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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXXIV)

São Cristóvão, 23 de junho de 2043 

Vai para uns vinte anos, um senhor chamado Jorge dizia que, com a inteligência artificial fazendo aquilo que era codificável, genérico, nós iríamos ter “um desemprego brutal e muitos novos empregos”. E foi isso que, em parte, aconteceu, em meados da década de vinte – o desempregado não tinha condições de assumir os novos empregos.

Quando a Escola preparava para o mundo do trabalho, a que trabalho se referiria? Ao dos empregos existentes no início dos anos vinte? Há vinte anos, os futurólogos afirmavam que, no final dessa década, oitenta por cento dos empregos de então já não existiriam. Hoje, são raros.

O Mestre Agostinho escrevera:

“O homem não nasce para trabalhar, nasce para criar, para ser o tal poeta à solta.”

Quando, no chão da escola, eu perguntava a uma criança o que ela desejava aprender ou queria ser (não “quando fosse grande”!), a resposta era, invariavelmente, esta:

“Eu posso dizer?”

Destituída do dom de perguntar, a criança perguntava se poderia perguntar. Perdera o direito à pergunta, fora privada de curiosidade, proibida de sonhar. Pois já tinha ouvido muitas respostas a perguntas que não fizera. 

De novo, Agostinho esclarecia:

“O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade.”

A velha e obsoleta construção social de educação – o sistema de ensino – perpetuava-se, servida por funcionários dependentes de hierarquias autoritárias. Mas, nos anos que se seguiram, se a inteligência artificial fazia aquilo que era codificável, genérico, já havia robôs substituindo o dador de aula. O robô dava aula, não fazia greve, nem reclamava “condições de trabalho”.

O “sistema” tinha alcançado a sua fase do absurdo. E o Vasco da Maria era uma das vítimas dessa crítica fase. 

Dado que já nada mais havia a fazer para amenizar o drama, quando já todos os paliativos tinham sido aplicados, desesperadas e desesperadoras sessões de “desenvolvimento de inteligência emocional” eram vendidas às escolas. A Internet era fértil em “pérolas” deste jaez:

“Facilito formação a professores. E há um conjunto de questões que me fazem frequentemente. Uma dessas questões que mais me fazem é: Quais são os materiais essenciais para aplicar as estratégias que permitem ter uma sala de aula mais calma?”

Isto de “acalmar” miúdos tem muito que se lhe diga… Mas, há esperança minha gente!!! Existem algumas práticas que com pouco esforço e aplicadas com regularidade ou mesmo na rotina da tua sala, podem fazer uma GRANDE diferença. CLICA “5 Materiais Essenciais para ter uma sala de aula calma”. Vai lá ver tudinho. Estratégias para criares alguns materiais em versão caseira. Vá lá, são 3 minutos de leitura que te vão trazer calma, serenidade e tirar algumas dores de cabeça. Estás à espera de quê?”

É evidente que essa citação não merece comentário. Mas, crede que a Internet estava enxameada destes e de outros disparates-paliativos instrucionistas. E havia quem os comprasse, nomeadamente, educadores ministérios e adjacências.

A inteligência artificial não iria substituir o ser humano, mas exigia uma revisão, pedia a reinvenção e não apenas uma reforma da educação. Era isso que o Jorge reclamava:

“Nós temos que desencadear no mundo um projeto de educação para ontem. E os políticos não estão vendo isso, não estão falando disso.”

Pois não! Tinham andado a falar de uma mítica “Educação do Futuro”, de um futuro de que eu ouvia falar desde há mais de meio século e que tardava em chegar. 

Sem passado nem futuro, no junho de vinte e três, uma nova construção social de educação se fez presente.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXXIII)

Lavre, 22 de junho de 2043

Saramago viveu em Lavre, no concelho de Montemor-o-Novo, durante o tempo em que escreveu a obra “Levantados do Chão”, relatando a vida de um povo sofrido, num período compreendido entre o final do século XIX e até ao último quartel do século XX. 

Nesse tempo, como diria o Almada, todos os tratados que visavam salvar o mundo já estavam escritos, só faltava salvar o mundo. Quando decidi ser professor, todos os tratados que visavam salvar a Educação já estavam escritos, só faltava salvar a Educação. Muitos “manifestos” foram publicados, milhares de inúteis congressos foram realizados, inúmeras inúteis formações concretizadas, ao longo de mais de um século. Generosas intenções, redentoras teorias, excelentes projetos se perderam nos meandros de um pérfido sistema de ensinagem. 

Faz hoje vinte anos, duas Cristinas e uma Caetana preparavam um encontro, que marcaria para sempre (e apesar de sofridos retrocessos) o rumo da Educação que se fez nas décadas de vinte e de trinta. Os projetos educativos desse tempo eram quase cópias uns dos outros, sem correspondência prática.  Mas, o diretor João assumira algumas propostas de prática, que seriam levadas “à letra”, nos anos que se seguiram ao encontro do junho de vinte e três. 

O enunciado de princípios era claro: 

“Prestar um serviço educativo de qualidade num ambiente democrático de equidade e de inclusão, numa lógica de interdisciplinaridade, rompendo, de forma gradual, com a lógica da segmentação disciplinar;

abandonar o paradigma da educação transmissiva e fomentar práticas ativas e aprendizagens significativas, como meio de promover e valorizar a aprendizagem, a participação, o esforço e o saber de cada um e o bem-estar de comunidade educativa;

ultrapassar os muros da sala de aula e abrir a aprendizagem a diferentes espaços, formando cidadãos autónomos, responsáveis, participativos, solidários e com espírito crítico;

conceber uma escola em que todos participam de forma ativa.”

Lestes bem! “Abandonar o paradigma da educação transmissiva”, “ultrapassar os muros da sala de aula”, intenções que levaríamos às últimas consequências. E… 

“Proporcionar um serviço educativo de qualidade mobilizando os meios de que o Agrupamento dispõe, para que todos aprendam e participem ativamente na vida da comunidade educativa, numa lógica de Agrupamento moderno e atualizado, dinâmico e inovador, capaz de favorecer ambientes e contextos educativos e formativos, facilitadores de aprendizagens em cooperação e articulação com a comunidade, incentivando a formação de cidadãos livres, autónomos, responsáveis, conscientes de si e do mundo que os rodeia, criativos, interventivos e empreendedores, capazes enfrentar os desafios de uma sociedade globalizante.”

“Aprendizagens em cooperação e articulação com a comunidade (…) uma escola dinâmica, inovadora, no contexto local e regional, sob uma identidade própria e aceite pela comunidade” (sic), uma aprendizagem no exercício pleno de cidadania. 

Se uma escola não mudava como um todo, que mudasse quem tomasse a decisão ética de mudar. Se havia diretores-ditadores que impediam mudanças, também havia diretores democráticos, como o de Montemor-o-Novo, que criavam condições para tal. 

No cartaz de anúncio do encontro de 29 de junho estavam escritas as palavras “Educação, Inovação, Ética”. Seriam evidentes no projeto escrito e numa prática coerente. Em Montemor, como em outros lugares onde a ética prevalecia e a inovação realmente acontecia, o tempo do faz-de-conta-que-fazemos terminava.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXXII)

Montemor-o-Novo, 21 de junho de 2043

Prestes a viver o dia mais longo do ano no Freixo do Meio, fui almoçar com o amigo Alfredo e aprender com a Glorinha, que só havia conhecido ainda no ventre da sua mãe. 

Conversamos sobre o incontornável Agostinho. Pedi-lhe um livro emprestado, um saboroso livro (“Vida Conversável”), sobre o qual penso falar-vos em próxima cartinha. Inevitavelmente, discorremos sobre o futuro de Foros e do Freixo, do futuro presente das nossas crianças, das dificuldades encontradas e das possibilidades de projetar.

A crise da Escola prolongava-se sem fim à vista. Passara mais de um século sobre o primeiro sinal de alerta, dado no início do século XX pelos escolanovistas. Eurípedes, Anísio, Nise, Nilde, Agostinho, Irene, Freire e outros egrégios educadores reinterpretaram o movimento escolanovista, mas somente na década de sessenta ele tomou forma concreta. 

Paulo Freire assim se dirigia ao seu bom amigo Malaguzzi:

“O menino eterno pede-me, antes de eu retornar ao Brasil, que escreva algumas palavras dedicadas às meninas e aos meninos italianos. 

Não sei se saberia dizer algo novo a tal pedido. O que poderia dizer ainda aos meninos e às meninas deste final de século? Primeira coisa, aquilo que posso dizer em função de minha longa experiência neste mundo, é que devemos fazê-lo sempre mais bonito.

É baseando-me em minha experiência que torno a dizer: não deixemos morrer a voz dos meninos e das meninas que estão crescendo.” 

Dez anos depois de Reggio, a Ponte colocou o aluno no centro do processo de aprendizagem. e no mesmo ano (1976), Georges Bastin publicava o seu livro “A hecatombe escolar”. O prefácio assim rezava: 

“Este livro destina-se a pais ansiosos com as dificuldades que os seus filhos sentem, aos educadores que procuram uma explicação para a mediocridade dos seus alunos e para as suas próprias desilusões e a todos aqueles que se inquietam com as hecatombes escolares e que se interrogam acerca do futuro da juventude e da rentabilidade do sistema escolar. O autor analisa os diferentes fatores de sucesso e insucesso atribuíveis à organização dos estudos.

Constatando o enorme desperdício de esforços e de meios que representa para a sociedade a taxa crescente de inadaptações e de insucessos, o autor conclui pela necessidade urgente de uma tomada de consciência mais objetiva dos elementos de inadaptação, de uma colaboração mais estreita entre pais e pedagogos, de uma união dos esforços de todos os especialistas (médicos, psicólogos, sociólogos) em ordem a uma visão pluralista dos casos reputados difíceis.”

Entretanto, Mounier dissertara sobre a personalização do ensino e Dottrens sobre ensino individualizado. Bordieu e Giroux denunciavam a escola reprodutora de um modelo escolar e social iníquo. 

Escolas particulares tinham assimilado na exterioridade a proposta escolanovista, mantendo o status quo enfeitado de materiais Montessori, com hortinhas, aulas de meditação e arremedos digitais. E a rede pública nem isso assumia fazer. Os professores permaneciam distraídos, na solidão das salas de aula, reproduzindo um modelo de ensinagem hierárquico, autoritário, excludente, amoral e intelectualmente corrupto. Sob o manto diáfano de um agressivo marketing, recorrendo à mistificação, a administração tentava disfarçar a sua incapacidade de recriar a escola. 

A hecatombe educacional era um desastre “naturalizado”, não era um desastre natural, era um fenômeno produzido pela ação de seres humanos. E eram seres humanos que, no Alto Alentejo, abriam um “Caminho do Futuro”… no presente.

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXXI)

Foros de Vale Figueira 20 de junho de 2043

Netos queridos, 

Perdoai que vos fale de eventos tristes, lamentáveis, ocorridos há vinte anos. Faço-o, porque, ainda hoje, existe a tendência para matar memórias do tempo da proto-história da humanidade.

Remexi, mais uma vez, em velharias. E achei tristes notícias colhidas na Internet. No mês de junho de vinte e três, regressavam os ataques a escolas: 

Ataque em escola no Paraná: conheça a história de amor dos jovens que foram vítimas de atirador. Karoline e Luan eram namorados e frequentavam a igreja juntos. Em suas redes sociais, Luan se declarou à namorada: 

“É impossível pensar na felicidade, sem lembrar do teu sorriso. É impossível pensar num paraíso, sem lembrar dos teus abraços. É impossível pensar no amor, sem lembrar de você.”

O atirador, ex-aluno dessa escola, fez 12 disparos, após pedir o histórico escolar. A jovem não resistiu aos ferimentos e morreu no local do crime.” 

Nesse tempo, muitos brasileiros migraram para Portugal, em busca de segurança. Mas, não se pense que a outra margem do Atlântico estava imune à vaga de assassinatos.

“Apontado como o sexto país mais seguro do mundo, o país foi sacudido pelo assassinato de duas mães pelas próprias filhas.

No sábado, 9 de junho, depois de mais uma cobrança de Maria para que a filha entrasse nos eixos, Suzana partiu para cima da mãe e desferiu uma série de facadas na mulher que havia feito de tudo para lhe dar uma boa educação.

Depois de matá-la, saiu de casa como se nada estivesse acontecido.

A vida de Isaltina Gomes, 92 anos, também não estava fácil nos últimos tempos. Com a saúde debilitada, demandava cada vez mais atenção da filha, Luísa Madeira, 67 anos. De família de classe média alta de Coimbra, as duas sempre demonstraram manter uma boa relação.

No sábado, 17 de junho, Luísa atacou a mãe com uma pedrada na cabeça. Depois do crime, tirou a própria vida. Vizinhos se mostraram surpresos com o acontecido.” 

Filha matando a mãe, mãe matando o filho, e Kiev atingida por forte ataque de drones russos.

Os projetos (os escritos!) das escolas estavam repletos de referências a “educação socioemocional, cidadania, educação para a paz…”, mas era a Ponte que acolhia aqueles que outras escolas rejeitavam. Chegavam “desmotivados”, “violentdos”… violentados.

Chegaram dois jovens, que as escolas da região diziam não saber como ensinar.

O mais velho agredia-se com auto-mutilação. O seu corpo era todo uma cicatriz.

Não demorou a procurar um objeto cortante. Dirigiu-se à cozinha, mas não conseguiu pegar a faca, que viu em cima da banca. A “comissão de ajuda” estava atenta.

Sempre que algum “aluno difícil” (como os designavam) aportava àquela espécie de hospital das almas, um grupo de alunos se voluntarizava para constitutir uma “comissão de ajuda”. Era o valor solidariedade posto em ação…

Irritdo, por não poder cortar-se, foi até ao banheiro e urinou no cesto do lixo.

No dia seguinte, havia reunião de assembleia. Lá estava o novo aluno, rodeado pelos colegas da “comissão”, olhando à sua volta, sem saber o que se passava. Era a primeira vez que participava da assembleia. 

O Pedro foi o primeiro a pedir a palavra. E disse:

Amigos, nesta semana,um de nós urinou no cesto do lixo.

O novo aluno sobresssaltou-se. Iriam acusá-lo? Castigá-lo? Todo mundo sabia ter sido ele o autor da façanha. Olhou à sua volta. Ninguém olhou para ele. E o Pedro continuou:

Quem pode ajudar um de nós a não voltar a fazer isso?

Toda assembleia ergueu o braço. O novo aluno, também. Compreendeu que ninguém o iria acusar, ou punir. Estavam ali para o ajudar. Ele era “um de nós”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXX)

Herdade do Freixo do Meio, 19 de junho de 2043

Prestes a deixar a Europa dita “comunitária”, precisava saber a quem deixar a incumbência de criar verdadeiras comunidades. Entre abril e junho, tinha visitado mais de vinte “agrupamentos de escolas”, havia reunido com mais de mil educadores, pernoitado em mais de quarenta lugares, o corpo se queixava das muitas viagens… e o meu amigo Alfredo me acolheu na “Casa da Professora” do Freixo do Meio.

Depois do forte abraço do amigo Alfredo e da visita ao Bifanas, recebi a visita de famílias ávidas de notícias e desejosas de ação. Quis saber que comunidades pretendiam criar e porquê, partindo do convite ao encontro recebido de um “triplo C” de respeito: as mães Cristina, Caetana e Cristina. 

Quando pensava poder descansar de mais de dois meses de intensos afazeres, o entusiasmo daquelas mães me deu novo ânimo. Em três intensos dias, ajudei a preparar um encontro, que viria a realizar-se no 29 de junho (no fundo do baú das velharias, encontrei o cartaz que junto a esta cartinha).   

Eis como se apresentava o “convite”:

“Esta pequena experiência pretende ser um espaço de partilha entre famílias, tutores e comunidade em geral, para vivenciar a “gestação” de uma ou várias comunidades de aprendizagem. 

Procuraremos o nosso próprio modelo (cada um de nós), aquele que se adapta ao grupo que representamos. Uma comunidade de aprendizagem é como um ser vivo em constante evolução. Contamos com a sua presença e, mais do que tudo, pretendemos criar laços e potenciar compromissos entre todos. 

Modelos que envolvem afetos são desafiadores e implicam contacto humano próximo e sincero, garante de continuidade. Teremos três dias para semear esses vínculos. 

Com famílias que estejam interessadas em fazer parte de uma comunidade de aprendizagem, professores motivados para fazer diferente, membros da comunidade com intenções de partilha de saberes, com mentes inquietas, que buscam respostas e formas de fazer diferentes, para alcançar resultados diferentes. 

O convite continha um endereço (perfeitaconsciencia@gmail.com) e estabelecia o valor de participação: Gratuito. 

Acrescentava uma lista de “Materiais a levar: 

Computador e/ou tablet, folhas brancas, lápis e/ou marcadores, jogos de tabuleiro, livros infantis, mantas para sentar no chão, cola de papel, fita-cola, cartolina de cor, chapéu, garrafa de água. 

Pode haver alterações com base no desenvolvimento da atividade, nada do que aqui se propõe é definitivo, serve apenas de orientação.

As crianças estarão com os tutores e os adultos reunir-se-ão com os moderadores que os acompanham. Algumas destas horas serão passadas em interação entre os grupos pois aí reside uma das riquezas de uma comunidade de aprendizagem. A estrutura de horário apenas define os momentos de início e fim, bem como das refeições, que serão sempre conjuntas.”

Amorosidade, disponibilidade, coragem, espírito comunitário, autenticidade, gestão da imprevisibilidade, criatividade: sociocracia plena. Como diria o Manel, “Calma! Não é o fim do mundo, é apenas o princípio.”

O encontro do Freixo do Meio era o princípio do fim da robotização do ato de aprender. A ensinagem recuava. Educadores conscientes e professores éticos tomavam nas suas mãos o futuro das gerações futuras, num movimento irreversível.  

O italiano Galileu afirmara: “E pur si muove”. E o Leonard canadiano já dissera haver “a crack in everything”, that’s how the light gets in.”

E dito no português que no Alentejo se falava, tirando o i do lete e juntando-o ao cafei: “Anda lá, que n’a morres de coice de boi.”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXIX)

Caldas da Rainha, 18 de junho de 2043

Quase de partida para o Sul, não deixei de visitar o meu bom amigo João, um ser humano incansável na procura da escola que os seus filhos mereciam. Tal como a Alice que, nesse mesmo dia de há vinte anos, via a sua filha a querer fugir de monótonas e inúteis páginas de “trabalhos de casa” (deixo-vos uma amostra no cimo desta cartinha).

Foi, também, nesse mês de junho que, quando já quase nada esperava de caminhos novos, uma Alma gentil me mostrou novos caminhos. Com ela os percorro, desde há vinte anos. Ela me aponta o voltar à vida com “olhos de inícios”, como aqueles que o Rubem me emprestara. Juntos, semeamos comunidades e preparamos a escola da Analu.

Pedaços de jornal, que achei no fundo do baú das velharias dava-nos conta das conclusões de um estudo, dava a conhecer uma trágica situação: nunca tantos instrumentos de comunicação havíamos tido e nunca tão solitário estava o ser humano.

Um em cada quatro brasileiros não se sentia próximo de alguém. Um levantamento com participantes com idades compreendidas entre os 18 a 77 anos, mostrava que a qualidade da rede de relacionamentos dos brasileiros era baixa e que a insatisfação nas interações sociais prevalecia.

Também mostrava que situações presenciais faziam as pessoas mais felizes, favorecendo a construção de uma rede mais ampla de relacionamento que as virtuais. Um quarto da população tinha a sua rede social empobrecida e não se sentia próxima de alguém. 

Um neurocientista afirmou que o resultado não o surpreendera, mas que fora mais intenso do que o esperado:

“A baixa conectividade interpessoal dos brasileiros e o desconforto no trato com estranhos contrastam com a visão que formamos dos barzinhos lotados, mas não se engane: poucos circulam fora de suas bolhas”.

O “olho no olho” nos permitia ser mais felizes nos relacionamentos: 

“A migração das relações pessoais para o ambiente digital não contribui para a formação de laços interpessoais satisfatórios e de longo prazo.”

Talvez o Brasil fosse o país com a maior taxa de ansiedade do mundo. Isso gerava uma espécie de normalidade psicopatológica, caracterizada por baixa confiança interpessoal. Apenas 5% das pessoas confiavam em desconhecidos no país, era o menor índice da América Latina e um dos menores do mundo.

Nas escolas, a solidão do professor era da mesma natureza da solidão do aluno. Uma Alma preocupada com os grandes e pequenos dramas, que na escola encontrava, tentava transformar uma cultura feita de solidão numa cultura assente na solidariedade. 

A modernidade remetera-nos para uma ética individualista. Carecíamos de projetos humanos com referência a um novo sistema ético, uma matriz axiológica clara baseada no saber cuidar e conviver. Dizia-nos Maturana que a educação acontece na convivência, de maneira recíproca entre os que convivem. E Winnicott definia o ser humano como pessoa em relação, ser singular, que não pode existir sem a presença do outro

Educar consistia em assumir responsabilidade social, solidarizar-se eticamente. Marcados pela incompletude, geneticamente sociais e geneticamente históricos, urgia criar vínculos. A arte de conviver (viver com) exigia uma atitude de abertura, o reconhecimento do outro e o respeito pela pessoa do outro. Mas onde se poderá aprender essa arte? Na Escola? Na Família? Na televisão? Na internet? 

A sensível e incansável Alma me fazia lembrar palavras escritas para a Alice:

Do recanto mais íntimo de um lugar onde os homens supunham não haver lugar para a bondade e o bem-estar de todos, assomavam suaves gestos de solidariedade.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXVIII)

Cantanhede, 17 de junho de 2043

Diferentes foram os destinos daqueles que procuravam resguardar os seus filhos dos malefícios de um velho sistema de ensinagem. A Tânia e o Nuno cuidaram de criar um começo de comunidade adequado à educação da Violeta e do Vicente. Mas, o mesmo a Sandra não conseguiu. Os seus filhos fizeram-na mudar de cidade, em busca de uma escola que deles devidamente cuidasse. Perdida a fé nas escolas ditas “públicas”, optou pela matrícula num colégio privado. 

Nada decorreu como esperava, pois a filha integrava o rol de crianças com dislexia.

“Senti-me muito perdida.” 

Socorreu-se de terapeutas, psicólogos e de “explicações”, até colocar os filhos em “ensino doméstico”. E acabou coproprietária de um… “Centro de Explicações”. 

Em 2018, Paulo chegou do Brasil, em busca de inovação e comunidade. Queria   conhecer a Escola da Ponte e, pelo caminho, descobriu a Comunidade Educativa das Cerejeiras, no concelho de Penela. Aí assentou arraiais. 

Outros havia que visitavam a Ponte, participavam de imersões formativas na Escola Aberta mas, depois, voltavam ao rame-rame. E havia aqueles que, ao primeiro sinal de perigo, se encolhiam, para não perder o emprego. 

Partíamos com a parte saudável do sistema. Encontrávamos diretores éticos e com eles organizávamos turmas-piloto e círculos de aprendizagem. Quando deparávamos com pequenos tiranetes, que tentavam proibir mudança, perguntávamos-lhes por que a dificultavam – que impedimentos haveria? 

“A lei não permite.” 

“Qual lei?” – perguntávamos. Não respondiam. E logo surgia a imposição.

“Não concordo com esse método. Não autorizo!”

Explicávamos-lhes que não se tratava de um “método”. Mas as múmias pedagógicas diziam não entender, recusavam explicações. Se insistíamos, essas lideranças tóxicas intentavam a fagocitose dos proponentes, ou remetiam a proposta para os “conselhos pedagógicos”, sabendo que a maioria desses órgãos nada tinham de pedagógico e eram contrários a qualquer tipo de mudança.

“Se pensarmos bem, a maioria dos meninos que “desiste” da escola é porque não se sentiu lá bem, não sentiu pertença. Depois instala-se o desinteresse, a revolta, e é claro que não pode funcionar” – comentava a minha amiga Andreia – “O que sentimos é que as famílias estão muito receptivas. Toda a gente se diz sozinha e depois o mais fácil é apontar o dedo. O que temos que fazer é uma aliança entre todos, tendo em conta que é preciso respeitarmo-nos uns aos outros, deixar que os professores, diretores de turma e de agrupamento despertem para a necessidade de mudarmos uma escola que funciona como no tempo da revolução industrial do século XIX”

De ano para ano, sempre que eu viajava para Portugal, via surgir mais “centros de explicações”, via o homeschooling ganhar mais adeptos, os professores mais adoecidos, mais famílias descontentes, jovens intelectual e emocionalmente mais abandonados. A Escola da Modernidade contava mais de duzentos anos de semear ignorância, analfabetismo, múltiplas violências e escassas aprendizagens. A mercantilização da Escola Pública progredia.

Quando estava prestes a regressar a terras brasileiras, vivíamos um momento propício à mudança de rumo, nunca tivéramos tão boas condições para realizar transformações. Um trio magnífico – uma Cristina, uma Caetana e outra Cristina – preparava um encontro em Montemor e no Freixo do Meio. 

Eu voltaria à “Casa da Professora”, gentilmente cedida pelo amigo Alfredo. E, no dia 29 de junho, foi dado o primeiro passo de um longo processo de mudança, que se estendeu pelas décadas de vinte e de trinta.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXVII)

São Pedro da Cova, 16 de junho de 2043

Escreveu o Mestre Anísio que “se o nosso interesse é pela vida, aprender significa adquirir um novo modo de agir. Por isso, só se aprende o que se pratica, seja uma ideia, seja uma atitude, ou mesmo um controle emocional. Mas não basta praticar”. 

Para que vivessem experiências reais da vida, educadores da década de vinte, vezes sem conta, me solicitaram o “modo”. Quando a pergunta “Como fazer?” surgia, eu respondia:

“Leva-me para a tua sala de aula. Lá, encontraremos um ou mais modos de fazer.”

Entretanto, enviava algum “material” ensaiado cinco décadas antes, na Escola da Ponte. Começava pela organização do trabalho escolar (espero que não seja fastidioso aquilo que escreverei nesta e na cartinha de amanhã).

Os núcleos eram a primeira instância de organização do trabalho de educandos e educadores da Ponte, correspondendo a unidades coerentes de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal e social. 

Nos núcleos, sujeitos de aprendizagem envolviam-se em tarefas e desafios, para resolver problemas, satisfazer necessidades, desejos e sonhos. Em processo, lidavam com questões interdisciplinares, tomando decisões e agindo em equipe. 

Através da metodologia de trabalho de projeto, eram trabalhadas habilidades de pensamento crítico e criativo, bem como a percepção de que existiam várias maneiras para a realização de uma tarefa. 

Nesse sentido, a definição do currículo revestia-se de um caráter dinâmico e carecia de uma permanente ação reflexiva por parte da equipe de educadores, de modo a que fosse possível a disponibilização de recursos e materiais, para aquisição de saberes e desenvolvimento de competências essenciais. 

Não havia lugar a “retenção”, ou “recuperação”. A mudança de núcleo estava atrelada à aprendizagem de atitudes, em função de um perfil terminal. E acontecia, se o educando aceitava transitar de núcleo, da avaliação feita pelo seu tutor e por aquiescência da família.

A transição de núcleo acontecia quando a criança revelava, além de maturidade nas atitudes, competências de auto planejamento e avaliação, de pesquisa e de trabalho em pequeno e grande grupo, o cumprimento dos acordos. 

Aos primeiros planos elaborados pelos professores, sucediam-se esboços de roteiros de estudo, que cada aluno ia aperfeiçoando, até atingir a capacidade de prever uma gestão equilibrada dos tempos e de espaços de aprendizagem. 

Nos círculos de aprendizagem havia dois núcleos: Iniciação e Desenvolvimento.

Na Iniciação, o estudante começava o seu processo de aquisição de autonomia e adquiria competências e habilidades psicomotoras, de educação socioafetiva e de alfabetização linguística e lógico-matemática. Para tal, os espaços de aprendizagem contemplavam o atendimento individualizado, equipamentos para pesquisa, além de áreas comuns de convivência. 

Ao ingressar nesse núcleo, os estudantes ainda não conseguiam atuar sem intervenção alheia, nem fazer seu próprio planejamento de estudos. Ao longo desse estágio, o estudante aprenderia a planificar, a responsabilizar-se e a tomar iniciativas adequadas a diferentes situações, a analisar de maneira crítica as informações de que necessitava para desenvolver os seus projetos. Aprendia a fundamentar as suas decisões e a resolver conflitos. A identificar problemas e interesses, a avaliar e a comunicar as suas ideias e descobertas (evidências de aprendizagem), a debater e a criar acordos de convivência, a recolher criticamente informações, a utilizar devidamente tecnologias de informação e comunicação.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXVI)

Vila Nova de Anha, 15 de junho de 2043

E lá voltei ao fundo do baú das velharias. Papéis e mais papéis, montanhas de cd, uma caneta enferrujada, uma velha pen drive, reminiscências dos idos de vinte:

“Fui seu aluno da Escola Superior de Educação. lembra-se?”

Volta e meia, escutava essa pergunta e a memória se avivava. Eram antigos alunos. Nos idos de noventa, eu havia proposto aos jovens candidatos a professor a descrição da “escola dos seus sonhos”. E eles não tinham deixado de sonhar.

Conhecera-os aos vinte e os reencontrava aos cinquenta, decididos a concretizar sonhos de juventude. Tinham resistido à tentação do fácil e da acomodação.   

Aquele périplo português me dizia que valera a pena gastar meia vida num longo caminhar. Dos Açores chegava a voz da Conceição: 

“Olá, querido Zé, tens ajudado o teu corpo com algum descanso? 

Ontem, no Conselho da CANR, estivemos a partilhar o impacto que as conversas contigo tiveram em cada um de nós. Emocionei-me até às lágrimas com a riqueza das partilhas. Conclusão: tu tocaste profundamente cada um. Tu inspiraste, tu fortaleceste, fizeste com que continuemos a sonhar que um dia teremos a escola dos nossos sonhos. 

Mais uma vez, agradeço-te do fundo do coração o teu tempo precioso passado conosco. Bem hajas, meu Amigo de sempre. Sente o meu abraço quentinho de afetos e muita Gratidão.”

Do Brasil, a voz da Jaqueline:

“Querido Mestre e amigo, sua fala de ontem me emocionou

Esses temas de outras narrativas de nossa cultura me provocaram “pensar” com os sons.  Pelo que ele provoca. Ninguém tem como diminuir nossa Potência. Nossa alegria. Nosso desejo de continuarmos na coragem de brincar!!! 

Sejamos corajosos prof.”

Seria eu quem deveria manifestar gratidão profunda a quem fora sensível aos meus apelos de amorosidade e coragem. Nesse tempo, eu encontrara uma Alma sensível, que me ensinou a calma da espera finda. Finalmente, a “escola dos sonhos”! 

Valerá a pena voltar à notícia publicada no Diário de Notícias de junho de 23, fazer a memória de um tempo de profundas transformações:

“Entretanto, na Moita da Roda, o envolvimento com a comunidade ganhou espaço, através da Associação Pró-Futuro da Escola da Moita da Roda e dos Conqueiros. É lá também que andam os filhos de Micael Amado, um ex-militar, agora dedicado às áreas do desenvolvimento pessoal. 

“O que acontece ali é único”, diz ao DN, referindo-se ao projeto pedagógico.

A escola “tradicional” não lhe fazia sentido. Nem a ele, nem a centenas – ou milhares – de pais. Foi essa certeza, de resto, e uma busca constante por alternativas que fizeram Andreia Ribeiro chegar ao trabalho do professor José Pacheco. A partir da Batalha (onde mora) tem mobilizado outros pais para esta mudança, que espera ver ocorrer no âmbito da Escola Pública. 

O grupo promoveu, entretanto, uma tertúlia, no final de abril, e em maio convidou José Pacheco para uma série de encontros nas escolas e autarquias da região.

“A nossa batalha é por uma escola pública que integre todos. Estou convicta de que este tipo de ensino vai ajudar muito mais aqueles que estão à margem e evitar que abandonem a escola”, afirma ao DN Carla Marcos, mãe de dois alunos da escola pública, com diferentes idades, e que por isso sublinha a importância de estender estes projetos ao 2.º e 3.º ciclos. O grupo está empenhado em começar essa mudança, já no próximo ano letivo.”

O modelo estatal de ensino confessava a sua inutilidade, tentava impor novas restrições, enquanto ativistas da educação, como a minha amiga e lutadora incansável Andreia, sabiam que seria inadmissível adiar uma mudança há muito tempo anunciada. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXV)

Vila Nova de Gaia, 14 de junho de 2043

Na tarde do Dia de Santo António, a Daniela e a Tatiana me levaram ao encontro com pais e professores empenhados em melhorar a educação dos seus filhos e alunos. O Fernando e outros brasileiros ali presentes não precisaram de “colocar o santo de ponta cabeça”, para que o “milagre” acontecesse. Estava acontecendo. E a notícia publicada no DN, disso dava nota:

“Pais procuram escolas onde os filhos possam “aprender e crescer de outra forma”.

Foram os filhos que, sem saber, juntaram um grupo de mães e pais que cresce todos os dias, com o objetivo de criar uma Comunidade de Aprendizagem em Leiria, no seio da Escola Pública. 

Por esta altura aproximam-se de 700 os membros de um grupo no Facebook, parte de um movimento que nasceu há alguns meses, de olhos postos no exemplo do Agrupamento Rainha Santa Isabel, que nem sequer fica perto da cidade, embora integre o concelho de Leiria. 

A mudança aconteceu no início deste ano letivo, liderada pela diretora, Adélia Lopes, que decidiu implementar um projeto-piloto em três escolas básicas, nas aldeias de Lameira, Ortigosa e Moita da Roda, inspirado no modelo da Escola da Ponte, em Santo Tirso, criado pelo professor José Pacheco, no final dos anos 70.

Todos os dias, Isa Morouço percorre mais de meia centena de quilómetros para que a filha possa frequentar a Escola Básica da Moita da Roda. Mora na Maceira, mais perto da cidade, mas dispõe-se a fazer o caminho sabendo que, naquela aldeia, há uma escola onde as crianças têm “a oportunidade de aprender e crescer de outra forma”.

Adélia Lopes explica como tem sido um desafio abraçar este projeto, que está pronta para replicar noutras escolas e níveis de ensino. Encontrou no grupo de professores do [seu] agrupamento a receptividade e entusiasmo necessários, e, aos sábados, todos integram a formação, à distância.”

Aos sábados, professores se reuniam e pais se encontravam, virtualmente. Presencialmente, a Isa encontrara a escola da Moita, a educação desejada para a sua filha. Mas não precisaria de se deslocar cinquenta quilómetros. Poderia ir à escola pública mais próxima e solicitar o projeto educativo. Certamente, ficaria encantada com o conteúdo desse documento. 

Restaria verificar se o projeto escrito era coerente com a prática. Se o fosse (o que, a bem da verdade, raramente acontecia) matricularia a sua filha nessa escola. nela, um professor que ainda não tivesse morrido (profissionalmente, ainda os havia) cuidaria bem da sua filha e de filhos de outros pais. 

Se a Adélia e outros excelentes diretores de agrupamento de escolas instalavam círculos geradores de protótipos de comunidade no seu território, a Ponte poderia, igualmente, instalar um círculo de aprendizagem no território onde o projeto tivera origem: na Vila das Aves. 

Foi o que tentei explicar, na minha visita à escola onde gastara quase toda a minha vida de professor. Tentei explicar à Anita e à Geni aquilo que seria o retomar de um processo de inovação, que tivera início há meio século.

No périplo de vinte e três, muitas escolas aderiram à ideia de criar uma nova construção social. Não faria sentido que a minha escola o não fizesse. Saí da Ponte com a sensação de não ter explicado o que queria explicar. Fiquei na expectativa da aceitação do meu convite. a criação de um círculo de aprendizagem. 

Em vinte e três, após duas décadas de desgaste do projeto, seria necessário retomar um diálogo franco com as famílias e com uma sociedade enferma da “Síndrome da Gabriela” (eu sou assim, fui sempre assim, serei sempre assim…), explicando-lhes que nem sempre foi assim. 

 

Por: José Pacheco

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