Porto, 4 de setembro de 2043
Aquele foi o setembro de todas as inquietações e de todas as mutações. Como vos disse, o descontentamento deu o lugar à determinação. E, mais uma vez, vos falo pela voz de quem agiu, de quem fez.
Um sentimento misto de saudade e orgulho me invade, quando remexo o fundo do baú das velharias e me reencontro com restos de palavras trocadas no velhinho WhatsApp. No setembro de vinte e três, recebia da Joana notícia de ter criado um site:
PORTUGAL | Rede Aprendizagem (formacaopacheco.wixsite.com)
Nele, começava a localizar projetos com potencial inovador. Logo a Maria inquiria:
“Joana já falaste com o Manuel na outra página do Telegram das turmas piloto? Ele, o Luís e o João vão arrancar com esse trabalho, em setembro. Sempre me surpreendeu lutarmos aparentemente sozinhos quando, na realidade, há tanta gente a lutar a nosso lado.”
Da Dora chegava esta mensagem:
“Bom dia! Para quem não conhece, que espreite este texto do Professor Zé:
“Os projetos humanos contemporâneos não se coadunam com as práticas escolares que ainda temos, carecem de um novo sistema ético e de uma matriz axiológica clara, baseada no saber cuidar e conviver. Requerem que abandonemos estereótipos e preconceitos. Exigem que se transforme uma escola obsoleta numa escola que a todos e a cada qual dê oportunidades de ser e de aprender.
Se a modernidade tende a remeter-nos para uma ética individualista, nunca será demais falar de convivência e diálogo, enquanto condições de aprendizagem. Será oportuno falar de novas construções sociais. A partir do que somos, do que sabemos e do que sabemos fazer, urge afirmar a possibilidade de conceber “comunidades de aprendizagem”. Urge inovar. Mas… o que é inovação?
Urge humanizar a educação, conceber novas construções sociais de aprendizagem, nas quais, efetivamente, se concretize uma educação integral. Urge constituir redes de aprendizagem, que promovam desenvolvimento humano sustentável. A educação acontece na convivência, de maneira recíproca entre os que convivem, desde que se concretize a transição de práticas fundadas no paradigma da instrução para práticas fundadas no paradigma da aprendizagem e da comunicação.”
Palavras soltas, palavras vivas circulavam em redes sociais feitas de autores das práticas dessas palavras. Como dizia a Maria – “Muitas vezes, explicamo-nos mal. Complicamos o que é simples” – e apelava ao re-ligare das intenções:
“Embora exagerando, olho para todas as investidas deste modo: os montessorianos não aceitam os waldorfs; os do movimento da escola moderna acham-se sempre na frente; os forest school imbicam com quem não tem quintal; os de um agrupamento fazem x e os de outro agrupamento fazem y…
Assim, perdemos todos. Não é de todo claro que somos iguais na diferença? Deveríamos ser mais humildes e operacionais, mais diversos, mais sérios, fazer o que dizemos, e fazer acontecer o que queremos. É possível!
Os grupos são muitos e desorganizados. Torna-se cansativo. E os progressos são lentos. Mas, creio que é assim que se fazem os caminhos. Respirar fundo, ter calma, conseguir explicar muito claramente o que se pretende e como se faz, aguentar a barricada e nunca baixar os braços.
Um abraço enorme para todos, estou ao vosso e nosso serviço para o que for preciso. E descansai um pouco, antes da histeria do início do ano. Os miúdos merecem-nos fortes e flexíveis.
SOMOS MUITOS! Não esquecer!”
Bem verdade, minha amiga! O pântano educacional se agitava com uma enxurrada de águas livres. Chegava o tempo prometido do ressurgir de um instinto de verdade honesto e puro.
Por: José Pacheco