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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXVIII)

Itaipulândia, 29 de março de 2043

Continuemos na (boa) companhia do amigo Tuck. 

“Martin-Pescador é o nome desse pássaro e, quando o descobrimos, nos lembramos de que esse nome era familiar. Era o nome de uma lojinha de pesca em Chile, Chico, em que compramos uma passagem de van para ir desta cidade até Rio Tranquilo. 

Bom… isso ficou marcado para a gente, pois foi uma viagem bonita, mas com uma estória engraçada. No meio da rota, por estradas de terra em penhascos, estávamos a subir uma grande elevação, quando eu e Carina, que estávamos no fundo da van, vimos a porta de trás se abrindo e algumas malas rolando ladeira abaixo, enquanto esticávamos o braço segurando as coisas, com outros nos segurando, como naquelas engraçadas cenas de um filme. 

A gritaria misturada com risos, as malas rolando, o motorista desapercebido… Nossas mochilas não caíram, mas aquelas malas duras, cheias e pesadas sofreram com o impacto. Ao ver essa e outras cenas corriqueiras para quem anda de mochila por aí, sempre vem aquela pergunta: “afinal, porque carregar tanta coisa?”

Isso é sempre uma reflexão presente em qualquer mochileiro. Por que mochila no lugar de mala? Bom… a mochila é versátil em diversas questões e, além disso, carrega consigo (ahá!) uma mentalidade de levar só o essencial, diferente das malas enormes, com carcaça dura e lugares para cadeados. 

Essa mesma analogia existe na educação, onde há professores mochilinha e bolsa-de-couro, claro que uma brincadeira (cheia de generalizações), mas que tem lá sua verdade: a diferença entre um perfil dinâmico e ligado ao essencial e um perfil preocupado com o que outros pensarão, repletos de acessórios de maquiagem existencial e uma certa ligação forte com o apego.” 

De estória em estória, o meu amigo presenteava-me com pérolas de sábia compreensão da Natureza. 

“Isso me lembrou uma história infantil em que um canguru conversava com um pássaro, um peixe, um burro e um cachorro. 

O peixe dizia que não podia levar nada consigo pois como não tinha membros, de nada adiantaria. O burro dizia que não carregava nada para ele para ter espaço de carregar as tralhas de alguém. 

O cachorro dizia que não podia levar nada consigo, pois o seu dono levava tudo para ele. 

O pássaro, por fim, dizia que não podia carregar nada consigo a não ser a comida, afinal precisava estar sempre leve para voar. 

O canguru, que não carregava carga, não tinha donos e nem voava, ouvia aquilo, até que foi indagado pelos outros, ‘e você, o que carrega aí na frente?’:

“Carrego quem virá para estar comigo.”

Os outros pensaram nos ovos e na barriga: “Nós também fazemos isso, mas porque você carrega ele do seu lado de fora?” 

“Para que ele veja que, mesmo separados desde o começo, seremos essenciais uns aos outros.”

Venho transcrevendo mensagens recebidas do meu amigo Tuck, vai para mais de vinte anos, que me faziam refletir: Por que carregar tanta coisa?

Eu prescindira de propriedade, mas era um milionário de amigos, de seres humanos extraordinários, que me serviam de guias e me ajudaram a suportar a dureza dos dias de tempos sombrios em que, a par as estórias de pássaros, deparava com notícias como esta:

“Nesta segunda-feira, uma mulher abriu fogo, numa escola em Nashville. Há registo de vítimas mortais, todas elas crianças.”

A polícia acabou por matar a atiradora. Era uma jovem mulher, ex-aluna dessa escola, uma escola cristã e de iniciativa privada. 

Um manifesto encontrado na casa dela indicava que outros locais seriam possíveis alvos, disse a polícia.

Há vinte anos, as escolas ainda produziam desumanos bonsais e escassos “mochileiros”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXVII)

Praia Grande, 28 de março de 2043

O amigo Tuck era um esperançoso entre esperançosos. E, no mês de março de há vinte anos, anunciava “uma série de novidades vindo aí”

A primeira delas era o livro “Urutagwa”, do nosso amigo cacique Ubiratan. O lançamento iria ter lugar em Peruíbe (São Paulo), no dia 14 de abril de 2023. Lamentei não poder participar presencialmente. Nesse dia, estava a ajudar educadores, muito longe de Peruíbe. Mas recomendei a todo mundo que fosse celebrar, prestigiar o encontro.

Quem pudesse participar no evento, iria conviver com seres humanos extraordinários. O Tuck estaria por lá. Escutêmo-lo:

“Anos atrás, eu conheci o Ubiratã em um trabalho que fizemos com outro grande amigo, o José Pacheco, que acabou também participando neste projeto, junto de mais gente boa. O audiolivro era um desejo do amigo, desde a concepção. E, graças a Tatá, também, conseguimos um trabalho do qual gostamos do resultado. 

“Urutagwa” conta a lenda tupi de um guerreiro que virou pássaro, no caso, o Urutau ou Mãe-da-lua, como conhecemos. Quando aceitei o convite do Ubiratã algo inusitado ocorreu… Naquela semana encontrei um Urutau pela primeira vez em Atibaia… Pousado numa placa de trânsito atrás da igreja matriz. Tá lá registrado no @avesatibaia.

Que o livro, realizado com apoio do PROAC, voe para mais e mais pessoas e que siga encantando, seja através das ilustrações da Léa, da voz da Tatá, das letras do Ubiratã ou dos sons aos quais pude dar asas. Fica o convite para o lançamento e, também, para conhecerem, comprarem, lerem e ouvirem.

Houve um tempo em que eu me achava estranho por conversar com árvores. Mas, não estava sozinho nessa comunicação com outros reinos da Natureza. O amigo Tuck me sossegou, quando me disse:

“É coisa de gente estranha, como já me falaram, ficar olhando para árvore. E quem liga para povo indígena?”

O Tuck dos pássaros e das árvores, também se preocupava com os humanos: 

“Há quem ainda diga que não se pode usar o termo nazista. Como não? Só porque não são judeus indo em trens para campo de concentração? Aqui, nem daria para esses bonsais humanos fazerem isso, porque nem malha ferroviária temos. Nosso negócio aqui é trator, caminhão, balsa carregando toras e mais toras. É carabina, incendiário e garimpo ilegal. É produtor fazendo fortuna exportando alimento enquanto o preço aqui sobe por falta. 

Aqui, o genocídio e o crime contra o planeta usa a própria natureza, para cortar gastos com matança. Aqui é COVID, fogo e mercúrio em rio, ambos muito mais baratos do que enriquecimento de urânio, cianeto e agente laranja. 

Para os povos indígenas eu nem digo que este é o fim do mundo, porque para eles o fim começou há 520 anos. É lento. Doloroso. 

Como diz o Krenak, é uma das guerras mais duradouras que se tem notícia na Humanidade. Talvez a terceira. E o interessante é que, em primeiro lugar, estaria a Reconquista dos povos Ibéricos contra os árabes, algo próximo de sete séculos.

Queria ser otimista, pensar que, em 200 anos, os povos indígenas retomem esse território. Pelo menos, salvariam o planeta. E ainda tenho mais um presente para vos dar.

Num encontro com mais de trinta jovens, rolaram muitas frases: 

“O Brasil não são as coisas. A escola não é democrática. Na minha, os professores não ligam se aprendemos ou não, pois o salário cairá de qualquer jeito. Minha liberdade começa onde termina, ou é quando começa a do outro? Não existe nenhuma pessoa que se resolva sozinha, eu preciso de um monte de gente pra comer um simples pão.” 

Chorão, em minha mente ressoava na voz da Elza Soares. 

“Tudo está dito, falta a aposta.”

Tamo junto, galera!”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXVI)

Atibaia, 27 de março de 2043

Netos queridos, o meu amigo Tuck merece ser lembrado, embora esta cartinha peque por tardia. Há muito tempo deveria trazê-lo para o nosso convívio epistolar. Para me redimir, o recordarei, quando ele ainda se encontrava no início de um projeto de vida profissional, elaborando o seu “currículo da subjetividade”, como ele chamava à sua obra ímpar, extraordinária.

Comecemos com a celebração do encontro que as redes sociais, nesse tempo, consentiam. A humildade do meu amigo – como é bom chamar-lhe amigo, volvidos mais de vinte anos – o obrigava a começar por dizer “obrigado”: 

“Obrigado Zé! A cada semana, vou presenteá-lo com um novo amigo que voa livre por aqui. 

 Tuiuiú não veio a toa hoje. Para quem está chegando agora e não faz a mínima ideia do por que estou postando foto de um pássaro seguido de um número, é isso mesmo, desde a quarentena tenho iniciado um currículo subjetivo próprio sobre as aves que por aqui passam perto de casa e arredores. 

Essa é a 53ª (de 90), mas porque não esperei ter um registro em foto como o das outras espécies todas que fotografei? 

Primeiro porque acho que não terei tão breve, segundo porque ela traz um recado urgente que não pode esperar. 

Tuiuiú veio voando e chorando nos avisar: 

“Precisamos de ajuda! O que estamos vendo é a pior coisa que já vimos. Vimos muita morte e nada nos diz que não iremos morrer também. Nos ajudem, por favor!” 

Pois é amigos, sei que os compromissos com os jogos de futebol, telenovelas, stories do Instagram, vídeos de reptilianos, canais bolsonaristas e séries da Netflix são importantes. Mesmo que eles nem mencionem o que está ocorrendo no Pantanal, bioma cujo pássaro símbolo é este que vos visita hoje. 

O Brasil está em chamas, e por aqui o que ecoa na TV é a comoção com os incêndios na Califórnia (um deles, gigantesco, originado porque algum cretino soltou fogos para anunciar o sexo do bebê no meio de uma floresta seca). Mas por aqui, a empatia se foi. Quem tem ligado para pássaro? 

Enquanto a gente continuar achando que a Amazônia é assunto para quem está lá e que o Pantanal é assunto de quem lá está, e que a Mata Atlântica e o Cerrado são assuntos para quem está aqui, vamos continuar acelerando o fim do mundo para os Tuiuiús, Jacarés, Onças, Tatus… 

O Tuiuiú, ave de pescoço longo, papo vermelho e que voa como uma cegonha, não trouxe seu filhote pendurado no bico. Trouxe uma notícia de que provavelmente não tenhamos duzentos anos pela frente, nenhuma previsão matemática aponta para um cenário harmonioso quanto a isso, muito pelo contrário, será fogo e ranger de dentes. 

Mas não se irritem, Tuiuiú traz uma mensagem, também, a de que o bolsonarismo é uma ideia descartável e vil, mas de que os bolsonaristas, não. São pessoas e sem eles não tem salvação para ninguém. Para o bem ou para mal, isso se chama interdependência e é por não nos vermos nela, que tudo está queimando.” 

Era bem caraterístico do meu amigo Tuck esse seu chamado ao exercício de uma incondicional compaixão, de ir muito além de perdoar, de uma prática educacional humanizadora, integradora, transcendente, ao alcance de qualquer um, desde que qualquer um se compreendesse, se perdoasse de erros e omissões, e se transcendesse. 

Netos queridos, as mensagens do amigo Tuck transportavam-me ao tempo do vosso nascimento, quando partia de personificações, para falar de pássaros e comentar a vida dos seres humanos:

Estávamos num tempo de há muito tempo, num tempo em que as aves falavam à semelhança dos humanos seres, sem saber se as pontes de entendimento iriam do mundo dos pássaros para o dos homens, se deste para o dos pássaros. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXV)

Tatuí, 26 de março de 2043

Sempre fui muito avesso a citações e raramente a elas recorria. Hoje, abrirei uma exceção. Para que não digais que sou “rabugento”, desta vez, os “rabugentos” serão o Pierre Bordieu e o Erhard Friedberg.

Disse o Pierre que “ensinar não é uma atividade como as outras. Poucas profissões serão causa de riscos tão graves como os que os maus professores fazem correr aos alunos que lhe são confiados. Poucas profissões supõem tantas virtudes, generosidade, dedicação e, acima de tudo, talvez entusiasmo e desinteresse. 

Só uma política inspirada pela preocupação de atrair e de promover os melhores, esses homens e mulheres de qualidade que todos os sistemas de educação sempre celebraram, poderá fazer do ofício de educar a juventude o que ele deveria ser: o primeiro de todos os ofícios.”

Em 2043, eu escrevo inspirado naquilo que o Pierre escrevia, há sessenta anos. Apenas lhe acrescento pedaços de chão da escola. Nada de novo, portanto. Tal e qual como, há cerca de cinquenta anos, o Erhard também escrevia:

“A racionalidade limitada própria de toda a ação humana infunde tudo, tanto os comportamentos humanos no dia a dia, como os dispositivos materiais, as regras, os procedimentos e as estruturas que, supostamente, os canalizam, os «racionalizam», os regulam e os articulam para objetivos coletivos. 

Uns e outros sofrem do mesmo mal: uma vez que são produto da ação humana, não podem ter pretensões a uma racionalidade superior aos comportamentos que os geraram. 

A sua racionalidade, portanto, é também irredutivelmente limitada, ou seja, é o produto de uma mistura complexa de afetividade, de rotinas apreendidas e interiorizadas por socialização, de considerações morais e éticas, e de estratégias e cálculos instrumentais. 

Depois, um «défice» de interdependência. Este resulta por um lado da omnipresença de elos frágeis nas organizações. Na sua tentativa de proteger ou aumentar a sua autonomia e a sua capacidade de ação, todos os participantes de uma organização procuram, naturalmente, limitar, por todos os meios, a sua dependência em relação aos outros, «desligando» tanto quanto possível a sua função ou a sua tarefa da dos outros.

As normas, valores e registos de justificação não bastam para estruturar completamente os comportamentos e as interações dos participantes. Nunca se está na presença de medidas/regras/estruturas que tiram a sua legitimidade unicamente de considerações técnicas: misturam-se sempre considerações de oportunidade «política», no sentido da gestão das relações de poder e de acomodamento dos compromissos necessários entre lógicas de ação e registos de justificação.”

Como vedes, há vinte, quarenta, setenta anos, a teoria tudo explicava. O teoricismo – doença infantil das ciências da educação – até apontava caminhos de prática. Como era fácil (em teoria) construir uma comunidade! 

Em comparação com a escrita elaborada desses e de outros autores, eu era um bruto da escrita. Por ter traduzido na prática aquilo que eles teoricamente conceberam e explicaram, fui um incômodo. A vida de professor de chão de escola me fez assim e a tantos outros que, imersos numa prática explicada pelos teóricos, mereceram a sina de quem ousou cometer o pecado de uma práxis coerente. 

Netos queridos, o teoricismo foi um dos grandes obstáculos à mudança. E foram muitos os companheiros de jornada que suportaram a incompreensão e a arrogância de teoricistas. Dizeis que o vosso avô é “rabugento”? Então, juntai-me a uma lista de “rabugentos”, que construíram comunidades e reconstruíram a Educação.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXIV)

Nova Concórdia, 25 de março de 2043

Netos queridos, quando dizeis que este velho rabugento deveria deixar de apontar a podridão do “sistema” e falar-vos de algo mais agradável, tendes razão. É certo que deveria fazê-lo, e de bom grado o faria, não fora a tralha que habita no fundo do baú das velharias. Nesta manhã, quando tentava pôr a funcionar uma velha pen drive, deparei com mais um dos motivos de ser rabugento, incômodo. 

A “coisa” passou-se em São Paulo, mas havia réplicas em outros lugares. Havia escolas ditas “de elite” que não aceitavam “repetentes”. Muitos colégios ditos “de prestígio” negavam a entrada de repetentes e atribuíam a negativa à “falta de vagas”, ou ao “nível de exigência da escola”.

Nas escolas ditas de “elite” o “prestígio” e a “exigência” não passavam de propaganda enganosa de “elites”, que se atreviam a ferir a Constituição, que ousavam cometer ilegalidades, quase sempre impunes, por via da corrupção generalizada do “sistema”.

Quando uma mãe pretendeu matricular a sua filha num dos colégios mais tradicionais de São Paulo, descobriu que sua filha não poderia estudar lá, que esse colégio não matriculava alunos que tivessem reprovado em outros colégios, mesmo a família tendo condições de pagar os mais de 2.000 reais de mensalidade. 

“Eu achei aquilo inacreditável, uma discriminação”, disse a mãe da criança. Ela não sabia que a ilegalidade cometida pelo colégio poderia virar uma benção. Talvez em outra escola a filha ficasse ao abrigo de uma miserável “educação de elite”. Talvez se livrasse dos malefícios da educação castradora praticada em colégios de “alto nível de exigência”.

O modelo escolar imposto pelo Estado à Escola deteriorara tão profundamente o sistema de relações, que deparei com algo inimaginável. Encontrei uma escola com duas salas de professores Uma delas acolhia professores efetivos (os “concursados” brasileiros); na outra, os professores “agregados”, do “quadro de zona”, os “substitutos”. 

Queridos netos, sei que acreditareis no que escrevo, porque é o vosso avô que o escreve. Era inacreditável, inaceitável que discriminações acontecessem e que ministérios autistas legitimassem castas e privilégios. 

Como vedes, muitas razões havia para o vosso avô ser incômodo. 

Não estava sozinho. Mesmo tendo consciência da inutilidade da denúncia, denunciava. E recebia mensagens de solidariedade de amigos, que constituíam uma espécie de reserva moral. Eram uma minoria, mas existiam…

“Talvez para que seja assegurada a pretensa formação de uma elite pensante, uma casta de gentes que, mesmo quando alinhadas a discursos progressistas, humanistas reproduzem inadvertidamente a ideia de que a esfera superior do ensino não é para todos, ao menos as realmente superiores em qualidade, as melhores universidades públicas e seus cobiçados melhores cursos, acessados via uma peneira de tela muito fina chamada ENEM e sua necessária muito boa pontuação para um sujeito concorrer a uma vaga de elite.” 

O exemplo vinha de cima. Quem convivesse com altos funcionários dos ministérios compreenderia a manutenção de absurdos, assegurados por “doutores em educação” (nunca consegui saber de que “educação“ se tratava), que exibiam “socio construtivismos” na ponta da língua  e nas mãos a sujidade do “sistema”.  Até já se diziam apologistas do paradigma da comunicação e de inovadoras transições paradigmáticas, quando as suas práticas radicavam num paradigma nascido no século XVIII. 

Se, hoje, ainda restam vestígios de castas da velha escola, dizei-me se não tenho direito de ser um velho rabugento.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXIII)

Toledo, 24 de março de 2043

O amigo Artur trocou o outono de trinta e nove pela primavera tropical e veio visitar-nos. Por essa altura, desalentado, duvidando da possibilidade de, no seu país, concretizar um sonho, há décadas, acalentado. O Artur pedia-nos “asilo pedagógico”.

“Poderei ficar convosco? Lá, em Portugal, continua quase tudo igual. Rima e é verdade…”

“Quase tudo igual é exagero, amigo Artur. Sei de grandes mudanças acontecendo por lá.”

“Sim. É verdade. Mas nada que se compare ao que vós conseguistes fazer.”  

“Não compares. Tenta perceber por que “continua quase tudo igual”. Repara: Nos idos de vinte emancipaste-te do trabalho em sala de aula. Dispensaste a turma, a prova e outros artefatos instrucionistas. Libertaste-te do espartilho de regulamentos impostos e construíste a tua autonomia. Porém, permaneceste sozinho. 

Houve um tempo em que também agi como um solitário, quixotescamente, quebrando lanças. Até que me vi incluído numa equipe.”

“Sim. Recordo-me de um encontro, em que falaste de uma equipe. Creio que se chamava de “educação humanizada”. Foi em Braga, talvez por mil novecentos e vinte e três. Estava lá, nessa altura. Lembro-me de teres falado com o Secretário de Estado, o António Leite, e teres marcado encontro no ministério. Mas nada mudou.”

“Enganas-te. Muita coisa aconteceu. Agindo em equipe, encontrando vias de diálogo com a administração, foi possível fazer, em dois anos, aquilo que, por décadas, não logramos fazer.”  

“Pois! Mas…”

Questionei o cepticismo do Artur, dando-lhe a ler mensagens recentes, vindas de… Portugal. Netos queridos, consciente da quase inutilidade da escrita, houve um tempo em que quase desisti de escrever. Mas chegavam à caixinha do correio eletrônico animadoras mensagens:

“Bom dia, professor José Pacheco! Estive atenta ao que os disse no passado sábado. E já está a acontecer! Vamos abrir a nossa Comunidade de Aprendizagem, vamos continuar a superar todas as dificuldades, desafios, obstáculos.

Espero que em breve possamos receber a sua visita. A única forma que tenho de retribuir toda a sua dedicação, é dar o meu pequeno contributo na construção desta pequena comunidade.

Um grande abraço da Rosana.”

No interior mais interior de Portugal, a Rosana resistia. Em ambas as margens do Atlântico, se resistia. E, se ainda havia quem resistisse, retomei o ato de escrever como singelo ato de resistência, para dar voz a quem fazia a sua parte. 

Anos antes, no Brasil de vinte e três, defendendo o novo, ou defendendo o velho, apelando à revogação do novo com aparência de novo, ou pretendendo manter um novo realmente velho, professores e sociedade não conseguiam perceber que Ensino Médio não era coisa manter, ou para revogar – era mais uma obsolescência a extinguir.

Entre esse e outros modos de nos distrairmos do essencial. Entre a arrogância dos áulicos e a funcionarização dos professores, decorriam jogos florais pedagógicos destinados a desviar a atenção da necessidade de mudar, de inovar, de conceber uma nova construção social, que substituísse a obsoleta construção social concebida na Prússia Militar.

Conheci o Artur, na década de oitenta, quando visitou a Ponte. Por essa altura, a par de artigos, que mostravam a inovação “Escola da Ponte”, participei na feitura de um livrinho com o título “Avaliar a Avaliação”. Talvez o Perrenoud o tivesse lido… Vinte anos depois, ele escreveu: 

“Inovar significa atribuir um status ao luto, verbalizá-Io, trabalhá-lo, declarar as resistências legítimas, mais que apelar somente à consciência profissional dos professores.”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXII)

Rio das Ostras, 23 de março de 2043

Mesmo exercendo o seu múnus profissional num tempo em que não tiveram que competir com máquinas inteligentes, os mestres dadores de aula não ficaram imunes à necessidade de transformação da educação. 

Compreendi que se decepcionavam com a falta de interesse de muitos alunos, que, inertes, prenunciavam o surgimento de uma crise de relações humanas, o anúncio da falência de um determinado modelo de sociedade e de escola.

Isto escreveu um dos insignes mestres:

“Ao longo desses anos todos, enfrentei muitas vezes a apatia dos alunos. Sempre há uma meia dúzia que faz a diferença, que faz o curso valer a pena. Mas a maioria sempre foi, acho que sempre é, mais ou menos apática. Eu me esforço para dar uma aula muito concentrada e, em geral, me irrito com qualquer comportamento dispersivo dos alunos. Como lido com a apatia na sala de aula? Esse é um grande problema. Ouço o que meus ex-alunos, agora professores, me dizem. Me ponho na pele deles e fico pensando: meu Deus, acho que sofreria demais. Porque mudou muito, os alunos mudaram muito. Não quero nem dizer que sejam piores, não é isso. É outra geração, é outro tipo de gente. Mas, pensando naqueles meus alunos antigos, que eram apáticos – e eram apáticos por quê? Você precisa de técnicas de como despertar a atenção deles. É difícil, viu?

Na “Arte da Aula”, essas interrogações eram em menor quantidade do que os excertos que refletiam satisfação, realização profissional, num tempo em que mais de metade dos docentes não se sentia profissionalmente realizada, não se sentia valorizada e que apontava causas do desgaste como “turmas com elevado número de alunos, comportamento indisciplinado e desmotivação, falta de apoio”:

“Eu não tinha ideia de quanto o tempo da minha juventude já podia ser ignorado pelos jovens de hoje. Dá impressão que você está continuamente fora do assunto, que não vai chegar lá, pois a distância cultural é muito grande e não há um discurso suficientemente formulado sobre esse fosso. Não sei o que faria hoje se tivesse que voltar a dar aula na universidade. Tenho a impressão de que os alunos não me respeitariam nem um pouco. Eles têm uma linguagem que, provavelmente, eu teria dificuldade de acompanhar. Há uma diferença de geração muito grande. 

Já nesse tempo, a OMS reconhecia a profissão de professor como uma das de maior risco. E a OCDE promovia inúteis cimeiras sobre o “bem-estar dos professores”. O que se discutia nesses encontros era a manutenção de um profundo mal-estar. Um secretário-geral afirmou:

Não se deve perder a oportunidade de colocar o bem-estar dos professores no centro das políticas de todos os países e que o bem-estar dos professores terá de ser percebido como “um tema político de primordial importância” (sic)

Para a “Arte da Aula”, redigi um prefácio a que dei o título de “O Canto do Cisne”. A leitura dessa obra permitiu-me compreender o drama dos mestres dadores de aula e identificar a raiz do “bournout”. Estavam fora do seu tempo, agiam a descompasso daquilo que escreviam, das palestras que proferiam. E o faziam ancorados naquilo para que tinham sido industriados. 

Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem havia consagrado o princípio de que todo o ser humano tinha direito à Educação. A educação passou a ser um bem comum e não apenas para as crianças e os jovens. 

Um dos princípios explícitos na Declaração era o de que “a instrução superior deveria ser acessível a todos, universal e gratuita”. Então, por que razão (oculta) os acadêmicos instrucionistas decidiram que a “instrução superior” não fosse acessível a todos?  

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXI)

Cabo Frio, 22 de março de 2043

Queridos neto, sabeis que, há cerca de setenta anos, me emancipei do lecionar solitário em sala de aula e me fiz solidário. Também vos recordares de vos ter dito que, quando tentei ser solidário na universidade, deparei com uma cultura feita de solidão de… sala de aula.

Professores universitários diziam ser escolanovistas, construtivistas, até pós-construtivistas, mas praticavam o instrucionismo mais primitivo que se possa imaginar. Alguns havia que enfeitavam o discurso com as falas do Freinet, promoviam encontros, apoiavam (teoricamente) professores militantes, mas a sua prática era a solitária docência. 

Fiquei decepcionado com aquilo a que assisti nas instituições por onde passei, e recusei todos os convites para ser professor do ensino “superior”. Isso me causou um enorme prejuízo pecuniário pois, exercendo a profissão no ensino “inferior”, mesmo sendo mestre, auferia o salário de um bacharel ou licenciado. Mas, essa opção me isentou de renegar princípios.

Mais tarde, já aposentado, fiz amizade com universitários, que eu admirava. Mas, algo impedia que essa amizade fosse fecunda. Quando eu os convidava para debater transição paradigmática, mudança, inovação, fechavam-se numa concha feita de arrogância e elogios mútuos, ou manifestavam incômodo.  

Um desses professores, que tinha dedicado ao vosso avô a sua tese de doutoramento, verbalizou esse sentimento, no decurso de uma conversa virtual:

“Zé, não dediquei a minha tese aos meus pais, dediquei-a a ti. Mas, agora, tu és um incômodo para mim.”

Eu virara um incômodo. Tinha cometido um pesado pedagógico, tinha posto em prática aquilo que os acadêmicos apenas punham nos seus livros.

Há uns vinte anos, numa rede social, houve quem reagisse a uma das perguntas que eu repetia, por não receber resposta: “Por que existe sala de aula?”

Esperaria dos acadêmicos uma resposta fundamentada, mas a reação foi jocosa e com laivos de soberba. Valeu, nessa ocasião, a intervenção do Mestre Pedro e um comentário, que achei no fundo do baú das velharias e que vos dou a ler.

Observo que vários doutores com quem convivi defendem novos, novíssimos paradigmas em suas áreas, mas permanecem apegados às velhas fórmulas de antanho, não só na hora de ensinar, mas principalmente na hora de viver, que é a maior amostra das nossas convicções, das nossas crenças vitais. 

Suas aulas de vida são arcaicas. Andam pela vida como quem acompanha enterro, cantando ladainhas repetidas. Jeito de viver e de ensinar viram quase uma coisa só, uma massa amorfa, sem gosto, brilho, boniteza… Só obrigação, só prazos cumpridos, quase só o esperado. Pouca ou nenhuma transgressão, mesmo quando o que pregam em suas teses e artigos são transgressões e cheiram a vanguarda.”

Eu não quis ser tão radical, cruel, como o autor dessas justas palavras. E, quando me foi dado elaborar um prefácio de um livro, que celebrava mestres universitários que ainda “davam aula”, aceitei o desafio. Fi-lo com um sentimento misto: de compaixão e gratidão.

Me considerei um privilegiado por me ter sido dar a ler depoimentos de mestres da arte de “dar aula”. Eram exercícios de uma escrita sensível, reflexos de uma tomada de consciência do destino da escola e da necessidade de humanização do ato de ensinar. 

Falavam-nos do ofício de professor universitário e das marcas que esse exercício imprimiu nas vidas destes professores e nas dos seus alunos. Sobretudo, demonstravam uma verdade nem sempre evidente: havia professores que não usavam a pedagogia como mera ciência, mas como a arte de ensinar a viver.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXX)

Ilha do Governador, 21 de março de 2043

Netos queridos, o texto que encima esta cartinha é da autoria do mestre Morin. E, se me perguntastes por que me refiro a mestres, quando esses mestres fizeram um doutoramento, em verdade vos digo que doutor qualquer ser humano pode ser, mas mestres só alguns.

Mestre é quem possui grande saber e saber fazer, que é perito ou versado em qualquer ciência ou arte. Doutor é qualquer indivíduo que completou o doutorado; quem possui o mais elevado grau acadêmico. 

Piaget dizia que a Educação é a única área das ciências humanas em que todo o mundo se considera competente para dar opinião. Mas, se um doutor em Direito opinava sobre modos de educar, os mestres em ciências da educação poderiam dirimir um pleito em tribunal? Se um doutorado em Medicina se atrevesse a dar opinião sobre as coisas da educação, um mestre em educação poderia fazer operações cirúrgicas?

A fama da Escola da Ponte correu mundo. E começou a atrair famílias de vastas posses. Um doutor em não sei o quê – nunca soube, só sei que o tratavam por “Senhor Doutor” – transferiu o seu filho de uma escola particular para a Ponte.

Pelo Quim da Pita Borrada, vim a saber que esse “doutor em educação” “dava aula na universidade”. 

Nos encontros de sábado à tarde, quando reuníamos as famílias dos nossos alunos, para conversar sobre os projetos de vida dos seus filhos, o doutor não perdia uma oportunidade de nos interpelar e sempre a despropósito.

Certo dia, quando tentava explicar aos pais dos nossos alunos que os seus filhos poderiam aprender de modo diferente do tradicional “bê a, ba”, que poderiam aprender a ler sem ser a partir da letra, o “Senhor Doutor” deitou faladura:

“Isso pode lá ser! Como todos sabemos, todos aprendemos a ler soletrando, partindo da letra para construir palavras. Sempre foi assim!”

“Há outros modos de alfabetizar, a partir da palavra e até da frase.” – respondi.

“Desculpe, mas considero falsa essa afirmação.” – Doutro dixit.

O Tónio Maduro, analfabeto, corroborou a fala do “Senhor Doutor”:

“O Professor Zé que me perdoe, mas eu acho que o Senhor Doutor tem toda a razão.”

Respirei fundo e esclareci.

“Senhor António, diga-me, por favor qual foi a primeira palavra que o seu filho disse”

“Foi “papai”. Fiquei tão contente, Professor Zé!”

“E a segunda?”

“Foi “mu”. Ainda me lembro.”

“Ele viu uma vaca?”

“Foi!”

“E a terceira palavra?”

“Ele viu passar um carro e disse “mu”. Inté pensei que o meu filho fosse bobinho.”

“Nada disso, amigo António! O seu filho é muito inteligente. Repare! 

Ele viu uma vaca, que é um objeto longitudinal com quatro pontos de contato com a terra (as patas) e que emite um som: “mu”. Um carro também é um objeto longitudinal com quatro pontos de contato com a terra (os pneus). 

Quando o carro fez “pópó”, o seu filho subdividiu o “mu” em “um” e “pópó”. Compreendeu?”

“Num sei o que é isso de longi… e o sub… qualquer coisa, mas acho que entendi.” 

Eu fazia uso de conhecimentos de psicologia da cognição, da hierarquização de conceitos, sem disso fazer alarde, explicando em linguagem de gente.

O Tónio Maduro aquiesceu. Mas, despeitado, o Senhor Doutor insistiu:

“É evidente que se aprende juntando letras e não como você diz!”

Ignorei a provocação e perguntei ao Tónio:

“Ó Senhor António, quando o seu filho disse “papai”, o senhor disse-lhe que não era assim que se falava? Mandou-o repetir: “um pê e um a… pa”, um pê e um ai… pai” e, depois, juntar as duas sílabas e dizer “papai”?

“Claro que não!” – respondeu o douto Tónio Maduro, que não tinha feito doutorado – “Não sei o que quer dizer essa coisa das silvas, mas acho que o Professor Zé está certo.”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXIX)

Jaconé, 20 de março de 2043

Netos queridos, há exatos vinte anos, o vosso avô partia para a CONANE de Brasília e o Mestre Pedro partia (virtualmente) de Brasília ia para terras do sul, para partilhar sabedoria. 

Eu admirava o Mestre Pedro porque ele só discutia assuntos sérios. Sabiamente, ficava alheio a querelas estéreis sobre novos ensinos velhos. Sabia da inutilidade do debate, tinha consciência de que o Ensino Médio era uma das manifestações da praga instrucionista, era mais uma aberração do sistema de ensinagem. 

Não resisto a recuperar uma estória, há muito tempo contada, para que possais avaliar da qualidade do Ensino Médio que, então, se fazia.

Sempre gostei de estudar. Frequentei a universidade em licenciaturas como a de Línguas e Literaturas, Antropologia, Arqueologia e até Relações Internacionais. No acesso a um dos cursos, calhou de ter de fazer uma disciplina das chamadas humanísticas. Escolhi Filosofia e me matriculei numa escola de Ensino Médio. 

Tal como a maioria dos professores do Ensino Médio, a docente da disciplina não sabia que ser filósofo era uma coisa, ser professor de filosofia era outra coisa. Com a maioria dos seus colegas, ignorava que ser licenciado ou doutorado em Filosofia não era condição bastante para se ser professor de Filosofia, não sabia ser professora – ela “dava aula.

À entrada para a primeira aula, um jovem avisou-me:

“Eu sei que o senhor trabalha numa escola diferente. Mas, aqui, não pode falar, nem interromper a aula”.

Fiz, exatamente, o contrário da recomendação. Ainda a aula ia no início e já eu erguia o braço, pedindo a palavra. Esperei, esperei, até que a professora, jocosamente, me dirigiu a palavra:

“Diga! Quer ir lá fora, é? Quer ir ao quarto de banho?”

“Não, minha senhora” – respondi – “Quero que a senhora me explique o que quis dizer com a expressão…”

Interrompeu-me a fala. E disse:

“Fique sabendo que, aqui, é bico fechado. Nunca mais me interrompa a aula! Ouviu?”

Face à gargalhada geral, urdi “vingança”. Acabada a aula, fui à Biblioteca e à Sala dos Professores. Já adulto, creio que os professores, que por lá estavam, supuseram que eu fosse um colega e permitiram que consultasse a programação das aulas da professora de Filosofia. Em casa, anotei num papel algumas frases do Ortega & Gasset, que seria o assunto da aula do dia seguinte. E voltei a erguer o braço…

“Outra vez? Eu não lhe disse que não gosto de ser interrompida?”

“Eu sei, minha senhora, mas só queria fazer um comentário a algo que a senhora disse”.

“Um comentário?! – gargalhou – “Diga lá! Deve ser alguma besteira…”

Estrábico que sou, com o olho direito olhando a professora e o esquerdo fixado num papel, li uma das frases do Ortega & Gasset. A reação não se fez esperar. Ainda não havia concluído a leitura, fui interrompido:

“O que você disse é uma grande besteira. Mais valia estar calado!”

“Não fui eu quem disse a frase. Foi Ortega e Gasset. Está no livro didático” – repliquei – “A senhora acha que o filósofo dizia besteiras?”

O que, a seguir, aconteceu talvez vos conte em próxima cartinha. Mas já vos digo que não foi edificante.

Por ora, vos direi que também havia quem, por impotência, desistisse do árduo trabalho do Fundamental e do Médio e se isolasse em torres de marfim universitárias. 

Instalados no “superior”, produziam e vendiam livros, onde teorizavam teorias de teóricos que teorizavam teorias. Os seus inflados egos se exibiam em palestras, nas quais aconselhavam os seus ex-colegas do “Inferior” a fazer o que eles próprios não sabiam como fazer. 

Também a esses impotentes pedagógicos, eu perguntava: 

Por que existe ensino médio?

 

Por: José Pacheco

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