  

Inovação – Aquilo que é, realmente, novo, que possui valor, utilidade e capacidade de se renovar/reinventar, no decorrer do tempo, de estar sempre em fase instituinte.

Matriz Axiológica do Projeto – Conjunto de valores partilhados pelos membros do núcleo de projeto.

Carta de Princípios – Enunciado dos princípios basilares de uma organização, princípios de ação, que conduzem projetos..

Cocriar – Criar juntamente com outrem. No campo da educação poderá ser entendido como ato de produção de conhecimento em comum e em comum partilhado.

Currículo – Caminho, conjunto de experiências de um sujeito de aprendizagem, entre elas, as educacionais (formação) e vivenciais. Algo que não se consome em manuais ou através do discurso de um formador, mas conhecimento produzido e partilhado.

Currículo de Comunidade – Rompendo com a conceção reducionista de currículo enquanto mero plano de estudos ou programa pré-determinado, estruturados em objetivos, conteúdos e atividades organizadas em torno de disciplinas, destinados a anos de escolaridade ou a ciclos de estudos, numa sequência linear. 

O currículo de aprendizagem consiste na determinação dialógica de necessidades sociais e na criação de múltiplas oportunidades de aprender com pessoas dotadas de potencial educativo, em espaços que a comunidade oferece.

Currículo Subjetivo – Projeto de vida, com origem em necessidades, desejos, sonhos; caminho de desenvolvimento de vocações, talentos.

Dispositivos pedagógicos – Estratégias e materiais a que se pode recorrer numa prática teorizada, concebidos criticamente e elaborados como propostas educativas adequadas às características socioculturais identificadas pelos professores como estando presentes no grupo de alunos com que trabalham.

Comunidade – Com origem no latim communitas, traduz o ato de muitos, formando uma unidade. 

Em 1887, Tonnies introduziu o dualismo sociedade (Gemeinschaft)-comunidade (Gessellschaft) no discurso científico contemporâneo, reagindo contra a conceção mecanicista de sociedade, então predominante, fazendo corresponder ao conceito de sociedade uma vontade refletida com origem no arbítrio dos seus membros, enquanto comunidade corresponderia a uma vontade que ele reputa como essencial ou orgânica, um tipo de associação baseada em imperativos profundos do ser.

 

Por: José Pacheco

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